Morgan Gabriel Mugabe (1924) governa o Zimbabwe desde 1980. Tornou-se famoso na década de '60, depois da nomeação como secretário-geral do Zimbabwe African National Union (ZANU). Nos anos sessenta e setenta, Mugabe esteve preso na (então) Rodésia, governada por Ian Smith. Deixou o país em 1976, para juntar-se à luta de libertação do Zimbabwe que operava a partir de Moçambique. Com o fim da guerra, em 1979, Mugabe regressou ao Zimbabwe, onde foi considerado herói africano. Ganhou as primeiras eleições livres de 1980, no meio de inúmeras intimidações feitas pelas tropas que o apoiavam. Apesar dos seus apelos iniciais, para respeitarem a minoria branca, as relações com o Reino Unido nunca foram pacíficas.
Os primeiros anos de mandato foram marcados por violentos combates contra a tribo Ndebele, a segunda maior etnia zimbabuana, liderada por Joshua Nkomo, seu aliado na luta contra o colonialismo britânico. Afastado Nkomo (entretanto falecido) passou a governar o país sem oposição.
Desde 1988 que as políticas de Mugabe vêm sendo denunciadas, no Ocidente e no seu país, como sendo racistas.
Mugabe expropriou e expulsou milhares de agricultores brancos das suas terras, que foram entregues a antigos combatentes da ZANU. A produção de cereais, algodão e tabaco, que fizeram do Zimbabwe o "Celeiro de África", caíu abruptamente, provocando um exôdo rural sem precedentes e obrigando o país a importar a sua alimentação. Para fazer face à diminuição de divisas, Mugabe mandou cunhar trilliões de dólares zimbabuanos, provocando uma inflação sem procedentes que, praticamente destruiu todo o tecido económico. Milhares de zimbabuanos viram-se obrigados a emigrar para a África do Sul e Moçambique. Foi ainda acusado de perseguir, torturar e matar os seus oponentes políticos, nomeadamente do MDC que, contra ele, se apresentaram a eleições.
A todas as críticas, Mugabe responde que "se trata de um complot branco neo-colonialista" e que "os problemas do Zimbabwe, são uma herança do imperialismo".
No passado 3 de Abril, a Comissão Eleitoral do Zimbabwe anunciou a vitória do MDC para as eleições da Assembleia Nacional, por 47,9% contra 43% do ZANU. Porque nenhum dos partidos obteve a maioria simples, é necessário haver uma segunda volta. Mugabe atrasou a divulgação dos resultados e recomeçou a repressão contra os seus opositores. A segunda volta foi anunciada para hoje, mas perante o clima de terror instaurado, o principal líder da oposição, Morgan Tsvangirai, recusou participar naquilo que considera uma "farsa eleitoral" e refugiou-se na embaixada da Holanda.
As imagens, divulgadas pelas televisões internacionais, mostram um povo aterrorizado por um déspota tresloucado que há décadas governa o país com mão de ferro. À falta de melhor epíteto, Desmond Tutu (Nobel da Paz) chamou-lhe, esta semana, o "Frankenstein africano". O monstro de Mary Shelley tem um seguidor à altura.
2008/06/27
2008/06/20
Memo
Definição: "O futebol é um desporto inventado por ingleses, que se joga com vinte e dois jogadores, onze de cada lado, um árbitro e uma bola e, no fim, ganha quase sempre a Alemanha".
2008/06/19
Questão de classe

Claro que pode, por dois motivos.
Em primeiro lugar, pode porque é um país soberano que está a usar os seus mecanismos constitucionais, totalmente legítimos. E depois, pôde porque os génios que conduziram esta questão do Tratado deixaram esta matéria entregue ao sólido e sempre traquilizador princípio do "logo-se-vê", como anteriormente escrevi.
Estranho conceito de democracia e ainda mais estranha forma de conduzir um processo sobre matéria que eles próprios consideram da maior importância.
E assim se vê de que massa são feitos estes políticos que conduzem a Europa. A justificar plenamente os reparos daqueles que, dizendo-se partidários da causa europeia, afirmam que falta classe à classe política que hoje domina na Europa.
Ceci n'est pas un "non"...
2008/06/18
A Europa vista de fora

Razão tinha Mahatma Gandhi quando lhe perguntaram o que pensava da "civilização ocidental". "Era um boa ideia," terá ele respondido...
2008/06/15
O Plano B
Ainda os ecos do referendo irlandês não tinham desaparecido e já os mandarins de Bruxelas vinham a terreiro "ameaçar" a Irlanda da necessidade de rever a sua posição, pois este não era o resultado desejado... Se for necessário, devem convocar outro referendo até à obtenção do almejado "sim" e, com este, o consenso europeu. O raciocínio destes "iluminados" eurocratas é simples: 800.000 votantes, não podem estragar a "festa" de 490 milhões de cidadãos!
