Os recentes acontecimentos no Martim Moniz relançaram o debate sobre a imigração. Não há cara nem careto, que não se pronuncie sobre o tema, ainda que as opiniões expressas pouco ajudem à clarificação do problema, que data de longe e continua sem ser solucionado.
Que a direita conservadora e tradicional faça suas as bandeiras da extrema-direita, já é grave e acontece um pouco por toda a Europa. Que os sociais-democratas (vulgo socialistas) entrem neste jogo perigoso, é deplorável. O relativismo começa a tomar conta destas mentes paternalistas, de tal forma que, às tantas, já nem se percebe bem o que defendem. Afinal, a Lei existe, para quê?
Obviamente que os partidos do poder (PS, PSD, CDS) sempre ignoraram um problema latente há décadas e que nunca foi resolvido: o acolhimento de imigrantes e a sua integração na sociedade portuguesa. Esta situação é (parcialmente) explicável pelo facto de sermos tradicionalmente um país de emigrantes e só há pouco tempo sermos (também) um país de imigrantes. Ou seja, não há um histórico recente de acolhimento e integração de imigrantes pobres, pela simples razão de Portugal ser um país pobre e pouca gente querer imigrar para cá. As pessoas pobres emigram para países ricos.
De resto, muitos destes recentes imigrantes são asiáticos (oriundos de ex-colónias britânicas) e, até há pouco tempo, utilizavam Portugal como "escala" para o Reino Unido. Isto quando os britânicos faziam parte da União Europeia. Com o Brexit, esse estatuto privilegiado terminou e muitos deles ficaram por aqui.
É verdade que existe um "boom" de imigração, o que dificulta a sua integração, mas pouco foi feito para minorar o problema. Na origem, está a crónica má organização dos portugueses (somos bons a criar, péssimos a gerir) e nesta, como em outras áreas, o caos é gritante (veja-se a saúde, a educação ou a habitação, para citar três exemplos). Dito de outro modo: se os governos (todos, sem excepção) não conseguem resolver os principais problemas nacionais, como esperar que resolvam os problemas dos imigrantes pobres? Neste campo, e após oito anos de governação, o PS não tem desculpa, pelo que a auto-crítica de Pedro Nuno Santos (relativa aos anos de Costa), faz algum sentido. Algum, porque PNS esteve lá todo aquele tempo e é, no mínimo, cúmplice da "bagunça" instalada no SEF.
Mas, não chega, claro. Há que demarcar-se da direita-extrema. Nesse sentido, a sua entrevista ao "Expresso", não ajuda a clarificar as ideias. Já chega de tantas cautelas. Assuma-se, pois não vai ter muito tempo para isso. O tempo urge e os imigrantes não podem (nem devem) ser moeda de troca.
foto - Emigrantes portugueses já a bordo de navio, dirigindo-se para o Brasil (início do século XX). Carla Mary S. Oliveira
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