2023/05/06

Os Salvadores do Regime

Marcelo tem, desde há muito, uma estratégia que nunca escondeu: ajudar o seu partido (PSD) a chegar ao poder ou, no limite, ajudar à construção de um "bloco central de interesses" com outro nome (uma espécie de "união nacional" refundada). 

Percebe-se bem, porquê: é preciso que o poder "não caia na rua" e nada melhor para manter o regime (leia-se, o "sistema") do que fazer alianças ao centro. No fundo, "é preciso que alguma coisa mude, para que tudo fique na mesma" (Lampedusa). 

Esta tem sido, de resto, a lógica da partidocracia que nos governa desde 1976 (PS e PSD em alternância). 

O PS que, nos últimos 23 anos governou 16, está há demasiado tempo no poder. Ao contrário, o PSD, que "só" governou 7, está há demasiado tempo fora dele (leia-se, sem poder ir ao "pote"). 

Quem governa, para mais em maioria absoluta (como é o caso) tem maior acesso ao Orçamento de Estado. Logo, mais poder financeiro o que, entre outras coisas, permite alimentar as clientelas partidárias (eu dou-te algo, se me deres algo em troca). Chama-se patrocinato. Não perceber isto, pode ser fatal, pois pensamos sempre que uns são "melhores" que outros. 

São "melhores" para quem? Para os seus acólitos. Esta é a questão central. 

Que o PS (Costa e não só) não soubesse isto e tivesse apoiado explicitamente a candidatura de Marcelo à presidência, quando tinha uma candidata do partido (Ana Gomes) na corrida presidencial, parece ainda mais "estranho". Ou talvez não...

Não sabiam que Marcelo, o comentador, ia intrometer-se na governação, sempre que pudesse? Do que é que estavam à espera?   

O governo está a provar do seu próprio veneno e não pode queixar-se. 

2 comentários:

Carlos Alberto Augusto disse...

De facto, isto parece uma comédia de horrores. O que me causa mais apreensão é a incapacidade para encontrar soluções e caminhos próprios para o país. É que o povo que coloca esta gente nas cadeiras do poder é o mesmo que forma as "alternativas", uma variante de país pária...

rui mota disse...

Sim, o povo é o mesmo. Ora, como não se pode "mudar de povo", só resta esperar (!?) que a cidadania aumente. Um longo percurso, quando sabemos as causas remotas desta situação: 300 anos de Inquisição, 50 de fascismo, ignorância, pobreza, obediência, medo (muito medo) e oportunismo, próprio das sociedades pouco desenvolvidas (é mais fácil corromper um pobre do que um rico). Se nos países mais desenvolvidos, é o que se sabe, nas periferias é sempre pior. Não vejo melhorias significativas, a curto prazo. Talvez, a médio-prazo. Mas como dizia Keynes, a "médio prazo" estamos todos mortos...A esquerda (o que quer que isso seja) está limitada na sua intervenção (economicista) e não consegue apelar a mudanças qualitativas na sociedade; a direita (a velha e a nova) nunca passou de uma mescla de saudosistas de um passado salazarento e trauliteiro, que nunca conseguiu disfarçar. O que resta, vale-se da insatisfação das classes média (Liberais) e da ignorância larvar da população (Chega). Este governo, já se percebeu, está a prazo (agora, mais do que nunca) e o que aí vem será, ainda, pior. No meio, um presidente hiperactivo e maquiavélico, que não desperdiça uma oportunidade para destabilizar quem governa. Um país de parolos, que nem sequer vota (50%) e que refila contra tudo e contra todos, sem qualquer visão dos problemas reais. Falta "Mundo" aos portugueses e os políticos actuais são um reflexo desse mesmo provincianismo. Restam-nos os "fundos europeus" (resta saber até quando?) e a nova galinha dos "ovos de ouro" (o turismo) que, por muito dinheiro que gere, não gera valor acrescentado ao produto. Por isso a economia não cresce há 20 anos. Sem economia a crescer, não há "superavit" e, sem excedente, não há dinheiro para distribuir. Sem distribuição, não há inclusão, daí o aumento das desigualdades na sociedade (25% da população ganha menos de 600euros/mês) enquanto a média dos ordenados não consegue ultrapassar os 1200euros/mês). Assim, é difícil mudar.