2019/05/25

Eleições Europeias (eles "andem" aí...)


Terminaram as campanhas eleitorais e hoje, como é da tradição em Portugal, é "dia de reflexão".
Nada a opôr, ainda que nalguns países se faça campanha até à vespéra das eleições (caso da Grã-Bretanha ou da Holanda), da mesma forma que, em muitos países, as eleições sejam em dias de semana (Holanda e Grã-Bretanha votaram na quinta-feira e Irlanda, Eslováquia, Letónia e República Checa, votaram na sexta); já em Portugal, vota-se ao domingo. Também não se percebe muito bem porque é que, na era digital, ainda continuamos a votar em papel (que desperdício!) quando as novas tecnologias já permitem o voto electrónico muito mais prático e seguro. É verdade que, este ano, foi autorizado o voto antecipado em Lisboa e, amanhã,  haverá um teste de voto electrónico em Évora. Algo é algo.
Outra coisa que não se percebe, é como foi possível (em plena campanha eleitoral) 30.000 cidadãos poderem votar antecipadamente em Lisboa, quando 6 milhões de votantes estão, hoje, impedidos de terem qualquer actividade partidária no espaço público, só porque devem "reflectir" um dia, sobre a sua escolha política...
Isto, para não falar de milhares de portugueses (e outros estrangeiros) a viver no Reino Unido que, depois de terem votado nas últimas eleições distritais daquele país, não puderam votar nas eleições europeias, por não terem recebido o boletim de voto em tempo (!?).
Pese o número de "indecisos", sempre existente em todas as eleições, não parece que a percentagem seja suficiente para alterar a tendência observada nas sondagens publicadas ao longo do último mês. Já a taxa de abstenção (normalmente maior, em eleições europeias), será da ordem dos 60% (66% em 2014), o que é deveras preocupante. A questão da abstenção é, de resto, um problema em muitos países, pois a média europeia ronda os 55% nas eleições para o Parlamento Europeu. A abstenção, levanta ainda outro tipo de problemas, como seja a percentagem em termos populacionais, havendo exemplos em que o presidente da república de um país (Portugal, por exemplo) representar apenas 25% da população...
De acordo com diversas sondagens publicadas por estes dias, o resultado das eleições de amanhã não deve ser muito diferente das projecções publicadas pelo "Público", já que este matutino congregou as 4 sondagens principais e extraíu uma média aritmética, considerada a forma mais correcta (ainda que falível) de obter resultados aproximados. Teremos assim, uma vitória expressiva do partido do governo (PS), que obterá 33% dos votos; seguido do PSD com 23%; do Bloco de Esquerda com 9%; do PCP e do CDS, com 8% cada e a provável estreia, no Parlamento Europeu, dos partidos PAN e ALIANÇA, com 3% cada.
A confirmarem-se estas projecções, o Partido Socialista aumentará a sua representação no Parlamento de Estrasburgo, passando de 8 para 9 deputados; o PSD diminuirá a sua representação de 7 para 6 deputados; o BE aumentará a sua representação de 1 para 2 deputados; enquanto, os restantes partidos (PCP, CDS, PAN e ALIANÇA) poderão eleger 1 a 2 deputados, cada.  Portugal têm, actualmente, 21 deputados no PE.
Já nos países europeus, que entretanto foram a votos (Holanda e Grã-Bretanha), as sondagens à boca das urnas (exit-polls), deram uma clara e surpreendente vitória ao PvDA (Partido Trabalhista) na Holanda e ao novo partido populista de Neil Farage (Brexit Party), respectivamente. 
Difíceis de vaticinar, são as eleições em França, onde o partido de Macron (em perda acelerada de popularidade) e a União Nacional, de Marine Le Pen (com o seu discurso nacionalista e anti-imigração) se mantém num "empate técnico" imprevisível. Ao contrário, em países como a Itália, a Hungria e a Polónia (ainda que por razões diferentes) onde imperam os discursos xenófobos e nacionalistas, os partidos de extrema-direita devem ser os mais votados. Essa é, de resto, a esperança de Putin, interessado como está, no enfraquecimento da UE; assim como Bannon, ex-conselheiro de Trump e ideológo do Alt-Right americano, que aposta numa grande representação do bloco populista de extrema direita a nível europeu.
Como nos lembra Severiano Teixeira, esta semana: "Acontece que o populismo, não é uma ideologia como as outras. Ao contrário do liberalismo, do fascismo ou do comunismo, não tem uma visão global do Mundo, nem uma agenda política completa. É uma ideologia estreita, não é auto-suficiente e, por isso, surge associada a outras ideologias de esquerda e de direita (...) Em qualquer dos casos, afirmam-se sempre pela negativa. São sempre contra qualquer coisa. São, essencialmente, "anti-austeridade, anti-imigração, anticorrupção, anti-Europa". Se a estas questões juntarmos o "regionalismo", temos a agenda completa" (in "Público", 22 de Maio).     
Nalguns casos (Trump nos EUA, Bolsonaro no Brasil, Vox em Espanha ou Forum voor Democratie na Holanda) vão ainda mais longe e são contra o que chamam "ideologia de género", criticando a emancipação feminina, quando advogam o regresso da mulher ao lar ou penalizando o aborto. Um verdadeiro retrocesso civilizacional, como se o regresso aos anos '50 do século passado, seja algo realizável e desejado pelas mulheres actuais. 
Aparentemente, Portugal parece estar imune ao fenómeno dos populistas de extrema-direita. Resta saber, até quando. Porque a idiotice não conhece fronteiras, não vão desaparecer de um dia para o outro. Pelo contrário: vão andar por aí e há que continuar a combater, firmemente, as suas ideias. Até que desapareçam no caixote de lixo da História. 

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