A Cão deputa. Em Lisboa. Na terra não deputa, demanda ansiosamente deputar fora dela mentindo nela o que for necessário para parecer que deputa o que se supõe se depute longe dela – deputam cada vez menos por lá e traficam cada vez mais com o próprio lugar mas também praticam todo o tipo de serviços necessários à seita partidária, de alto abaixo da escala. E particularmente o que for útil ao chefe imediato e ao chefe de topo.
Com a verdade polida ao momento e algum hálito mastigado fora, mesmo fumado no fumo alheio se necessário, aparece bem montada em qualquer sela: a sua utilidade vem de um saber escuteiro, das catequeses e do ranço que tempera o seu servilismo arrivista, o sorriso gravado na pele como máscara, o hálito polido nos dentes saídos com a graxa das simpatias circunstanciais.
O que é renda serviçal a mantém à tona. Se for necessária mentira e lucro, tudo bem, pois a quem por cima se mantém o que convém é o que por cima o mantém feito em baixo e com as baixezas traficadas por quem é capaz delas. Ela, Cão, desmanda, não manda, morde apenas no subalterno e morde com os dentes tortos ou os novos-ricos, investidos, principalmente na canela mais sincera que da dentada se não livra pois o que for verdade não tem caminho nela. A Cão detesta a verdade. É crítico o que na canela tem a sua marca de unha partidária arreganhada e não quer pagar o que dizem que deve não devendo – quem afinal vive acima das possibilidades mais que aqueles que foram donos das possibilidades desde que a tal Europa as trocou pela descaracterização lucrativa nacional? Que país é este tal em que assim se deputa a identidade? Nem o das tais três sílabas de plástico, pois esse apesar de tudo silabava e este só grunha.
Pouco manda ela, a Cão, afinal apenas é num quintal. Sua a casota que aí impera, grande casota com vistas para dentro da horta público-privada, querida e regada com a clandestina coisa pecaminosa que é capital secreto, porventura a ver se o que é geneticamente seco se humidifica milagrosamente no final de cada mês.
É entretanto no quintal da frente que o penteado acontece: é evento em souplesse de sedosa publicidade silenciosa, só de estar na foto. No detrás se faz o desmancho ou o arranjo. O penteado queque é óbvio na frente, com o cabelo que há, a mise em work em progresso é no detrás, os rolos em cascata-croquete delirando na sobre tola sem miolo.
E quem na Cão se põe? O Cão dela. No momento em que quer ladrar mais acima no estatuto ladra-lhe vociferante para cima de modo canino-masoquista. O Cão cuja cilindrada fede também a nabos vindos daquela frase de um tal Vicente que diz “assim que bafejais logo me cheirais a nabos”.
Que bicho tem inimigo que não seja de humana ordem aprendido? Cão gosta de gato e gato de rato, o contrário é induzido – fome é outra coisa - e deputado de filha deputar. Deputado aplaude quando a batuta chefe lhe bate no bestunto. Quer dizer, se mandam ladrar ladra e não bate palmas. Mas há quem nem boca abra na magna assembleia quatro anos dados. Deputar calado colhe. Deputa com quem o calado? Deputa com ninguém, mas consigo, por certo. E consigo prossegue caninamente o que o umbigo inidentificável lhe dita – que pequeno burguês diz eu que seja identificável mais que ser o que tudo possa ser dizendo eu e sempre a dar à anca? Que lhe dita o umbigo? Dita-lhe que bingo: sigo caninamente o cimo e quando o cimo anda perdido melhor é andar na sombra e desacontecer – o deputado nem sempre é performativo. Com aos que sei Cão como ela, ou ele, são muitos. Deputa com não sei quantos que com certeza deputam e são de deputar disso, calados ou acontecidos. Serão? São e com que habilitação que seja? São de assim condizer com o nada ser mais que rebanho e nem diploma tenham mais que o cartão partidário. Saber? O quê? Para quê? Melhor é calar e abrir a boca para sim dizer o que convier ao que de cima ditarem. Lá vir opinar isso é outra coisa e é no quintal detrás. É colar bem no ouvido de quem traficar.
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