De facto, analisado à luz destes números, o "não" irlandês representa uma percentagem ínfima dos potenciais votantes da Europa a 27. Só que, nestas contas, os eurocratas esqueceram-se de um detalhe importante: em nenhum país da União Europeia os cidadãos puderam votar o Tratado, ao contrário da Irlanda, único membro da UE onde os tratados internacionais são sujeitos a referendo. E não é que a maioria dos irlandeses votou "não"? Como conciliar esta participação democrática com os desejos autocráticos do "directório" europeu? Esta a questão e a grande lição deste resultado. Que a própria constituição europeia, de resto, aceita no seu texto oficial.
Uma insolúvel contradição, que as grandes potências europeias (França e Alemanha á cabeça) não querem reconhecer. Por um lado desejam uma Europa unida; por outro, querem construí-la à revelia dos seus cidadãos. É por estas pequenas-grandes coisas que a Noruega votou "não" à adesão, a Dinamarca votou "não" a Maastricht e a França e a Holanda, votaram "não" a Nice. Agora, foi a vez da Irlanda dizer "não" a Lisboa. Sócrates considerou o resultado uma "derrota pessoal"; o inefável Cavaco sugeriu que a Irlanda é a causadora do problema (?!) e como tal deve resolvê-lo; enquanto Durão Barroso, que tinha dito não haver Plano B, veio declarar que o Tratado está "vivo". Como não há plano B, há que "obrigar" a Irlanda a arranjar uma solução. Mesmo que esta seja contra a vontade dos seus cidadãos. Não ocorre ao "directório europeu" que o Tratado de Lisboa está hoje morto e enterrado, graças à participação democrática dos únicos europeus que puderam votar em consciência. Também por isso, obrigado Irlanda!
De facto, analisado à luz destes números, o "não" irlandês representa uma percentagem ínfima dos potenciais votantes da Europa a 27. Só que, nestas contas, os eurocratas esqueceram-se de um detalhe importante: em nenhum país da União Europeia os cidadãos puderam votar o Tratado, ao contrário da Irlanda, único membro da UE onde os tratados internacionais são sujeitos a referendo. E não é que a maioria dos irlandeses votou "não"? Como conciliar esta participação democrática com os desejos autocráticos do "directório" europeu? Esta a questão e a grande lição deste resultado. Que a própria constituição europeia, de resto, aceita no seu texto oficial.
Uma insolúvel contradição, que as grandes potências europeias (França e Alemanha á cabeça) não querem reconhecer. Por um lado desejam uma Europa unida; por outro, querem construí-la à revelia dos seus cidadãos. É por estas pequenas-grandes coisas que a Noruega votou "não" à adesão, a Dinamarca votou "não" a Maastricht e a França e a Holanda, votaram "não" a Nice. Agora, foi a vez da Irlanda dizer "não" a Lisboa. Sócrates considerou o resultado uma "derrota pessoal"; o inefável Cavaco sugeriu que a Irlanda é a causadora do problema (?!) e como tal deve resolvê-lo; enquanto Durão Barroso, que tinha dito não haver Plano B, veio declarar que o Tratado está "vivo". Como não há plano B, há que "obrigar" a Irlanda a arranjar uma solução. Mesmo que esta seja contra a vontade dos seus cidadãos. Não ocorre ao "directório europeu" que o Tratado de Lisboa está hoje morto e enterrado, graças à participação democrática dos únicos europeus que puderam votar em consciência. Também por isso, obrigado Irlanda!
2008/06/14
A "Laranja" está de volta!
Nos supermercados e em instituições oficiais, nos correios e nas câmaras municipais, o clima é de festa permanente e a entusiasmo é contagiante: os empregados ostentam grandes chapéus em forma de taça e as mulheres cachecóis de penas laranjas. Um verdadeiro carnaval. Só em Berna, onde a selecção holandesa tem jogado, estão cinquenta mil holandeses em permanência (a maior parte deles sem bilhete). Ontem, no regresso a casa, em companhia do ex-presidente Jorge Sampaio, os passageiros da KLM eram informados ao minuto do resultado contra a França. A cada golo, anunciado pelo comandante de bordo, sucediam-se os aplausos dos passageiros em delírio. Quem disse que o referendo irlandês era a coisa mais importante para os europeus?
P.S. foto de Hennie Bos, adepta "laranja"
O défice comanda a vida
Num artigo perturbante intitulado "O declínio inequívoco de Portugal", publicado ontem no Público, Medina Carreira escreve o seguinte:
"Há um notório e crescente mal-estar no nosso país. Apesar do optimismo e das promessas, os salários continuam baixos, as pensões são exíguas, o poder de compra estagna, o desemprego é elevado, a classe média dissolve-se, a pobreza alastra, as desigualdades acentuam-se, as famílias estão pesadamente endividadas, a emigração recomeçou e os temores aumentam. A crise internacional chegou e atingirá alguns com especial violência.
