2018/07/10

Tudo bem, quando acaba bem.


"All well that ends well", diria Shakespeare.
Os jovens tailandeses e o seu treinador, estão a salvo. Os últimos a sair, serão agora os mergulhadores-salvadores, que garantem a operacionalidade nas zonas submersas.
Durante a última semana, o Mundo pôde ver em directo uma das maiores e mais dramáticas operações de salvamento a nível internacional, pese embora a morte, no início das operações, de um mergulhador tailandês. Impossível não pensar nos mineiros chilenos das minas de Atacama que, em 2010, ficaram soterrados no local onde trabalhavam.
Um feito notável, tanto a nível técnico como de entreajuda e solidariedade internacional, sem a qual uma operação desta envergadura muito dificilmente seria possível.
Este acto, verdadeiramente heróico, nunca será demais realçado e passará, a partir de agora, a constituir um "case study" para futuras acções de salvamento.
Pena que os meios e a solidariedade internacional, não estejam sempre presentes em cenários não menos dramáticos e que merecem, igualmente, a nossa atenção. Desde logo, em situações onde crianças e adultos estão - por razões alheias à sua vontade - em perigo: guerras, perseguições ou tragédias climatéricas, hoje um pouco por todo o Mundo. É o caso do drama das vítimas das guerras no Médio-Oriente, dos refugiados do Mediterrâneo ou dos migrantes latino-americanos, que tentam entrar nos EUA, para citar três dos exemplos mais gritantes da última década.
Nesse sentido, a última cimeira europeia, agendada para discutir o Euro (que não chegou a ser discutido) acabou por se transformar numa cimeira sobre migrações, com cedências impensáveis de Merkel às chantagens do seu ministro do interior, apoiado pelos governos xenófobos da Itália, Áustria, Hungria e Polónia. A Europa "fecha-se" assim, mais uma vez, agora à volta de um "eixo", que cobre todo o território da Itália,  o antigo império austro-húngaro e a "grande" Alemanha, a lembrar velhos fantasmas do século passado. Sabemos da história, que o nacionalismo nunca foi boa opção e esteve na origem das duas últimas guerras. Liderados por políticos populistas, que desejam voltar às fronteiras do passado, os países do centro e Norte da Europa dão, desta forma, um exemplo negativo do que deve ser a solidariedade e o cosmopolitismo das sociedades modernas. Resta acrescentar que às (vagas) propostas dos líderes europeus citados - entre as quais a criação de centros de "contenção" e "triagem" dos migrantes que chegam à Europa, nos países a Sul e a Norte do Mediterrâneo - nenhum país ou governo se ofereceu para tê-los nos seus territórios. Sim, existe uma proposta, mas ninguém quer ficar com o ónus desta decisão. Enquanto a Europa não estiver de acordo sobre uma estratégia comum, para tentar solucionar este problema, continuarão a morrer milhares de pessoas, que não terão a atenção do Mundo, como tiveram (e bem) as crianças na Tailândia. O adiar deste problema, certamente um dos maiores da actualidade, contribuirá para acirrar os discursos de ódio e o populismo crescente na Europa. As eleições europeias do próximo ano, só conformarão esta tendência, mas pode já ser tarde.
Uma última palavra sobre as intermináveis reportagens e cobertura das operações de salvamento na Tailândia. Não fora os relatos sucintos e objectivos da Reuters, da SkyNews, da CNN e do The Guardian, estaríamos reduzidos aos comentários em estúdio de dezenas de "experts"que, ao longo da semana, foram passando pelos diversos canais e, na maior parte dos casos, se limitavam a especular sobre as dificuldades sentidas na gruta...Até especialistas, em meditação budista foram ouvidos em estúdio. Já não havia pachorra. 
Ainda bem, que tudo acabou bem.      

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