Menos de vinte e quatro horas depois do início da operação israelita em território de Gaza, começam a surgir as reacções previsíveis em conflitos semelhantes na região. De um lado, os defensores de Israel, que justificam todo e qualquer ataque contra os palestinianos (independentemente das razões e consequências que estas acções punitivas possam ter) com o argumento que os provocadores são sempre o Hamas; do outro, os apoiantes da causa palestina que (independentemente, das barbaridades cometidas pelos fundamentalistas islâmicos) vêem em tudo quanto de mal lhes acontece, a mão israelita.
Confesso que tenho cada vez mais dificuldade em tomar partido por qualquer das posições, já que sei (sabemos todos) que há bons e maus argumentos de ambos os lados e nenhum dos opositores tem a razão única neste conflito.
Alguns princípios começam, no entanto, a ser aceites pela maioria dos analistas e que me parecem pertinentes:
Israel, para o bem e para o mal, é um estado criado e reconhecido há 60 anos e tem, por isso, direito à existência em tanto que país independente. Os palestinianos, têm direito a um estado igualmente independente que, de resto, foi reconhecido em 1947. Ou seja, ambos os povos têm direito ao seu país, sendo que o maior problema do lado dos sucessivos representantes palestinianos tem sido o reconhecimento do estado israelita em tanto que tal (e daí os ataques sucessivos dos países árabes em 1948, 1967 e 1973); e, do lado israelita, a recusa em entregar os territórios ocupados nas sucessivas guerras, continuando com a construção de colonatos na Cijordânia e obrigando os palestinianos a viverem em verdadeiros guetos dentro dos seus próprios territórios. É esta intransigência, de ambos os campos, que vem justificando a chegada ao poder das forças mais extremistas no campo israelita e no campo palestiniano: a do Likud e dos movimentos judeus de extrema-direita em Israel e a do Hamas e dos fundamentalistas islâmicos em Gaza. Sempre que o Hamas ataca Israel, as forças fundamentalistas judaicas fortalecem-se e ganham argumentos para a guerra; sempre que Israel ataca e destrói cidades palestinianas, o Hamas ganha em popularidade. Não será diferente desta vez e os "falcões" dos dois movimentos terão com que se entreter nos próximos dias (os analistas da guerra já dizem que poderão ser semanas). Dias, ou semanas, o balanço será sempre negativo. O número de vitimas civis em ambos os campos será sempre demasiado; a devastação física de cidades e infraestruturas vitais para o bom funcionamento da sociedade (hospitais, por exemplo) nunca será compensada e, no fim, o ódio permanecerá mais vivo que nunca. Para recomeçar tudo outra vez, daqui a uns anos...
O plano defendido por Edward Said e, posteriormente, recuperado por Amos Oz (uma federação/dois estados, ou dois países/fronteiras comuns) esteve prestes a concretizar-se, mas a morte prematura de alguns dos seus defensores (Sadat e Rabin) às mãos de fanáticos fundamentalistas islamistas e judeus, atrasou o processo histórico em curso.
Uma coisa é certa: não parece que a guerra (esta guerra) vá resolver a situação; como, de resto, as guerras anteriores não resolveram. A solução terá sempre de ser política. Infelizmente, não descortinamos em nenhum dos governos, palestinos ou israelitas actuais, figuras com capacidade para tal.
Há quem ponha a esperança no próximo presidente americano. A avaliar pelas suas declarações sobre o conflito não parece que dali venha algo de construtivo...
4 comentários:
O geógrafo Yi-Fu Tuan (sobre quem ja escrevi aqui um par de coisas) fala na sua ultima cronica sobre este assunto.
Esta em
http://www.yifutuan.org/dear_colleague.htm
para quem a quiser ler na totalidade...
Retenho as ultimas frases desta crónica:
"Will the Palestinians ever learn to disown their elected leaders—the Hamas? Why do they so insist on standing on their dignity? As for Israel, has it at last learned the lesson that power—brute power—is effective only when it is used to the full?"
Sábias palavras. Mas, como sabemos, os políticos não são propriamente sábios. Conheces alguns?
Em resposta cf.o meu post anterior... ;-)
O presidente eleito americano já começou a deixar muita gente desiludida ao manifestar-se sobre esta intervenção...
Enviar um comentário