É a mediocridade da economia que temos."
A leitura do resto deste arrasador artigo é obrigatória. O retrato pecará, porventura, por ficar aquém do que verdadeiramente se passa. O artigo é, de resto, um libelo lançado a todos nós, não só aos governos. Até a Medina Carreira...
"O estado da nossa decadência é profundo", diz o fiscalista, mas nem assim se adivinha qualquer reacção séria, mínima que seja, ao que se está a passar. Tudo parece adormecido à medida que o calor se instala.
E ai de nós se Portugal ganha o Euro 2008! E se perde?!
"Há um notório e crescente mal-estar no nosso país. Apesar do optimismo e das promessas, os salários continuam baixos, as pensões são exíguas, o poder de compra estagna, o desemprego é elevado, a classe média dissolve-se, a pobreza alastra, as desigualdades acentuam-se, as famílias estão pesadamente endividadas, a emigração recomeçou e os temores aumentam. A crise internacional chegou e atingirá alguns com especial violência.
É a mediocridade da economia que temos."
A leitura do resto deste arrasador artigo é obrigatória. O retrato pecará, porventura, por ficar aquém do que verdadeiramente se passa. O artigo é, de resto, um libelo lançado a todos nós, não só aos governos. Até a Medina Carreira...
"O estado da nossa decadência é profundo", diz o fiscalista, mas nem assim se adivinha qualquer reacção séria, mínima que seja, ao que se está a passar. Tudo parece adormecido à medida que o calor se instala.
E ai de nós se Portugal ganha o Euro 2008! E se perde?!
"No To Lisbon"
Tinham razão os eurocratas de Bruxelas em não quererem referendar o Tratado de Lisboa. O texto era demasiado difícil para a compreensão do homem da rua. Deve ter sido por isso que os irlandeses o chumbaram. Como foram os únicos autorizados a votar, agiram de acordo com a sua consciência: mandaram o tratado para o caixote do lixo da história. E agora, José?
2008/06/12
Deixa ver se passa...
A situação de expectativa em torno do resultado do referendo na Irlanda não pode deixar de causar uma enorme perplexidade. A Europa política está neste momento com a respiração suspensa. Muita coisa está em jogo com a aprovação deste "Tratado de Lisboa" e ouvimos mesmo hoje o primeiro ministro José Sócrates afirmar que está em jogo a sua carreira política. São oito anos de trabalho que dependem agora do sim ou do não do povo irlandês. A Irlanda foi o único país a submeter a referendo esta aprovação.
Numa Europa em crise, estando em causa o futuro de uma zona decisiva do globo, não deixa de suscitar uma profunda estranheza que tudo isto dependa desta singela mas significativa decisão. Ouvimos as reacções dos políticos quando questionados sobre a eventualidade do não triunfar, procuramos saber o que terá sido feito para o caso da votação não ser favorável na Irlanda e ficamos com a sensação que a Europa navega, fragilmente, nesta como noutras matérias, completamente à bolina.
A improvisação e o desnorte europeus não deixam de espantar, tanto mais que noutras matérias o grau de picuinhice das diversas instâncias políticas da Eurolândia raia frequentemente o ridículo pelo exagero. Então o Tratado é ou não uma questão importante? Que pensar destes políticos que um dia nos aparecem com ar dramático a dizer que ou o Tratado vinga ou vem aí o dilúvio, e que, posteriormente, perante a possibilidade de um único país colocar em causa todo este processo, mostram uma total falta de bom senso, de previsão e uma gritante incapacidade para gerar alternativas...?
Quando olho para o que está em causa e quando penso nos grandes desígnios em que hoje a Humanidade se encontra envolvida, para a consecução dos quais a Europa pode e deve desempenhar um papel crucial, não posso deixar de ficar boquiaberto com esta estratégia do deixa-ver-o-que-vai-acontecer.
Nesta altura já é tarde para o primeiro ministro se preocupar com o futuro político. Mesmo que ganhe o sim a imagem de improvisação e de leveza na condução deste processo já não descola...
Numa Europa em crise, estando em causa o futuro de uma zona decisiva do globo, não deixa de suscitar uma profunda estranheza que tudo isto dependa desta singela mas significativa decisão. Ouvimos as reacções dos políticos quando questionados sobre a eventualidade do não triunfar, procuramos saber o que terá sido feito para o caso da votação não ser favorável na Irlanda e ficamos com a sensação que a Europa navega, fragilmente, nesta como noutras matérias, completamente à bolina.
