2022/10/31

Lula ou a vitória da democracia

foto EFE

Lula da Silva é, desde ontem, o novo presidente do Brasil.  

Foi preciso esperar até às 22.58h (hora portuguesa) para confirmar a vitória de Lula, naquelas que foram consideradas as eleições mais disputadas do país. No final, o resultado foi de 51% para Lula, contra 49% para Bolsonaro, o que corresponde, "grosso modo", a 2 milhões de votos de diferença entre os candidatos.

Apesar de não constituir propriamente uma surpresa, a vitória de Lula (prevista em todas as sondagens) era aguardada com alguma expectativa, já que as percentagens anunciadas situavam-se dentro da margem de erro. Esta dúvida, que persistiu até final, aumentou com o bom resultado conseguido por Bolsonaro na 1ª volta das presidenciais (muito acima do previsto) e pela polémica gerada sobre a fiabilidade das sondagens, contestadas pelo (ainda) actual presidente.       

Como previsto, à medida que os votos iam sendo contados, os estados mais populosos (S. Paulo, Rio, Minas, Bahia) começaram por dar mais votos a Bolsonaro, que se manteve à frente até cerca de 2/3 da contagem. A "virada" deu-se por volta das 22horas, quando estavam contabilizados cerca de 67% dos votos e Lula passou para a frente. A partir daí, a diferença foi-se acentuando e a vantagem do candidato do PT, nunca mais esteve em dúvida. A única questão, residia na diferença final, já que uma pequena margem de vantagem poderia dar argumentos a Bolsonaro para contestar os resultados. 

Não sendo 2% uma diferença expressiva, é uma vitória clara e indiscutível - por um se ganha, por um se perde - obtida de forma legal e limpa, pesem as acusações (infundadas) dos mais fanáticos apoiantes de Bolsonaro, que não se conformam com a derrota do "mito". Após o resultado ser conhecido, o presidente remeteu-se a um silêncio, que dura há 20 horas, o que alguns analistas interpretam como a sua incapacidade de justificar uma derrota, para a qual não tem saída airosa. Outra interpretação é, à imagem de Trump, esperar que os seus acólitos venham para a rua protestar contra os resultados e aproveitar-se do caos instalado para tentar atrasar e, no limite, impedir a nomeação de Lula. Há ainda uma terceira leitura possível: contra membros da família Bolsonaro, correm diversos processos por corrupção e implicação noutros crimes (Marielle), pelos quais o "clã" poderá ter de responder em tribunal. Uma vez terminada a presidência e, sem a imunidade de que gozam nos cargos, poderão mais facilmente ser acusados.

Já em relação a Lula, qual Ajax renascido das cinzas, esta é a vitória da coragem e da resiliência que sempre mostrou ao longo da vida. Um "animal político", que influenciou e moldou o Brasil dos últimos 40 anos. Pesem todas as vicissitudes porque passou e apesar das acusações que continuam a ser-lhe feitas, Lula não se deixou quebrar pelo desânimo, nem nunca desistiu. Voltou, com a força da razão, quiçá mais sábio, sabendo que tem pela frente uma tarefa ciclópica: a de "unir os brasileiros" e de voltar a "pôr o Brasil no mapa". Tem a seu favor a experiência acumulada e o carisma inato, que fazem dele o mais popular líder político de toda a América Latina. Não por acaso, os líderes das principais potências mundiais - Biden, Macron, Putin, Xi Jinping, Sunak, Mori, Sanchez, Von der Leyen - apressaram-se a reconhecer a vitória. Todos eles sabem ser mais fácil negociar com um país democrático, do que com um país "pária" (o Brasil de Bolsonaro), isolado pela comunidade internacional. Da mesma forma que no passado, esse será o maior trunfo de Lula. Se puder (e souber) usá-lo, este terceiro mandato poderá tornar-se o seu maior legado. O Brasil espera por ele.

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