2009/04/30

Justiça e injustiça

As palavras de D. Januário Torgal Ferreira sobre a questão da justiça em Portugal fazem todo o sentido. A voz do bispo das Forças Armadas é corajosa, diria mesmo demolidora, e reflecte a avaliação que todos fazemos desta área chave da vida do País.
Só um tolo poderá pensar o contrário. Pena é que os vários agentes da justiça não aproveitem o mote dado pelo bispo para fazer uma acto de contrição perante o povo português pela modo, de facto, vergonhoso como este sector da vida nacional funciona.
Estas palavras mereceram reparos. Alguns desses agentes da justiça tentaram retirar-lhes a carga dramática que efectivamente têm, acusando-as de serem demasiado generalistas e declarando, de forma pueril, que não se sentem atingidos por elas. Pudera!
Se algum reparo há a fazer às palavras de D. Januário é o de que elas pecam por defeito. Há, de facto, um problema de justiça em Portugal. Mas, há sobretudo, um problema de injustiça. A sociedade portuguesa é injusta nos seus desequilíbrios e nas suas profundas desigualdades. É injusta na hipocrisia das suas alegações declaradas. É injusta na arrogância da sua indiferença. Velhos problemas que ficaram de fora do novo "mapa judiciário", mas que estão exemplarmente reflectidos no novo código de custas...
Será que, como prelado, D. Januário quis lembrar que, se bem que a justiça dos homens possa estar a falhar, a injustiça tem sempre o recurso supremo para a justiça divina. Que por vezes segue linhas tortuosas, como sabemos...

1 comentário:

Anónimo disse...

Um dia alguém vai fazer algo. Um dia alguém vai sair no meio da noite. Um dia alguém vai mostrar o que tem de ser feito, e dar o exemplo. Pena daqueles que, escolhidos quase ao acaso, terão de cair primeiro pelo bem maior. Há que dar a conhecer o fenómeno, para que as pessoas não se finjam de surdas para a porcaria de escumalha que anda por aí, à espera de ser limpa por alguém. E esse alguém nunca há de ser apanhado.
É muito difícil ter força quando se está sozinho. Mas se a sorte quiser, surgirão outros. Quem sabe se esses se poderão dar a conhecer entre si.
A vida tal como a vejo na rua e na cara das pessoas cujos dias são iguais e não vale a pena. Até hoje ainda não sei como é possível deixar passar 60 ou 80 anos, chegar a velho e morrer sem ter feito nada de bom. Daquelas poucas coisas que realmente importam. Ajudar quem merece. Proteger. Castigar. Posso não ser um santo, pois nasci para ser um soldado da consciência, um protector e servo, a cara má do bem. Mas por comparação ao comodismo e à vida insopurtavelmente egoísta e monótona, não sou pior de certeza. A vida dos soldados da estupidez é uma linha recta, um livro de um parágrafo. Recuso-me a ser assim. Como disse, não sou nenhum santo. Tanto quero fazer o bem como me quero sentir bem por isso. Alguém mais sentirá assim? Alguém que não se deixe prender por pormenores estúpidos e que me acompanhe pelas madrugadas fora? Acho que passava a acreditar em Deus, se tal acontecesse.