A improvisação e o desnorte europeus não deixam de espantar, tanto mais que noutras matérias o grau de picuinhice das diversas instâncias políticas da Eurolândia raia frequentemente o ridículo pelo exagero. Então o Tratado é ou não uma questão importante? Que pensar destes políticos que um dia nos aparecem com ar dramático a dizer que ou o Tratado vinga ou vem aí o dilúvio, e que, posteriormente, perante a possibilidade de um único país colocar em causa todo este processo, mostram uma total falta de bom senso, de previsão e uma gritante incapacidade para gerar alternativas...?
Quando olho para o que está em causa e quando penso nos grandes desígnios em que hoje a Humanidade se encontra envolvida, para a consecução dos quais a Europa pode e deve desempenhar um papel crucial, não posso deixar de ficar boquiaberto com esta estratégia do deixa-ver-o-que-vai-acontecer.
Nesta altura já é tarde para o primeiro ministro se preocupar com o futuro político. Mesmo que ganhe o sim a imagem de improvisação e de leveza na condução deste processo já não descola...
2008/06/09
"Blagues" em papel
Leio hoje no Público, no espaço do P2 dedicado aos blogues chamado "Blogues em papel", uma citação do blogue dazuis08.blogspot.com que inclui a seguinte frase: "O meu interesse pela selecção não se compara há minha paixão pelo FCPorto." Fui verificar e a asneira é mesmo do blogue. Será...?
Não me custa nada acreditar na sinceridade deste "bloguista" ("blogueiroso"? "bloguicida"?) e na sua profunda convicção clubística... Já me custa contudo ter de ler isto no Público. Que diabo, pela moeda antiga o jornal já custa cerca de 180 escudos! E é de referência! Ao menos que tivessem aproveitado para fazer um pouco de pedagogia.
Não me custa nada acreditar na sinceridade deste "bloguista" ("blogueiroso"? "bloguicida"?) e na sua profunda convicção clubística... Já me custa contudo ter de ler isto no Público. Que diabo, pela moeda antiga o jornal já custa cerca de 180 escudos! E é de referência! Ao menos que tivessem aproveitado para fazer um pouco de pedagogia.
2008/06/07
Mais impressões
Ainda no capítulo das impressões, não deixa de ser profundamente caricata a impressão que fica da colagem que a direita (ou pelo menos a direita que não está no poder neste momento...) faz a estas manifestações de descontentamento que atravessam a sociedade portuguesa. Já foi assim, por exemplo, com os professores, e agora continua com os 200.000...
Achará esta direita mentecapta e inútil que temos que os portugueses não sabem avaliar que para o estado actual do país, o seu contributo, o contributo de uma política de direita, foi determinante? Pensará esta direita canhestra que temos que basta colar-se ao descontentamento para ganhar uma credibilidade que perdeu inexoravelmente? Pensarão os novos panditas do PSD que a descoberta súbita de "preocupações sociais" da dra. Manuela Ferreira Leite faz esquecer os tempos em que ocupou a pasta das Finanças? Se pensam assim só posso dizer uma coisa: fico, eu próprio, impressionado!
Cautela porém: a ausência de um projecto, a caducidade completa de determinadas propostas, a pulverização organizativa da esquerda, e a sua teimosia em manter certos feudos (chamemos-lhe eufemisticamente assim...) podem muito bem ditar que a colagem, na prática, cole...
Achará esta direita mentecapta e inútil que temos que os portugueses não sabem avaliar que para o estado actual do país, o seu contributo, o contributo de uma política de direita, foi determinante? Pensará esta direita canhestra que temos que basta colar-se ao descontentamento para ganhar uma credibilidade que perdeu inexoravelmente? Pensarão os novos panditas do PSD que a descoberta súbita de "preocupações sociais" da dra. Manuela Ferreira Leite faz esquecer os tempos em que ocupou a pasta das Finanças? Se pensam assim só posso dizer uma coisa: fico, eu próprio, impressionado!
Cautela porém: a ausência de um projecto, a caducidade completa de determinadas propostas, a pulverização organizativa da esquerda, e a sua teimosia em manter certos feudos (chamemos-lhe eufemisticamente assim...) podem muito bem ditar que a colagem, na prática, cole...
Outras impressões, outras perguntas
Independentemente da impressão que poderá ter causado a manifestação da passada quinta feira ao Primeiro Ministro, uma pergunta a fazer é: qual a impressão que a manifestação causou à esquerda, ou às esquerdas, nomeadamente, aquela que se reuniu no Teatro da Trindade e que tanto incómodo causou ao partido do governo.
Outra pergunta que nós todos devemos fazer a estas esquerdas, as que foram ao teatro e à outra que não foi, será: se, ao contrário do Primeiro Ministro, ficaram impressionados com os números, qual é o plano que têm para dar um conteúdo a toda esta efervescência? Parece uma ocasião de ouro para avançar com um plano, se é que ele existe.
