Agora que a presidência portuguesa "europeia" vai terminando o seu mandato, regressa a polémica da OTA. O processo, interrompido em Junho para evitar danos que podiam tornar-se irreparáveis para o executivo, foi adiado por seis meses com a promessa de mais e melhores estudos sobre a localização definitiva do aeroporto de Lisboa. Uma manobra inteligente, que afastou temporariamente as atenções de um ministro desastrado e permitiu ao governo dedicar-se a questões internacionais mais importantes. Só que o tempo não pára e, aos estudos encomendados pelo governo, outras encomendas se seguiram, das quais a primeira (CIP) já é, entretanto, conhecida. Outra se seguirá (ACP) e nada prova que seja pior que as anteriores.
Temos assim, duas propostas conhecidas e uma em vésperas de tornar-se pública, para além de um instituto (LNEC) que fará a análise comparativa e a avaliação definitiva do que - espera-se! - seja a última palavra sobre esta interminável saga.
Em todo este intrincado processo algumas questões parecem óbvias. Por exemplo: como é possível que, durante os trinta anos de estudos, a opção Alcochete nunca tenha estado em cima da mesa? Se esta não era possível (dada a existência de um campo de tiro) porque é que uma simples intervenção do Presidente da República alterou definitivamente as limitações da escolha? Mais, como é possível que o estudo da CIP, em apenas meia-dúzia de meses, tivesse chegado a conclusões notoriamente mais favoráveis do que todos os estudos precendentes encomendados pelo governo?
Estas são, naturalmente, perguntas do senso-comum que qualquer cidadão interessado fará. Não se percebe, por isso, a reacção do ministro Lino, ao desvalorizar as conclusões que dão preferência a Alcochete e declarar, inclusive, que não tem tempo para ler todos os relatórios que lhe chegam às mãos. Pior, ao que parece encomendou um terceiro estudo (RAVE) que contraria as conclusões do estudo da CIP. Ou seja, mesmo que não seja essa a intenção do ministro, dificilmente ele conseguirá fazer passar a ideia de que tudo está a ser feito para construir o aeroporto no melhor sítio e ao melhor preço possível. Se não é assim, porquê estas reticências?
A menos que haja razões que a razão desconhece, este comportamento relembra-nos um passado não muito distante em que a margem Sul não passava de uma miragem. Confesso que já tinha algumas saudades da "stand-up comedy" nacional.
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