Durante a permanência na capital holandesa, a sua actividade inicial dividiu-se entre a enfermagem, que exerceu nos primeiros anos de residência e uma activa participação junto da comunidade de portugueses exilados, ao tempo organizados no Comité de Refugiados Portugueses na Holanda.
Após um acidente de trânsito, que a obriga a ficar em casa sem ocupação, redescobre uma antiga paixão pelo desenho e pela pintura, desenvolvida na Escola António Arroio, que chegou a frequentar.
Segue-se um período de grande produção, onde a par da pintura (naíve), desenha e escreve para publicações locais e para Portugal. A sua primeira exposição, tem lugar em 1983, por iniciativa de Vitor da Silva Tavares, editor da & Etc., que publicou igualmente o seu primeiro livro "Rigor Mortis".
Os anos oitenta, são os mais produtivos da sua curta, mas intensa carreira, com inúmeras exposições em galerias e museus na Holanda, Bélgica e Portugal, onde o seu trabalho começa a tornar-se reconhecido. É convidada a ilustrar diversas publicações holandesas e são dela todas as capas de uma série, dedicada a autores portugueses, da editora De Prom. Na mesma época, a prestigiada revista literária holandesa "Maatstaf", dedica-lhe um portofólio, onde sobressai um elogioso texto do escritor, radicado na Holanda, Rentes de Carvalho.
Estamos no início da década de noventa e as suas pinturas (maioritariamente sobre mulheres) tornam-se icónicas e são disputadas por coleccionadores dentro e fora do pais. De novo, a doença, impede o desenvolvimento natural da sua carreira, o que a obriga a reduzir a actividade, assim como o ritmo das exposições. Alarga o campo de interesses e criatividade a outras áreas, como a gravura e a escultura, que desenvolve, a par da pintura, do desenho e da escrita.
Os seus últimos anos, são parcialmente passados em Caminha (Alto Minho), onde se refugia por períodos cada vez mais longos. As suas pinturas reflectem, agora, temas ligados à natureza que a rodeia, iniciando uma nova fase na sua profícua actividade, sem que o traço e a cor percam a força e a coerência. É entrevistada por Maria António Fiadeiro para o JL, que com ela realiza um documentário televisivo e colabora com a escritora Luísa da Costa, para quem ilustra o livro "Os Magos".
Na área do teatro, colabora na feitura dos cenários da peça "Ensaio Geral" (Horovitz) levada à cena pela Companhia do Chiado, em finais dos anos noventa.
Todas estas informações e muitas outras, foram este ano publicadas em livro por Dirk Baartse, seu companheiro ao longo de 38 anos, autor do texto e da composição gráfica de "Maria Mendes, uma biografia", em edição bi-lingue, cuja tradução portuguesa esteve a cargo de Rui Mota.
O livro foi, recentemente, apresentado na Biblioteca do Complexo De Hallen, em Amsterdão, perante uma assistência maioritariamente composta por amigos holandeses e portugueses da pintora. A organização esteve mais uma vez a cargo da agência Q-Arts (Teresa Pinto) e contou igualmente com a presença do prof. Fernando Venâncio, que faria uma comunicação sobre "Autores e rivalidades na literatura portuguesa, ao longo da História", para além da projecção do filme "Sonhar não custa dinheiro", um docu-drama sobre mulheres portuguesas (e.o. Maria Mendes) na Holanda.
Uma sessão evocativa, que justificou a viagem a um passado recente, numa cidade onde tivemos o privilégio de conhecer e conviver com a homenageada. A memória, também se faz destas coisas.
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