2006/08/27

Impressões de viagem 1


Sentado numa esplanada em Delft, mesmo à beira da torre da Nieuwe Kerk (Nova Igreja), olho lá para cima (a torre tem mais de 100 m de altura) e penso na possibilidade real daquele monte de tijolos desabar por cima de mim. Sinto-me vulnerável. Rezam as crónicas que cada um desses tijolos que compõem a Nieuwe Kerk foi colocado à mão. Os tijolos foram, precariamente, unidos com um cimento entretanto temperado, seguramente, por muitas chuvas e humidades variadas que lhe retirarão quiçá alguma consistência. Só em 1933 aquela estrutura foi aparentemente reforçada com pilares de betão.
Nesta igreja, terminada em 1496, que convive hoje com as esplanadas e as lojas que vendem a famosa porcelana de Delft a preços de Cartier, jazem os corpos das sucessivas gerações da Casa Real da Holanda desde Guilherme de Orange.
A Nieuwe Kerk está situada no Grote Markt (a Grande Praça do Mercado). Não sei se por estas bandas foi a igreja que se aproximou do "mercado", ou se foi o mercado que se aproximou da "igreja". Mas, de uma forma ou de outra, o mercado, por estas paragens, domina tudo e todos. Não parece haver margem para quaisquer valores, acções ou sentimentos ao lado, ou fora do mercado.
Nada disto constitui, à partida e necessariamente, um defeito. Mas, percebe-se pela observação dos sinais que, por causa disto, a sociedade holandesa se sente mais vulnerável do que eu me senti à beira da Nieuwe Kerk.

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

Faltou, na altura em que escrevi este post, referir o facto desta praça ter constituído um dos cenários principais do filme "A rapariga do brinco", que vi entretanto.