2007/04/23

Afinal há mesmo alternativas!

Num post anterior disse que o papel da imprensa no chamado caso Sócrates tem sido inqualificável. E acrescentei que nenhum orgão de informação, por uma razão ou outra, sai limpo de tudo isto. Falo, claro está, como observador de todas estas coisas, baseado apenas na minha reflexão.
Hoje tivemos a oportunidade de pressentir novos contornos em todo este processo e de encontrar novos motivos de reflexão. O presidente do PSD foi à Ota dizer que o projecto tem de parar e aponta alternativas concretas. Reparem: não diz que é preciso estudar alternativas, aponta-as!
Sabemos que há apenas um argumento no discurso oficial que tem sido repetidamente usado, que todos aceitam ou se vêem obrigados a aceitar. É um único argumento que parece em todo este caso verdadeiramente inatacável no plano político: o governo analisou e decidiu. Ora o presidente do PSD vem agora dizer que não há demostração de capacidade de decisão, há teimosia.
Desgastado o primeiro ministro com o complexo problema do Inglês Técnico, vai-se preparando a opinião pública --que no fundo nunca entenderá cabalmente a verdadeira dimensão de tudo isto e que nunca será, por mais debates públicos que se façam sobre esta matéria, o agente final da decisão-- para a ideia de que estamos perante um capricho, ainda por cima, de uma pessoa sem carácter... Afinal sempre existiram outras possibilidades, o "sem carácter" é que não deixa!
É o primeiro passo para queimar a opção Ota e para fazer o que no fundo parece ter sido a única motivação de todo este imbróglio, ou seja, mandar o novo aeroporto para outros territórios que servem outros interesses. Estes assuntos, cheira-me, não andam desligados...
Talvez isto explique as alianças e as guerras, quem se revela a favor e quem se revela contra, quem move todos os meios para atacar e quem move todos os meios para defender o primeiro ministro. E isto talvez explique também o timing de toda esta operação.
Afinal o papel da imprensa pode não ter sido tão inocentemente miserável como pareceu. Pode, pelo contrário, ter sido mesmo miseravelmente miserável.
Para que conste, não estou aqui a fazer o panegírico do primeiro ministro, que nem sequer me agrada especialmente. Estou apenas a pensar alto...

2 comentários:

Anónimo disse...

Há alternativas para tudo...só não há para o estado calamitoso em que os arautos da verdade (sejam eles do PS ou PSD) transformaram este país. Como se algum deles tivesse moral para falar sobre os defeitos do outro. Eles têm todos telhados de vidro!

Carlos A. Augusto disse...

O estado calamitoso também passa por estas manobras que os poderes vão, de forma mais ou menos subtil, fazendo sem que a maior parte das pessoas tenha consciência disso. E o estado calamitoso também é os portugueses verem-se envolvidos e envolverem-se em "diferendos" deste tipo, não sendo nem os seus principais agentes, nem os seus principais beneficiários. Calamidade é não podermos fazer mais nada para além de "ter" de tomar partido pela Ota ou pelo Montijo, como se a nossa vida não passasse de uma espécie de Benfica-Sporting (avant la lettre...).