2013/08/14

O meu querido mês de Agosto

Nada como a tradição em Portugal, um valor que se mantém firme, apesar de tudo.
Entre todas as tradições, as da “silly season” são especiais, ou não fossem sempre tão previsíveis e, por isso, aguardadas com emoção o ano inteiro.
Comecemos pelos “fogos”, esse ritual pagão que anualmente é celebrado de norte a sul do pais, com milhares de fogueiras a arder, numa celebração digna do solstício escandinavo. E não só os “fogos” que, mal apagados numa serra, logo reacendem noutra. Também as estações televisivas, representadas nos locais de acção por jornalistas “todo-o-terreno” que, vestidas a rigor e desgrenhadas que baste, vão repetindo as  perguntas que outro efeito não têm do que responder ao desejo mórbido das redacções, insistindo na receita do “choque e pavor”, sem a qual parece não haver notícias para dar. Sim, é verdade, o vento mudou, o que deu origem à morte de mais um bombeiro, mas, se as pessoas limpassem as matas, nada disto acontecia, porque meios há suficientes...
Depois, as praias. Sempre notáveis, as acções pedagógicas sazonais da protecção solar e do perigo da derrocada das falésias, que ninguém respeita, como ninguém respeita a cor das bandeiras, razão pela qual o número de mortes, dentro e fora de água nas praias portuguesas, atinje níveis impensáveis em qualquer outro pais europeu. Para que nem tudo seja previsível, as praias algarvias introduziram, este ano, algumas novidades: uma praga de mosquitos que dura há mais de um mês em Armação de Pêra (recorde de duração absoluto!) e uma descarga de esgotos “à maneira”, na praia de Quarteira, que impediu os veraneantes de irem ao banho durante dias. Entrevistado por mais uma repórter de cabelos ao vento e pés desnudos (que a maré estava a subir), um babado avô, com a neta ao colo, respondia: “eu não queria ir à água, mas sabe como são as crianças”...  
Há ainda os festivais do marisco. e da sardinha. São tantos como as localidades costeiras e estão sempre cheios, porque isto da crise é para todos, mas dias não são dias e sobra sempre dinheiro para a santola...
Finalmente, a chegada dos emigrantes e das suas festas e idas a Fátima. Uma fila deles. devotos e de joelhos no chão, para pagar a promessa, como manda a tradição. Isto, durante o dia. À noite, haverá bailarico ao som do Tony Carreira da vila e mais umas bojecas, que a vida são dois dias e daqui a duas semanas têm de regressar a Paris.
A temporada futebolística ainda não começou, mas os programas televisivos são diários e duram horas. Porque não há jogos a sério para comentar, comentam-se os jogos a feijões e as contratações para a nova época. Este ano é que é: com “plantéis” que custam milhões só podemos ganhar. Alguém deve ganhar alguma coisa, porque isto não dá para todos.
Espertos, mas igualmente previsíveis, são os nossos governantes. Conhecedores das fraquezas dos portugueses, aproveitam a “silly season” para anunciar as medidas mais tontas. Esta, por exemplo: todas as reformas acima dos 600 euros vão ser penalizadas em 10%, menos as dos deputados, políticos aposentados e funcionários da Caixa Geral de Depósitos. É ou não genial?
Considero-me rendido: a tradição ainda é o que era...

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