O pior que poderia acontecer seria ter de gramar os comentários dos que apontam a todas estas manifestações o defeito de não conterem propostas. E ficarmo-nos, sem perguntas, todos apenas pelas impressões...
Outra pergunta que nós todos devemos fazer a estas esquerdas, as que foram ao teatro e à outra que não foi, será: se, ao contrário do Primeiro Ministro, ficaram impressionados com os números, qual é o plano que têm para dar um conteúdo a toda esta efervescência? Parece uma ocasião de ouro para avançar com um plano, se é que ele existe.
O pior que poderia acontecer seria ter de gramar os comentários dos que apontam a todas estas manifestações o defeito de não conterem propostas. E ficarmo-nos, sem perguntas, todos apenas pelas impressões...
2008/06/06
Avisos, conselhos e impressões
Entre "avisos de amigo" de Mário Soares e conselhos para "terem juízo" de Manuel Alegre, dirigidos em ambos os casos ao Governo, 200.000 mil trabalhadores desfilaram ontem em Lisboa. Os números são, creio eu, oficiais, e não mereceram, que se saiba, qualquer contestação. Tudo decorreu com enorme naturalidade, numa quinta feira à tarde. O Primeiro Ministro reagiu, dizendo também com uma ar de grande naturalidade que não estava impressionado com os números.
Eu é que confesso que começo a ficar impressionado com o Primeiro Ministro...
Eu é que confesso que começo a ficar impressionado com o Primeiro Ministro...
2008/06/03
Aldina Mourinho
Aldina Duarte, fadista, convidada da SICN a apresentar o seu novo disco, está há mais de trinta minutos em estúdio aguardando que José Mourinho termine a sua apresentação como treinador do Inter.
Não é a primeira vez que a SICN interrompe emissões com convidados especiais e não é a primeira vez que o faz por causa de Mourinho. É uma opção jornalística da estação de televisão.
Quando lemos que as actividades do porto de Lisboa vão estar paradas durante os jogos da selecção para que os estivadores e demais trabalhadores portuários possam seguir o campeonato europeu de futebol, está tudo explicado.
Os portugueses podem estar muito preocupados com a crise petrolífera, a falta de peixe ou a crise governamental. Mas, mais do que tudo, estão preocupados com futebol. O jornalismo português não foge à regra. A SIC é o espelho da nação.
Ignoramos se Aldina ficou no estúdio. Provavelmente, não. Seria bom que os convidados da televisão dessem prioridade a outras coisas (neste caso a arte do fado) em detrimento da arte futebolística e tivessem a coragem de recusar tal subserviência ao desporto, mesmo que esse desporto seja o futebol e o entrevistado seja Mourinho. Com jornalismo deste jaez não há opinião crítica que resista.
Não é a primeira vez que a SICN interrompe emissões com convidados especiais e não é a primeira vez que o faz por causa de Mourinho. É uma opção jornalística da estação de televisão.
Quando lemos que as actividades do porto de Lisboa vão estar paradas durante os jogos da selecção para que os estivadores e demais trabalhadores portuários possam seguir o campeonato europeu de futebol, está tudo explicado.
Os portugueses podem estar muito preocupados com a crise petrolífera, a falta de peixe ou a crise governamental. Mas, mais do que tudo, estão preocupados com futebol. O jornalismo português não foge à regra. A SIC é o espelho da nação.
Ignoramos se Aldina ficou no estúdio. Provavelmente, não. Seria bom que os convidados da televisão dessem prioridade a outras coisas (neste caso a arte do fado) em detrimento da arte futebolística e tivessem a coragem de recusar tal subserviência ao desporto, mesmo que esse desporto seja o futebol e o entrevistado seja Mourinho. Com jornalismo deste jaez não há opinião crítica que resista.
2008/06/02
Exageros
A selecção e o Euro 2008 não são substituto para colocar Portugal no trilho certo e para transformar a vida dos Portugueses num processo menos doloroso que aquele que se vive, mas até parece. Correspondesse esta selecção a uma ideia verdadeiramente aglutinadora e fosse ela o espelho de uma situação global do país tão empolgante quanto o empolgamento que vamos vendo em relação ao jogo da bola e talvez tudo isto valesse a pena. Desse o Estado metade da atenção e dos meios às questões nucleares que interessam verdadeiramente aos portugueses, que dá continuadamente a este projecto e a história actual deste país seria outra.
Assim, cá vamos nós para mais uma prova relativamente inútil, ligeiramente fútil e seguramente inconsequente das nossas capacidades. Cá vamos nós para mais esta prova de "fé" em que permanentemente andamos metidos. Esta só não tem velas...
