2009/10/04

Mercedes Sosa

Com a idade de 74 anos, faleceu ontem Mercedes Sosa, uma das mais admiradas e prestigiadas cantoras sul-americanas da actualidade.
Vi-a, pela primeira vez, na década de setenta, quando a América Latina vivia a ferro e fogo sob regimes militares ditatoriais.
A cantora tinha acabado de exilar-se na Europa, onde viveu nos anos oitenta antes de regressar à Argentina. Podia regressar, mas não podia cantar e essa foi a razão porque escolheu Paris e, posteriormente, Madrid, para viver.
Nessa época, Mercedes deslocava-se frequentemente à Holanda, onde existia uma grande comunidade de exilados argentinos e outros sul-americanos. Recordo a sua estreia absoluta, no "Paradiso" de Amsterdão, onde actuou sózinha, tendo como único instrumento um enorme tambor com que se acompanhava em palco. Uma voz e o ritmo das batidas no tambor. Uma experiência inolvidável, que marcou para sempre a minha relação com a música sul-americana . Voltaria a vê-la, anos mais tarde, na cidade de Utrecht, a solo e num concerto dos Inti-Illimani (Chile) de quem fez a primeira parte.
Dos concertos, lembro-me do apresentador, também ele um chileno exilado (Luís Araveña) com quem partilhei muita música e que me ajudou a compreender a alma da "la negra más negra do continente americano". O Luis, seria, anos mais tarde, convidado para apresentar e participar numa homenagem a José Afonso que organizámos em Amsterdão.
Agora, "La Negra" morreu. Mas a obra discográfica ficou e está ai para quem quiser confirmar a sua história que já é parte da história da canção argentina e mundial.

3 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

Partilho a admiração pela artista.
Há uma canção dela que sempre achei um hino lindíssimo chamada Canción con todos":

Salgo a caminar
por la cintura cósmica del sur,
piso en la región,
mas vegetal del viento y de la luz;
siento al caminar
toda la piel de América en mi piel
y anda en mi sangre un río
que libera en mi voz su caudal.

Sol de Alto Perú,
rostro, Bolivia, estaño y soledad,
un verde Brasil,
besa mi Chile, cobre y mineral;
subo desde el sur
hacia la entraña América y total,
pura raíz de un grito
destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces todas,
todas las manos todas,
toda la sangre puede
ser canción en el viento;
canta conmigo canta,
hermano americano,
libera tu esperanza
con un grito en la voz.

Rui Mota disse...

Sim, a "Cancion con todos" sempre foi uma das minhas preferidas. O pior é que está num LP, a 3000 km de distância...

Rini Luyks disse...

Imagino que agora até possa ser melhor ouvir a música da Mercedes em LP do que acompanhada de imagens, Rui, mas "Canción con todos" está no Youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=icrCSIBGkl0 (mas acho sempre difícil distinguir entre "I" e "l", mais vale "googlar"...)