2024/08/15

Notícias da "Silly Season"(2): medalheiros olímpicos

Muito se falou, nas últimas semanas, dos Jogos Olímpicos (JO) de Paris.

À falta de melhor distração, e com a política a "banhos", nada mais revigorante que um mergulho no Sena poluído. Que o digam os atletas portugueses do triatlo, alguns deles infectados por uma bactéria que pode ter tido proveniência na água engolida durante a prova. De resto, houve mais queixas de outros concorrentes, o que leva a crer que os mil milhões de euros, gastos na despoluição do rio, não foram suficientes para limpá-lo. Nem seria possível, como é óbvio. 

Com tantos locais para organizar a prova, porquê escolher o centro de Paris, onde os ratos sobem diariamente à superfície para se alimentarem? Quem foi o "criativo" que pensou em tal ideia? A explicação mais plausível, é a dos franceses quererem mostrar Paris e "épater les bourgeois" o que, a avaliar pelas reacções à posteriori, deve ter sido conseguido. De resto, não faltaram os "crooners" de serviço, desde Celine Dion a Lady Gaga, passando por Tom Cruise (o actor que recusa "duplos"!) para abrilhantar a "festa". No fim todo o Mundo aplaudiu. Os Jogos terminaram, vivam os Jogos! Daqui a 4 anos, em Los Angeles, há mais.    

Já a delegação portuguesa saiu dos JO com um sabor agridoce, pesem as 4 medalhas conseguidas (1 de ouro, 2 de prata e 1 de bronze), um número equivalente à última prestação de Tóquio, em 2021. Não estão aqui contabilizados os 8 "diplomas de honra", atribuídos aos oito primeiros classificados nas respectivas provas. Dos atletas com possibilidades de conseguir uma medalha, só três estiveram abaixo das suas próprias marcas (Ribeiro na natação, Fonseca no judo e Pimenta na canoagem). Nenhum deles tem de provar nada, já que todos são recordistas ou campeões do Mundo nas respectivas modalidades, mas ninguém gosta de perder. Haverá outras oportunidades e todos esperam melhores resultados no futuro. Em grande nível, estiveram Pedro Pichardo (medalha de prata no triplo-salto) e a dupla Iuri Leitão e Rui Oliveira (dupla medalha de ouro no ciclismo), para além da medalha de prata para Leitão (ciclismo) e da medalha de bronze de Patrícia Sampaio (no judo).  

Curiosas, foram as declarações de alguns atletas e dirigentes, à chegada ao aeroporto. Enquanto Ribeiro se queixou da má organização e do pouco espaço dos dormitórios (aparentemente, a única coisa que funcionava bem em Paris, eram os autocarros entre a aldeia olímpica e a piscina das provas!); Pichardo, queixou-se da falta de apoio ao atletismo português (deixando no ar a hipótese de desistir da competição!); enquanto o chefe da delegação portuguesa aos Jogos (Marco Alves), concluiu que Portugal tinha tido uma boa prestação. Segundo ele, ficámos sensivelmente a meio da tabela (lugar 50) e, se dividirmos o número de medalhas pela população temos, proporcionalmente, o mesmo número que os Estados Unidos! Extraordinária comparação. 

Há várias formas de comparar títulos (medalhas) nos Jogos Olímpicos: 1) a classificação (oficial), que privilegia as medalhas de ouro; 2) a classificação (nacional), que privilegia o número total de medalhas; e a classificação que privilegia o "ratio": número de medalhas versus número de habitantes. Qualquer delas é válida, dependendo do que queremos comparar. Percebemos a posição de Marco Alves, ao defender a "sua dama", mas é pena que o chefe da delegação portuguesa, não tenha utilizado outra explicação.

Fomos comparar, utilizando o "ratio": número total de medalhas versus países com número de habitantes equivalente e/ou menor (census populacionais de 2022):

Portugal: 10.041 milhões de habitantes (4 medalhas), Dinamarca: 5.903 (9 medalhas), Bélgica: 11.069 (10 medalhas), Geórgia: 3.713 (7 medalhas), Hungria: 9.643 (19 medalhas), Bulgária: 6.465 (7 medalhas), Grécia: 10.043 (8 medalhas), Suécia: 10.049 (11 medalhas), Noruega: 5.457 (8 medalhas), Checa: 10.006 (5 medalhas), Croácia: 3.009 (7 medalhas), Suíça: 8.776 (8 medalhas), Áustria: 9.042 (5 medalhas), Sérvia: 6.664 (5 medalhas), Irlanda: 5.127 (7 medalhas), Nova-Zelândia: 5.124 (19 medalhas), Hong-Kong: 7.346 (4 medalhas), Cuba: 11,021 (9 medalhas), Azerbeijão: 10.014 (7 medalhas), Barhein: 1.472 (4 medalhas)...

Podíamos, nesta lista, incluir ainda os Países-Baixos, um "estudo de caso" de um país do tamanho do Alentejo, com 17.700 milhões de habitantes, que obteve 34 medalhas no total e a sexta posição em medalhas de ouro (15). Extraordinária prestação. 

Que concluir disto tudo? 

Que Portugal, um país pobre, investe pouco no desporto (escolar e profissional) é uma verdade indesmentível. À excepção do futebol, que seca tudo à volta, poucos são os praticantes em Portugal, pelo que não nos devemos admirar dos resultados. Mas não é só no desporto que investimos pouco. Também na cultura, na saúde, na educação, na habitação, nos transportes, ficamos aquém dos objectivos. A delegação portuguesa aos JO (a maior de sempre) representou a média nacional. É pouco.  Tivesse o chefe da delegação portuguesa usado outras variáveis e, possivelmente, chegaria a outras conclusões. Quando torturadas, as estatísticas acabam sempre por confessar... 

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