2007/06/11

Higiene pública

Uma curta nota apenas relativa às várias entrevistas recentes de Saldanha Sanches sobre o tema da corrupção. Não se pode deixar de saudar e dar relevo ao desassombro e à coragem das suas denúncias e à generosidade e oportunidade dos seus comentários.
Há ainda em todas estas entrevistas que tenho lido e ouvido dois outros aspectos que considero também dignos de realce e que, creio, estão interligados. De um lado, Saldanha Sanches chama a atenção, com total naturalidade, para a necessidade das instituições intervirem na sua esfera de competências, mesmo que seja para arquivar os processos. O que não é, de facto, natural, nem aceitável é que as instituições se calem e se demitam de exercer as suas atribuições.
Outra aspecto que, parece-me, deve ser sublinhado é que Saldanha Sanches revela factos e emite opiniões sem medo de ser conotado com esta ou aquela corrente política. Aliás, creio que nenhuma força política, nenhum cidadão, no final, enquanto agente e destinatário da coisa pública, fica de fora das suas acusações, da sua crítica e da sua análise. Na consciência dos Portugueses paira, furtivo, o espectro do oportunismo ou do comodismo na sua conveniente versão da delegação de poderes. E muitos terão, porventura, calado as suas ideias e omitido os seus reparos por obediência, não às suas convicções mais profundas, mas aos grupos mais ou menos organizados, mais ou menos evidentes de que fazem parte, sejam eles quais forem, ou aos seus interesses particulares. Por acção ou por inacção, a corrupção e o laxismo atingem, como ele sublinha, níveis muito profundos da sociedade e estão instalados de forma, dir-se-ia, endémica.
Na minha opinião, é um acto de higiene pública política, merecedor do nosso aplauso, este que Saldanha Sanches vem exercendo com as sua intervenções. Esperemos que seja também um acto eficaz.

7 comentários:

Raul Henriques disse...

Bom post; o busílis está, de facto, na eficácia.

Rui Mota disse...

A independência do Saldanha Sanches, com quem simpatizo e concordo na maior parte das vezes, foi recentemente posta em causa pelo Pacheco Pereira, num excelente artigo com o título (cito de memória) "O que é tem muita força". E o que "é", é o "poder" anunciado do PS na CML, com a mais do que previsível vitória do Costa, a quem o Saldanha apoia numa altura em que a dinâmica da campanha se tornou irreversível. Quando uma coisa se torna irreversível, cria um efeito de sucção a que nem os melhores resistem. Mas, pode ser que eu esteja enganado...

Carlos A. Augusto disse...

Eu falei na questão da independencia no post. Alias é uma das coisas que eu acho interessante na posição do Saldanha Sanches: o facto de tomar um partido não o impede de criticar e criticar, por vezes, duramente!
Isto é central e sublinhei-a no post. Esta coisa do medo das aparências é uma vergonha em Portugal e tem impedido muito boa gente de se envolver mais.
Porque razão o Saldanha Sanches não há-de estar associado ao candidato melhor colocado? Não o vejo a eximir-se de criticar o António Costa se for caso disso...
Já o Pacheco Pereira me deixa de pé atrás. Não é um "independente" com moral para criticar. Raramente o vejo criticar situações que envolvam o PSD e mesmo quando o faz é sempre com preservativo (a chamada "política segura"!). Só malha no malhado. Não me inspira grande respeito...

Rui Mota disse...

Eu também não disse que confiava no Pacheco Pereira....mas isso não quer dizer que a análise dele, relativamente às clientelas geradas pelo centrão (é disso que se trata!) não estivesse correcta. Ou seja, o PS e o PSD, por serem alternadamente poder, tendem a gerar um consenso mole na sociedade e a atrairem as "moscas". Se o Saldanha vai ou não ter uma voz independente, não sei. O futuro, o dirá...mas como eu já cá ando há alguns anos e dali (do centrão) nunca vi querer mudar nada, mas manter tudo, estou desconfiado. Uma questão higiénica.

Carlos A. Augusto disse...

Estou a gostar desta higiénica troca de opiniões!
:-))
Eu creio que o mérito do Saldanha Sanches (é nesse aspecto que as suas posições me parecem interessantes e podem constituir um elemento de, pelo menos, promoção de alguma reflexão séria) é justamente o de trazer para o centro da discussão essa questão da "clientela". Eu acredito (uma opinião que admito seja muito pessoal) que ele viaja com pouca bagagem nesta sua aventura e está sempre pronto a partir...

Rui Mota disse...

Se ele está sempre pronto a partir, óptimo! Já somos dois...

Carlos A. Augusto disse...

Conta lá com mais um ;-)!!!