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Depois da "época dos fogos", que se inicia normalmente em Junho e dura até Setembro, entrámos na "época das cheias", que se inicia em Outubro e dura até ao fim do Inverno.
Nada que não saibamos, acostumados como estamos a estas constantes da vida. Sempre foi assim, desde que temos memória, portanto deve ser inevitável. Há que sofrer e esperar que a "maré vaze"...
Vem este arrazoado todo a propósito das últimas inundações em Lisboa que, mais uma vez, atingiram parte significativa da capital, como de resto já tinha acontecido há três semanas atrás. Relembramos: entre as 15h30 e as 16h (meia hora!) de ontem foram registadas inundações em Benfica, São Domingos de Benfica, Olivais, Misericórdia, Parque das Nações, Estrela, Alvalade, Santa Clara, Campolide, Ajuda, Sto. António, Xabregas, Aeroporto, Calçada de Carriche, Túneis da Avenida João XXI e do Campo Grande, Rua das Pretas, Rua da Prata, Praça do Comércio, Rua Dr. Augusto Castro, Estações do Metro do Rossio, de Sete-Rios e de Chelas. Esqueci-me de alguma coisa? Será isto normal?
Como também é da tradição, logo surgiram as inevitáveis justificações: a maré cheia do Tejo que impede a água das chuvas de correr para o rio e provoca inundações na "baixa", a falta de avisos da meteorologia e as inevitáveis sarjetas, "mães" de todos os males desta cidade ribeirinha.
Acontece que, desta vez, a maré do Tejo estava baixa e a meteorologia tinha avisado (alerta laranja).
Então o que falhou? De acordo com diversos vereadores da Câmara Municipal, o que se mantém são as "inundações, problemas de obstrução das sarjetas, sumidouros e colectores; falta de investimento na rede de esgotos; plano de drenagem pronto desde 2007 por implementar; impermeabilização excessiva dos solos; incorrecto planeamento urbano, etc...". Todo um programa, portanto.
Já nem sequer vou invocar os sábios avisos do arquitecto Ribeiro Teles que, de há décadas a esta parte, vem alertando para o perigo de construção em leito de cheias, do alastramento do betão por toda a cidade ou da falta de árvores e jardins que permitam uma melhor drenagem das terras.
Também não quero culpar António Costa, que chegou há sete anos à Câmara, quando este fenómeno das inundações fazia, há muito, parte da paisagem. Mas, alguma coisa deve estar mal e alguma coisa deve ser possível fazer. Desde logo, prevenção, que é a melhor forma de evitar o desastre anunciado. Vivi 30 anos em Amsterdão, uma cidade de canais, 3 metros abaixo do nível do mar do Norte e nunca lá vivi nenhuma cheia. Portanto, é possível. Como foi possível solucionar os problemas da estação de metro do Terreiro de Paço que, devido às infiltrações de águas do Tejo, esteve fechada dez anos. Finalmente, chamaram engenheiros hidráulicos holandeses e eles resolveram o problema.
Custa dinheiro? Pois custa, mas custa muito mais pagar aos sucessivos empreiteiros portugueses que arrecadam milhões de lucros, em "derrapagens orçamentais" destas obras públicas que todos temos de pagar.
Não sei se o actual presidente da Câmara de Lisboa chegará alguma vez a primeiro-ministro, mas, a avaliar pelas inundações que, continuamente, atingem Lisboa, é cada vez mais provável que seja ele o primeiro a ser atingido pela vaga de fundo que estava a criar...
12 comentários:
Boa malha….
A tecnologia para combater as cheias existe, porque não usar? Mas os nossos dirigentes sabem que depois do inverno vem inevitavelmente o verão, e a malta já se esqueceu….
Passa-se o mesmo com o aquecimento das casas. Passam um frio de rachar dentro de casa durante o inverno, mas como toda a gente sabe que depois do inverno vem a primavera, preferem comprar um carro novo em vez de aquecimento central…
No próximo inverno repete-se a cena….
"Preferem comprar um carro novo em vez de aquecimento central"????!!! Mas de que planeta veio o meu amigo? E sabe o que custa aquecer uma casa em Portugal?
Este seu amigo já viveu em vários 'planetas'.