Mais exagerado do que tudo isto só talvez mesmo o comportamento dos suiços. Se não queriam os exageros do futebol no seu território porque raio concorreram à realização deste europeu? Prevejo o pior...
Uma coisa me dá algum gozo em tudo isto: em matéria de exageros, como em matéria de ridículo, os extremos tocam-se!
2008/05/29
Ainda a revolução no MNE, o acordo ortográfico e o futuro do Português
Não sou fundamentalista da língua. A língua é um instrumento, sabe-se hoje muito bem, simultaneamente, de expressão e de formação do pensamento. O uso e o domínio da língua, de qualquer língua, não é um luxo. É vital para todos nós, como é vital o domínio do anzol para um pescador, ou da raquete para um tenista.
Mas, qualquer língua serve para isto.
Há dias o relatório de uma dessas comissões sobre a Língua Portuguesa dizia que o Português nunca poderá aspirar tornar-se uma língua da ciência ou do comércio. Temo que com acordos, mais ou menos mal amanhados, em torno da Língua Portuguesa, o uso e o domínio da língua sejam postos em causa. E temo que com esta atitude demissionária perante o papel do Português e com estas tentativas pífias de barbarização gratuita ou "crioulização" do Inglês --como é exemplo esta "reforma" caricata dos endereços electrónicos do MNE--, as novas gerações acabem por não usar nem dominar qualquer língua, a que devia ser sua ou a que é dos outros. Talvez no futuro os jovens portugueses grunham, simplesmente, para se exprimirem e se limitem a ter também pensamentos (mal) grunhidos...
Não tenhamos dúvidas: sem o domínio da língua, de uma qualquer língua, os jovens portugueses correm o risco de passar ao lado da vida e, muito provavelmente, até de si próprios. A visão é deliberadamente catastrofista, apenas para enfatizar o meu argumento.
Que diabo, levem isto (mesmo) a sério! Já que o Português não tem futuro, façam do Inglês a língua oficial dos PALOP! Mas, ao menos, criem condições para que o seu uso e o domínio sejam tão amplos quanto possível.
Mas, qualquer língua serve para isto.
Há dias o relatório de uma dessas comissões sobre a Língua Portuguesa dizia que o Português nunca poderá aspirar tornar-se uma língua da ciência ou do comércio. Temo que com acordos, mais ou menos mal amanhados, em torno da Língua Portuguesa, o uso e o domínio da língua sejam postos em causa. E temo que com esta atitude demissionária perante o papel do Português e com estas tentativas pífias de barbarização gratuita ou "crioulização" do Inglês --como é exemplo esta "reforma" caricata dos endereços electrónicos do MNE--, as novas gerações acabem por não usar nem dominar qualquer língua, a que devia ser sua ou a que é dos outros. Talvez no futuro os jovens portugueses grunham, simplesmente, para se exprimirem e se limitem a ter também pensamentos (mal) grunhidos...
Não tenhamos dúvidas: sem o domínio da língua, de uma qualquer língua, os jovens portugueses correm o risco de passar ao lado da vida e, muito provavelmente, até de si próprios. A visão é deliberadamente catastrofista, apenas para enfatizar o meu argumento.
Que diabo, levem isto (mesmo) a sério! Já que o Português não tem futuro, façam do Inglês a língua oficial dos PALOP! Mas, ao menos, criem condições para que o seu uso e o domínio sejam tão amplos quanto possível.
2008/05/28
Revolução no MNE
Antecipando a entrada em vigor e o começo da aplicação do Acordo Ortográfico, o MNE decidiu desde já passar os endereços electrónicos dos diplomatas para inglês... No prosseguimento da actual política, consta que até o nome do pessoal do MNE vai ter de ser mudado. O próprio ministro já começou por dar o exemplo e o Face divulga aqui, em rigoroso exclusivo, o seu novo endereço: louis_beloved@foreignminstry.pt.
2008/05/27
Avisos
Mário Soares publica hoje um artigo no DN no qual chama a atenção para o clima de crescente descontentamento e instabilidade que se vive no País e para os efeitos que a crise daí decorrente pode ter. Nada do que Mário Soares diz é verdadeiramente novidade. Todos os sentimos na pele, todos os dias e por todo o lado. Soares invoca com habilidade a crise internacional para justificar a crise, mas não deixa de apontar o dedo ao governo e às suas políticas para lhe traçar a sua causa primeira. E pelo meio deixa um recado aos seus correlegionários do PS: "quem vos avisa vosso amigo é..."
Um membro do governo já reagiu. Também não foi novidade o que disse. Contemporizador, mas num tom onde se adivinha uma ligeira arrogância, o ministro Mário Lino saudou a preocupação de Mário Soares, mas, diz, o governo não anda a dormir e não está à espera das análises dele para actuar.
