Sem surpresa, o governo anunciou em Bruxelas a saída "limpa" do programa de austeridade, a que Portugal esteve submetido nos últimos três anos. Uma operação mediática, que começara na véspera diante das câmaras de televisão em "prime-time" e que terminou ontem, com alguma "pompa e circunstância", apoiada pelas declarações dos inefáveis Durão Barroso e Jeroen Dijsselbloem, personagens tutelares do programa de "salvação" imposto a Portugal. Já anteriormente, a Troika tinha-se (auto)congratulado pelos resultados obtidos (todos "bons", a avaliar pelos balancetes publicados trimestralmente nos jornais de referência) pelo que não havia surpresas nestas conclusões. Estivéssemos nós em Hollywood e não faltaria o "happy end" dos filmes "cor-de-rosa" a que nos habituaram no passado. "All well that ends well", como diria Shakespeare, para continuar na língua do dramaturgo maior. Do que nos queixamos nós, afinal, perguntava ontem um desiludido deputado da maioria parlamentar? De facto, após tantos sacrifícios, não se compreende que os cidadãos deste país não estejam agradecidos a quem, em seu nome, pediu "ajuda" aos sempre beneméritos organismos bancários que nos "protegem".
Acontece que esta era uma produção "manhosa", arquitectada e produzida por estagiários medíocres de um país há muito desacreditado nas praças financeiras internacionais. Ora, como sabemos, da era dos omnipresentes "mercados" e das agências de notação, contam muito pouco as intenções e conta muito o peso real da economia. Tivéssemos nós a importância de Espanha ou Itália e outro "galo cantaria". Mas, não temos, e agora é tarde.
Para já, os principais indicadores são, salvo raras excepções (fim da recessão e aumento de exportações) todos negativos. O "déficit" continua acima dos 4%; a dívida pública aumentou para 130%; o desemprego é o terceiro maior da zona Euro (15% da população activa e 35% entre os jovens); mais de 350 000 desempregados, sem qualquer espécie de subsídio; mais 200 000 emigrantes nos últimos dois anos; cortes brutais nos ordenados e pensões de reforma; 20% da população a viver abaixo do limiar da pobreza; 25% de crianças sub-alimentadas; mais de 3000 "sem-abrigo" nas principais cidades do país; dezenas de milhares de empresas falidas e a consequente perda do poder de compra de famílias inteiras, que ficaram sem casa e outros bens pessoais confiscados pelo fisco; aumento dos Bancos Alimentares em todo o país; menos e piores serviços públicos, como escolas, hospitais, polícia e lojas do cidadão, e.o.
Enfim, a lista é longa e visível a olho nu. Porque, no meio deste "tsunami" social, poucos são os que ousam ter filhos, a pirâmide demográfica inverteu-se nos últimos anos e, actualmente, são já mais os que morrem do que os que nascem. Ou seja, o país está mais velho e há cada vez menos gente a descontar para manter o actual estado social. Uma tendência que, a não ser invertida, conduzirá inevitavelmente à diminuição da população (prevista, de resto, para a próxima década) e à desertificação acelerada do país. Sem uma população jovem qualificada e sem uma productividade significativa, o crescimento económico ficará sempre aquém do necessário, o que implicará mais ajuda externa, logo maior dependência económica do estrangeiro. Um programa para vinte anos...
É o que se chama uma "limpeza geral". Não é, pois, de admirar, que os nossos governantes andem tão impantes em Bruxelas. Ninguém os poderá acusar de não sermos limpos.
1 comentário:
Continuamos com a classificação de lixo. Dificilmente haverá, por definição!, lixo limpo.
A continuação destes trastes na condução da governação deste País faz lembrar aqueles casais que se decidem separar e depois ainda têm de conviver por mais algum tempo, à espera de resolver as formalidades do divórcio...
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