2019/04/29

De Espanha, sopram bons ventos


O resultado das eleições espanholas de ontem, não destoa das sondagens publicadas ao longo das últimas semanas. O PSOE (social-democrata) foi o grande vencedor e o PP (partido popular) o grande derrotado, tendo os restantes partidos, de formação mais recente, percentagens bastante diversas: melhoria relativa dos Ciudadanos (liberal), queda acentuada do Unidas-Podemos (esquerda radical) e resultado, aquém do esperado, do VOX (neo-fascista).
De assinalar, ainda, a alta percentagem de votantes (75,76%), a segunda maior do século, que demonstra bem a mobilização dos espanhóis para estas eleições, antecipadas pela queda da coligação anterior (PSOE-Podemos-ERC), devido à recusa do partido catalão em aprovar o Orçamento de 2019.
Com um Parlamento (350 deputados) pulverizado e sem maioria absoluta de nenhum dos partidos, restam duas certezas: a vitória global da esquerda e a derrota global da direita, o que inviabiliza, desde logo, qualquer coligação à direita. Restam, portanto, três cenários possíveis: uma coligação de esquerda alargada, de 197 deputados (PSOE + Podemos + Compromis + PNV + CC-PNC + PRC + ERC + JXCat); uma coligação de esquerda reduzida, de 175 deputados (PSOE + Podemos + Compromis + PNV + CC-PNC + PRC); ou uma coligação "centro-esquerda", de 180 deputados (PSOE + Ciudadanos), uma espécie de "bloco central" espanhol, agora que o PP perdeu metade dos votos e Sanchez (PSOE) já recusou qualquer compromisso com os Populares.
Com estes resultados, a Espanha passa igualmente a integrar o bloco de países europeus com partidos populistas de extrema-direita (nacionalistas, eurocépticos, xenófobos, islamofóbicos e machistas) no Parlamento, já que o VOX entrou para o hemiciclo espanhol. As únicas excepções são, agora, os parlamentos de Portugal, Irlanda, Luxemburgo e Malta.
Neste novo xadrez político, não são de esperar grandes decisões antes das próximas eleições europeias, que terão lugar entre 23 e 26 de Maio. Provavelmente, só nessa altura (e dependendo dos resultados obtidos pelas diversas forças políticas em presença) Sanchez tomará uma decisão final sobre com quem irá governar. Tudo aponta para que se incline para a esquerda, desde que os partidos nacionalistas catalãs concordem em refrear os seus ímpetos independentistas. Não será fácil. Dado o crescimento exponencial do ERC (Esquerda Republicana Catalã) prevêm-se negociações difíceis.      
Também para o Senado (1ª Câmara) foram eleitos 266 deputados. Nestas eleições, a vitória do PSOE foi esmagadora (141 deputados, entre votos directos e votos das regiões autónomas), o que lhe permitirá governar em maioria absoluta, sem necessitar de qualquer coligação.
Depois de semanas de agitação com o espantalho VOX, um partido "novo" de ideias velhas, a montanha pariu um rato e, pesem os receios (fundados) de grande parte dos espanhóis e dos europeus progressistas, a mobilização popular acabou por triunfar, dando novo alento às forças do progresso que estão vivas e alerta na Europa como, de resto, as recentes eleições finlandesas (com a vitória dos sociais-democratas), já o tinham demonstrado. Algo é algo.

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