Se aquecer uma casa em Portugal custa mais do que manter um carro, é porque das duas sete:
os carros (e a gasolina) no nosso país estão ao preço da uva mijona e a energia vem da Rússia com um suplemento para pagar a guerra na Ucrânia. Terceira hipótese: a malta tem casas muito grandes e vive com as janelas abertas.
A questão do "aquecimento central" (AC) nas casas portuguesas, é um tema à parte que, só por si, dava para um "post".
Nos países nórdicos (Holanda, etc.) as casas construídas após os anos sessenta têm, salvo raras excepções (quintas, locais ermos, etc.), aquecimento central, normalmente alimentado por uma caldeira a gaz. Esta é a norma.
As casas construídas antes da 2ª Guerra, eram igualmente frias e dispunham de salamandras (ainda existem) pagas pelos inquilinos.
Porque o clima é demasiado frio, as novas construções, sejam estas particulares ou sociais, são todas apetrechadas com AC a gaz. Ou seja, os inquilinos só têm de pagar o aquecimento e não necessitam de instalá-lo.
Mesmo na vizinha Espanha (com um clima mais continental que Portugal, mas temperado), existe aquecimento central na maioria das habitações.
A tradição salazarenta portuguesa fez-nos crer que o clima era temperado, com ligeiros aguaceiros pelo meio, situação que se manteve até há muito pouco tempo. Quase todas as habitações de arrendamento não têm aquecimento central (o que devia ser uma imposição aos senhorios) e só a construção de particulares (leia-se, com algum poder de compra) tem instalado um tal sistema. É, de facto, caro, mandar instalar um sistema de AC. Resta acrescentar que um bom AC não depende apenas da água aquecida, da electricidade ou da energia solar. Também depende dos materiais de isolamento (paredes, janelas, telhados, etc.) e, nesse campo, Portugal ainda tem muito caminho para fazer. Pessoalmente, nunca passei tanto frio dentro de casa como em Lisboa, mas a minha casa data de 1943 e o senhorio recusa-se a instalar um AC. Teria de ser eu a pagar, o que seria incomportável, para mais não sendo a casa minha propriedade.
Toda esta resenha sobre a construção das casas na Holanda e em Portugal é totalmente desnecessária, mas não há nada a fazer, tu continuas a pensar que eu ainda vivo em Marrocos, ou, tal como o teu amigo, noutro planeta, ou então ando aqui para ver os eléctricos – não há nada a fazer!
Eu conheço muito bem a situação das casas nos dois países e, precisamente como tu, é em Portugal, quando tenho o azar de ir aí no Inverno, que passo um frio de rato. Mas não é só dentro de casa, e não apenas em casas antigas, é também nos restaurantes, nos cafés, nos hotéis, etc. Uma desgraça pegada. (E em Marrocos, um país com quase a mesma mentalidade e onde já várias vezes estive durante o Inverno, é precisamente a mesma coisa, já fui obrigado a comer de sobretudo vestido no restaurante em Tafraout e em Marraquexe).
É claro que se pode fazer um post à parte sobre este tema, mas na realidade o ponto de partida é o mesmo: laxismo. Porque a malta sabe que dentro de três meses o problema já está esquecido, e no próximo Inverno já veremos! Só as soluções são obviamente diferentes.
E os fogos é a mesma coisa. Agora, com tanta chuva, quem é que se lembra das matas a arder dentro de cinco meses?
O texto do comentário foi abrangente pois destinava-se aos dois comentaristas anteriores (um a viver em Portugal e outro na Holanda). De qualquer forma, não se pode comparar a situação nos dois países, pela simples razão que, na Holanda, há gaz relativamente barato (mar do Norte e Groningen) o que facilita a instalação de AC e existe um mercado de arrendamento, subsidiado pelo estado. Porque o clima é mais frio, só com aquecimento central é possível sobreviver. Em Portugal, devido às rendas baixas, os senhorios nunca foram obrigados a instalar o dito e, após 1974, deixou praticamente de haver casas para arrendar e quem queria casa tinha de comprá-la. As mais baratas, sem AC, as mais caras já com o AC. Na prática, só quem tem dinheiro manda instalar aquecimento (estou a falar de AC no sentido literal do termo). Claro que, em todas as casas, há aquecedores a gaz, salamandras ou radiadores para minorar o frio. Acresce que 20% da população vive abaixo do nível de pobreza (409euros) e cada bilha custa 27 euros.
