2009/01/19

Hipocrisia de Estado

Há (de novo) um cessar-fogo em Gaza. Para já, boas notícias. Resta saber até quando.
As declarações de ministro israelita Ehud Olmert no Cairo, onde apelou aos palestinianos para que "compreendessem" que "eles" não eram o principal inimigo, roça a pornografia. Como é possível, depois de três semanas de consecutivos bombardeamentos que mataram 1500 pessoas e feriram outras 5000, para além da destruição aleatória de infraestruturas fundamentais como hospitais, escolas, condutas de água e de electricidade, vir falar em compreensão?
Mesmo dando de barato que metade das vítimas eram do Hamas (o principal inimigo, nas palavras de Olmert) que culpa têm os milhares de crianças, velhos e demais palestinianos que ficaram privados das mais elementares meios de subsistência para além do terror que viveram, sem poder escapar para lado nenhum?
Já toda a gente percebeu quais as razões que estiveram por detrás desta guerra preparada com meio ano de antecedência: Bush estava de saída e havia que actuar rápido; Obama ainda não é presidente e era necessário "marcar terreno" antes da sua tomada de posse; aproximam-se as eleições em Israel e o Kadima necessitava de subir nas intenções de voto e havia necessidade de reabilitar a imagem das tropas, depois da campanha do Libano (2006), que correu mal ao exército israelita. No meio da confusão, até o processo de corrupção contra Olmert, que está de saída, passaria a segundo plano...
Vinte e quatro horas depois do anunciado cessar-fogo, agora aceite por ambas as partes, tanto Israel como o Hamas cantam vitória. Em Israel, no entanto, um inquérito levado a cabo pela TV israelita mostra que 41% da população acha que foi uma vitória e, a mesma percentagem, que foi um falhanço. Aparentemente, voltámos ao "ponto de partida".
Se nada se adiantou, porquê tal incursão, que mais não fez do que aumentar o ódio já existente e alimentar uma nova geração de combatentes para a próxima guerra?

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