2014/03/24

Eles andam aí...


Os resultados de Marine Le Pen, na primeira volta das eleições municipais em França, não devem espantar-nos. Afinal, o seu pai, já em 2002 tinha passado à segunda volta das presidenciais, obrigando toda a esquerda a unir-se em torno de um candidato medíocre como Chirac e, no mandato seguinte, Sarkozy só ganharia a presidência graças aos votos da extrema-direita, que compreendeu bem qual era o candidato que melhor serviria os seus interesses. O crescimento constante da Frente Nacional nas sondagens apontava para este resultado e a segunda volta deverá confirmar a implantação, agora sólida, de Marine Le Pen, em câmaras importantes de França. Daqui, até ao Eliseu, ainda faltam alguns anos, mas, a continuação desta tendência, só poderá confirmar o pior dos cenários.
Menos baladados, mas nem por isso menos importantes, foram os resultados das eleições municipais na Holanda, que decorreram na quarta-feira passada e nas quais o partido de extrema-direita PVV (Partido da Liberdade) conquistou a municipalidade de Almere e foi o segundo partido mais votado na cidade de Haia. Um pequeno teste, já que o partido do xenófobo Wilders não está preocupado em governar, mas apenas em apoiar o governo de coligação liberal-trabalhista que depende dos votos do PVV no Parlamento. A coisa funciona, mais ou menos assim: Wilders apoia a coligação do governo, desde que este sancione as suas leis anti-imigrantes e islamofóbicas, que constituem o "core" da sua ideologia racista. Não por acaso, há poucas semanas, Wilders recebeu Marine Le Pen em Haia, onde ambos assinaram um acordo de intenções com vista à constituição de uma frente partidária para as próximas eleições europeias. As conversações entre estes dois partidos e os partidos mais nacionalistas europeus, foram alargadas ao Reino Unido, à Bélgica, à Finlândia, à Austria e à Grécia, aumentando deste modo a possibilidade da criação de uma facção anti-Europa no parlamento europeu.
A Leste, o panorama não parece muito melhor, com os neonazis no governo provisório ucraniano, (criado no rescaldo do levantamento da praça Maidan) e governos na Hungria e na Polónia que defendem explicitamente idéias nacionalistas e racistas já condenadas no Parlamento Europeu.
Haverá, certamente, muitas explicações para este fenómeno de renascimento das ideologias de extrema-direita, o mais significativo desde a segunda guerra mundial. Afinal, a ideologia existia, mas não estava organizada. A recente crise económica e social, acrescida da incapacidade dos governos de inspiração social-democrata, hoje cúmplices e completamente submetidos ao poder financeiro, explicam uma parte substancial desta crise de valores que aproveita a direita mais radical. O terreno é propício ao aparecimento de líderes e discursos populistas e, menosprezá-los, seria um erro trágico, do qual os políticos e forças progressistas europeus se arrependerão. Depois, não digam que não sabiam...    



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