2009/05/05

O Bloco Central de Interesses

Anda para aí uma grande excitação a propósito das últimas declarações de Jorge Sampaio por este ter sugerido a criação de uma coligação dos partidos do "centro", única forma (segundo ele) de garantir alguma estabilidade governamental e para ver se "saimos disto" - sendo "isto" a situação a que Portugal chegou, depois de anos de desgoverno dos partidos que governaram ao "centro".
A mensagem (subliminar) de Sampaio vem no seguimento de outras opiniões no mesmo sentido (Van Zeller, Belmiro de Azevedo, António Mexia, Mário Soares) e circula entre diversos "capitães da industria" e banqueiros falidos do "sistema".
Curiosamente, ou talvez não, quem de imediato recusou tal coligação (o chamado "bloco central") foram os partidos do "centro", pondo de parte a ideia, remota que fosse, de alianças interpartidárias.
Compreende-se: para o PS, só interessa a maioria absoluta, única forma de continuar a legislatura vigente; para o PSD, só interessa opôr-se ao actual governo, única forma de capitalizar a insatisfação crescente na sociedade portuguesa.
Não será, pois, de esperar qualquer modificação nas estratégias de ambos os partidos até às eleições.
Acontece que entre as estratégias partidárias e a realidade eleitoral, vai uma grande distância. A acreditar nas sondagens que de há um ano a esta parte têm vindo a ser publicadas (nomeadamente as da Universidade Católica, tidas como as mais fiáveis) tudo aponta para uma vitória do PS, mas sem maioria absoluta. Neste cenário, resta ao PS governar em minoria (a exemplo do que fez Guterres entre 1995 e 1999), governar através de acordos pontuais (como tentou Guterres entre 1999 e 2001) ou coligar-se à esquerda (com o BE, por exemplo), cenário que está longe de ser consensual.
Numa situação de maioria relativa do Partido Socialista e uma subida acentuada do PCP e do BE, não faltará quem advoge um governo abrangente de esquerda. Isso seria natural se o PS fosse de esquerda o que, manifestamente com Sócrates, há muito deixou de ser. Não é de excluir a ideia de um afastamento de Sócrates (por iniciativa própria, ou por pressão interna) para facilitar uma maior convergência à esquerda. Mas, o mais natural é - com Sócrates ou sem ele - que o PS seja pressionado pelo Presidente da República a coligar-se à direita. Nessa altura, o parceiro menos natural será o CDS-PP, aparentemente em queda eleitoral. Resta, pois, o PSD, eventualmente com melhor votação do que hoje muitos vaticinam.
É aqui que as declarações de Sampaio, podem ganhar actualidade. Apesar de todos dizerem que não desejam o "bloco central", os interesses do "sistema" acabarão por prevalecer numa sociedade pouca dada a mudanças e conservadora por natureza. É um pouco como a história do lobo: de tanto gritar por ele, quando vier ninguém acreditará...

3 comentários:

moz disse...

Estes bonzos que referes, estão a ficar agitados; continuaram a prosperar nos 10 anos estagnados do Sr. Sampaio, que agora insiste em "mais do mesmo" ou "variações sobre 35 tristes anos". Mas que estão a ficar apreensivos, estão! Porque será?

Anónimo disse...

As sondagens dão uma indicação de voto aos eleitores quando apontam quem deverá ficar em 1º, 2º, 3º lugares e as respectivas percentagens de voto. Só por isso deveriam ser proíbidas e são-no em alguns países. Além disso, estão a tornar-se suspeitas de serem mal feitas ou pouco sérias porque se enganam sempre relativamente aos pequenos partidos, os quais vêm a ter sempre mais votantes do que os indicados nas tais sandagens.

Uma boa boa parte do eleitorado acaba por ser induzido a escolher apenas de entre os partidos que são apontados nas sondagens como a ficar em 1º ou 2º lugares. E assim se influência o resultado da votação, sempre no sentido apontado pelas sondagens. Trata-se de uma tendência desportiva, porque aí ou se ganha ou se perde. Mas na política não é bem assim, pois quem fica em 2º, 3º ou 4º lugares também influência o poder e essa influência é tanto maior quanto maior for a representatividade. Apenas não contam os votos que não chegam para eleger representação na assembleia.
Ganhar com maioria absoluta também é muito diferente de ter que procurar uma coligação ou governar sem ela, pois assim terá que ceder e ter em conta outras políticas. Por vezes nem isso é possível fazer uma coligação e governar na dependência do voto parlamentar é a única solução que é também a mais democrática.

Além disso, os grandes partidos costumam atrair a si grupos de interesses que influuenciam a orientação da governação e isso chama-se de corrupção. Ora aí está mais uma razão para não se votar massivamente num qualquer partido.

Zé da Burra o Alentejano

Carlos A. Augusto disse...

Não posso estar mais de acordo.