O aviso ficou. Vamos num futuro certamente próximo ver se o governo andava afinal a dormir ou não, e vamos ver também, uma vez que, sabemo-lo agora, não espera pelas análises de Soares, pelo que espera então o governo...?
Um membro do governo já reagiu. Também não foi novidade o que disse. Contemporizador, mas num tom onde se adivinha uma ligeira arrogância, o ministro Mário Lino saudou a preocupação de Mário Soares, mas, diz, o governo não anda a dormir e não está à espera das análises dele para actuar.
O aviso ficou. Vamos num futuro certamente próximo ver se o governo andava afinal a dormir ou não, e vamos ver também, uma vez que, sabemo-lo agora, não espera pelas análises de Soares, pelo que espera então o governo...?
2008/05/26
Expressões perigosas...
Face aos aumentos contínuos que sofrem os produtos derivados desde o petróleo, à intransigência em diminuir os impostos que sobre eles incidem, o IVA, o ISP, até às portagens, aos selos, selinhos e outros impostos que incidem sobre tudo o que roda e sobre tudo onde se roda em Portugal, escondidos ou com o rabo de fora, é caso para pedir aos portugueses que deixem de usar a expressão "vão roubar para a estrada"!
É que a gente diz isso e eles, como se vê, vão mesmo!!
É que a gente diz isso e eles, como se vê, vão mesmo!!
2008/05/18
"Saturday Night Fever"
A ida do primeiro-ministro às urgências de um hospital no Porto foi, como se previa, notícia de primeira página. Pelos vistos, tinha febre, nada que uma simples "aspirina" não curasse, a tempo do homem aparecer em Braga, bem disposto e a declarar que estava em forma. Trata-se, segundo Sócrates, do "síndrome do tabaco", provocado pela abstinência do mesmo, após cinco dias sem fumar. Cinco dias, apenas! Não consigo imaginar os terríveis dilemas de um ex-fumador, após um mês sem a companhia do cigarrito. Alucinações?
Com suores frios devem estar os portugueses, agora que são conhecidas as projecções do PEC para 2008: uma taxa de crescimento de 1,5% contra as previsões governamentais de 2,2%. Com um crescimento económico abaixo da média europeia e sem margem de manobra para criar emprego, o primeiro-ministro arrisca-se a passar mais sábados nas urgências, a exemplo daqueles que são hoje penalizados pela sua política. Ainda não são conhecidos os antídotos para este estado febril.
Com suores frios devem estar os portugueses, agora que são conhecidas as projecções do PEC para 2008: uma taxa de crescimento de 1,5% contra as previsões governamentais de 2,2%. Com um crescimento económico abaixo da média europeia e sem margem de manobra para criar emprego, o primeiro-ministro arrisca-se a passar mais sábados nas urgências, a exemplo daqueles que são hoje penalizados pela sua política. Ainda não são conhecidos os antídotos para este estado febril.
2008/05/15
"Business as usual"
Andam as brigadas dos bons costumes muito atarefadas em culpar o primeiro-ministro (oposição e fundamentalistas anti-tabagistas) ou em desculpá-lo (governo e demais clientelas políticas) sobre a questão de fumar ou não fumar num voo fretado de oito horas. Como se essa fosse a questão mais importante da nação. Um jornal de referência chegou, inclusive, a dedicar-lhe a sua manchete.
Entretanto, ninguém se interrogou sobre as declarações do cacique populista venezuelano (que alguma "esquerda" insiste em bajular) e que mandou à merda a chanceler alemã, depois de lhe chamar seguidora de Hitler num discurso público. A mesma chanceler, a quem Sócrates deve a aprovação do Tratado de Lisboa de que tanto se ufana...
Que se saiba, sobre este incidente, o nosso primeiro-ministro (e amigo de Merkel) disse nada. Como nada disse sobre o regime do títere que governa Angola e a quem o governo português presta vassalagem. Tudo a bem da negociata, está bem de ver.
Que os nossos governantes sejam o que são, já não nos deve admirar. Que a imprensa e os fazedores de opinião continuem a dar mais importância a questões como fumar num avião sobre o Oceano Atlântico, dá que pensar...
Entretanto, ninguém se interrogou sobre as declarações do cacique populista venezuelano (que alguma "esquerda" insiste em bajular) e que mandou à merda a chanceler alemã, depois de lhe chamar seguidora de Hitler num discurso público. A mesma chanceler, a quem Sócrates deve a aprovação do Tratado de Lisboa de que tanto se ufana...
Que se saiba, sobre este incidente, o nosso primeiro-ministro (e amigo de Merkel) disse nada. Como nada disse sobre o regime do títere que governa Angola e a quem o governo português presta vassalagem. Tudo a bem da negociata, está bem de ver.
