Os discursos de Ano Novo dos presidentes da república são, por natureza, inócuos e falhos de imaginação.
O de ontem, proferido por Cavaco Silva, não fugiu à regra. Claro que muito boa gente quis nele "ler" o que mais lhe convinha. É sempre sintomático ouvir as interpretações dos diversos líderes partidários e comentadores diversos sobre o tema. Uns vêem-no como crítico ao governo, outros como envergonhado na crítica...
O que mais me espantou, foi o presidente ter "questionado os rendimentos de altos dirigentes de empresas", para usar a definição de uma certa imprensa nacional. Fiquei na dúvida se ele (o presidente) se referia aos "rendimentos de altos dirigentes" ou aos "altos rendimentos dos dirigentes", que são coisas completamente diferentes como sabemos. Admito que se trata da segunda interpretação. Pessoalmente, não me choca nada que um dirigente (alto ou baixo) tenha um rendimento alto. Penso mesmo que a qualidade deve ser premiada. Também penso que a maioria desses dirigentes, que têm um rendimento alto, podem perfeitamente viver com metade do que ganham. Restam os rendimentos baixos (dos dirigidos altos e baixos). E é aqui que a porca torce o rabo. Porque é que os baixos rendimentos não podem ser mais altos?
Já sabemos que produzimos pouco e mal (a tal questão da "produtividade"). Mas, se a produtividade é baixa, como é que se explica que só os dirigidos ganhem pouco e os (altos) dirigentes ganhem salários altos? Ou não somos todos parte activa na tal produtividade? Portanto, das duas uma: ou produzimos pouco e alguém anda a viver acima das suas (nossas) posses; ou produzimos o suficiente e não se percebe porque é que há gente a ganhar tão mal....
Esta questão (que não é menor) faz-me sempre lembrar uma história que alguns asseguram ser verdadeira. Consta que, durante o famigerado PREC, um alto militar da Abril (não muito alto) teria visitado a Suécia, considerado um modelo e um exemplo a seguir pela nossa jovem democracia. Olaf Palme, ao tempo primeiro-ministro daquele país, quis saber quais as prioridades do MFA para Portugal: "Acabar com os ricos!", ter-lhe-ia respondido o capitão português, ao que Palme retorquiu: "Tem graça, aqui na Suécia, nós preferimos acabar com os pobres".
Ora aqui está uma boa mensagem para Cavaco usar em 2009.
2 comentários:
De facto senti a mesma coisa nestes discursos. Muita conversa, muito auto-comprazimento, muito "cliché", enfim, o costume.
Ouvindo o Presidente da República, em particular, fica-se na dúvida se ele foi primeiro ministro de Portugal ou se sou eu que estou enganado.
Ouvindo o Primeiro Ministro fica-se com pena por não poder dizer com ele "porreiro pá!..."
O presidente tem razão quando diz que os ordenados dos gestores são gordos demais, mas como é que se garantem votos ? Como é que se colocam pessoas de confiança nos locais certos ... para fomentarem noticias favoráveis e alimentar um jornalismo servilista ao sistema ? Como é que se pode governar com uma atitude social se o que interessa é manter o "deficit"? Como é que se pode proteger as classes mais desfavorecidas se isso implicava que essess gestores ganhassem bastante menos e não pudessem servir-se do estado para o que pretendem? Ao Presidente de pouco valeu as suas campanhas contra a EXCLUSÂO. ele já esteve na gamela.
Sabe do que fala e andou a aprender a falar ainda melhor.
Têm razão em gamar o máximo que podem, a vida é curta e cheia de imprevistos.
Só não consigo perceber como se consegue ter uma reforma superior ao vencimento que se auferia no activo, activo mesmo, porque depois prosseguiram-se as colocações em lugares de lucro.
Abençoado país que tanto produz para tão poucos miseráveis!
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