Mas, obviamente que estou de acordo que há laxismo (foi isso que escrevi), mas penso que a questão do aquecimento é diferente, pois não é determinada pelo inquilino (que não tem dinheiro), mas pelas leis de construção existentes. Foi isso que eu quis dizer e parece-me que fui claro.
No meio de tanta intempérie e catástrofe natural não deixa de ser, diria, deliciosamente comovente essa da malta preferir comprar carro a comprar aquecimento... Para evitar o dilema, por mim, já sei onde vou gastar a massa que me há-de ser devolvida em 2025 do duodécimo do 1/15 do subsídio de solidariedade com a troika: vou comprar um carro com aquecimento... Ou um termoacumulador com rodas.
“O texto do comentário foi abrangente…”
Então peço imensa desculpa, assim já se pode tragar melhor.
Eu acho que se pode sempre comparar, logo que se tenha em conta as características de cada país. Essa dos holandeses terem gás não explica tudo. Os russos e os argelinos têm muito mais gás e não creio que as casas estejam mais aquecidas que em Portugal. Além disso, eu não me referia só às casas dos tais 20% de pobres. Como já disse anteriormente, uma pessoa em Portugal no inverno rapa frio nas casas, nos restaurantes, nos cafés e mesmo em hotéis…
E a razão é que para os teus 20% de pobres as bilhas custam 27 euros, ok, nada a fazer, neste caso temos que ver a tv de sobretudo e a beber bagaço. Mas para outros trata-se de outras prioridades (carro, tv-plana, i-phone, i-pad, i-relógio, férias no All Garve). E a isto vem juntar-se a má construção das casas.
Não acredito que todos os inquilinos não tenham dinheiro. Há inquilinos que têm dinheiro (para pagar mais renda) e há senhorios que recebem tão pouco de renda que lhes é impossível instalar AC, ou mesmo mudar uma janela deficiente ou uma telha partida. Também há senhorios que pedem demasiado pela qualidade oferecida. É preciso ver caso por caso.
Acredito que possa ser deliciosamente comovente ver um habitante do norte da Europa a tiritar de frio em Portugal durante o inverno.
Mas para quem está habituado a frio, sim, mas na rua, e no interior uma temperatura agradável, a situação é assaz desagradável e incompreensível. Sobretudo num país que se quer moderno, europeu, e onde não se percebe muito bem o que é que os advogados das PPPês fazem com o carcalhol que recebem da troika!
Pelos vistos não o gastam em aquecimento! Ou será que o Whisky caro que esta gente bebe (no inverno) também conta como aquecimento?
Duas questões:
Imagino que, na Argélia, seja como em Portugal, mas, na Russia, não é com certeza. As casas são aquecidas e bem, pois nem poderia ser de outro modo com as temperaturas que lá fazem!
Estou de acordo que o problema do aquecimento habitacional em Portugal é deficiente, mas a principal causa é da construção e da falta de leis que regulamentem esta situação. Voltamos sempre ao mesmo: até 1974, havia um mercado de arrendamento com rendas congeladas que não permitiam aos senhorios fazer obras. Depois de 1974, as casas construidas foram na sua esmagadora maioria para venda, mas a qualidade de construção não melhorou significativamente. Só muito recentemente (e apenas nos segmentos mais caros) as casas começaram a ter melhor isolamento e aquecimento incluído. Um problema económico, mas também um problema cultural, pois muito boa gente continua a pensar que somos um país de clima ameno...
Os estrangeiros/estrangeirados, notam mais, por estarem habituados a casas aquecidas. Eu também não notava, quando cá vivia...
"Eu também não notava, quando cá vivia…"
Precisamente, eu também não. Mas agora estou aqui a escrever em cuecas e lá fora faz um frio de rachar. Ah, e nem preciso de pôr o AC a funcionar - os vizinhos à volta encarregam-se de me aquecer o apartamento.
PS outra coisa que me faz confusão em Portugal é uma lei que obriga apartamentos modernos, dependente do espaço, a terem mais de uma cagadeira! Sabes algo sobre este assunto?
A questão das 2ªs cagadeiras tem a ver com as crianças e/ou hóspedes que, dessa forma, não têm de utilizar a casa de banho dos donos da casa. Mas, não sabia que estava na lei...
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