Que os nossos governantes sejam o que são, já não nos deve admirar. Que a imprensa e os fazedores de opinião continuem a dar mais importância a questões como fumar num avião sobre o Oceano Atlântico, dá que pensar...
2008/05/14
Voltando ao assunto...
Retomo a ideia que tentei desenvolver no texto que intitulei Recobro Ortográfico... Algumas vozes amigas contestam (infelizmente não consegui que o fizessem sob a forma de um comentário que seria bem mais útil) a ideia de que estaremos, sem nos darmos disso conta, a assistir ao nascimento de mais um crioulo com esta introdução tosca de anglicismos no nosso discurso quotidiano. O português, alertam estas vozes, é, ele próprio, um "crioulo" resultante do latim e da "globalização" moderna resultará um inevitável processo da "barbarização" do inglês, como da "globalização" romana nasceu um latim bárbaro.
Não questiono o efeito dos mecanismos que envolvem os processos de globalização, de ontem e de hoje, e não duvido dos perigos que rodeiam o português no contexto de um tal processo. O que contesto aqui é a ideia de inevitabilidade. Como se estivéssemos já condenados a uma extinção inexorável. Ora, justamente a "evitabilidade" desta extinção anunciada é que vem tornar claro a importância da língua. Falar português neste mundo global é a afirmação, não só, de uma realidade linguística única, mas também da possibilidade de nos reinventarmos como povo. Esse é o desafio, que ultrapassa qualquer projecto de cariz nacionalista bacoco. Assistir sem luta ao processo de degenerescência da Língua Portuguesa é, pois, mais do que um simples problema do domínio da linguística, a admissão clara de uma tendência suicida.
Vamos ver quem tem a última palavra...
Não questiono o efeito dos mecanismos que envolvem os processos de globalização, de ontem e de hoje, e não duvido dos perigos que rodeiam o português no contexto de um tal processo. O que contesto aqui é a ideia de inevitabilidade. Como se estivéssemos já condenados a uma extinção inexorável. Ora, justamente a "evitabilidade" desta extinção anunciada é que vem tornar claro a importância da língua. Falar português neste mundo global é a afirmação, não só, de uma realidade linguística única, mas também da possibilidade de nos reinventarmos como povo. Esse é o desafio, que ultrapassa qualquer projecto de cariz nacionalista bacoco. Assistir sem luta ao processo de degenerescência da Língua Portuguesa é, pois, mais do que um simples problema do domínio da linguística, a admissão clara de uma tendência suicida.
Vamos ver quem tem a última palavra...
Ted Nelson

O debate continua, mas a influência de Nelson no nosso quotidiano actual parece insofismável.
Não posso deixar de associar o desenvolvimento destes conceitos aos tempos vividos na América dos anos 60. Não posso deixar de traçar paralelos entre a América dos anos 60 e o Portugal dessa época, e não posso deixar de encontrar aí factores que me parecem contribuir decisivamente para o atraso, nunca recuperado do nosso país.
Onde estavam os "Nelsons" portugueses nessa altura? Na guerra ou a fugir dela. Poderia ter havido "Nelsons" portugueses? Dificilmente, já que a luta dos "Nelsons" potenciais se situava ao nível da quase sobreviência, material, espiritual e intelectual. Enquanto na pátria, aos "Nelsons" pouco tempo lhes sobraria, depois de assegurar a sobrevivência, e nenhumas condições estariam criadas para imaginar um futuro liberto dos fantasmas da repressão, no estrangeiro, também não me parece que os "Nelsons" potenciais tenham tido tempo, disposição e condições para imaginar o nosso futuro no futuro.
O Xanadu é um projecto de liberdade. Não é possível concebê-lo no quadro de um quotidiano repressivo e inibidor. As condições brutais em que decorriam o protesto contra a repressão e a luta pela sobreviência quotidiana no Portugal dos anos 60 ditaram atrasos de que ainda hoje nos não libertámos, para além de tiques e formas de actuação dessas gerações de que as gerações mais novas se começam a aperceber e a combater. Vamos ver é se no seio das novas gerações surgirá a capacidade de reacção que lhes permita imaginar um Xanadu qualquer, ou se elas se vão acomodar.
Uma coisa é certa: ninguém os vai obrigar a usar gravata ou a cortar o cabelo...
2008/05/08
Politicamente incorrecto
Mira Amaral, gestor do novo banco BIC (de capitais angolanos) é de opinião que Bob Geldof não sabe do que fala. A razão é simples: o inglês é um cantor "pop" e não percebe nada de coisas sérias. Haja alguém que nos elucide.
2008/05/07
Politicamente correcto
Numa conferência, organizada pelo BES em Lisboa, Sir Bob Geldof (Live Aid) declarou que "Angola é gerida por criminosos".
Nem mais.
Nem mais.
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