2009/10/10

A opção da esquerda: gerir a bandalheira ou liquidá-la

Bastaria prestar atenção à forma como a direita insulta frequentemente a esquerda nestes dias que correm, como usa argumentos que parecem saídos dos tempos mais tenebrosos da guerra fria, como se apropria dos seus valores e os distorce para fazer valer as suas estratégias mesquinhas, bastaria isso para perceber que é à esquerda que estão as soluções para os problemas do país. À direita sente-se o medo patológico que a esquerda as implemente de facto. Daí os insultos.
Os tiros no pé que o PR tem vindo a dar ultimamente, a sua manifesta falta de jeito para o exercício do cargo que ocupa e a possibilidade real de ser o primeiro presidente da república pós-Abril a não ser reeleito para um segundo mandato, abrem caminho à possibilidade de uma candidatura conjunta de esquerda que poderia, segundo alguns, conduzir a um perigoso frentismo. Essa possibilidade deixa a direita em pânico.
O pânico resulta de duas coisas. Por um lado, da sua real falta da influência política e da insuficiência do seu discurso político. O povo é de esquerda, as teses que colhem são de esquerda. Por outro lado, pelo receio de que se torne claro, de uma vez por todas, que os portugueses entendam, sem margem para dúvidas, que as soluções estão de facto à esquerda e que este eleitorado volúvel, que hesita e se abstém crescentemente, possa vir a perceber onde jaz a chave para alterar o triste curso da nossa vida colectiva actual.
Onde está então o problema de escolher uma solução de esquerda para o país? O problema começa por estar, justamente, no facto da direita ter margem de manobra para continuar a agitar o papão da esquerda. O problema está também no facto de a esquerda, em muitos aspectos, não se distinguir da direita e não se saber constituir uma alternativa real. O problema está no facto de a esquerda ter tanto medo de ser esquerda como a direita tem medo que a esquerda o seja. O problema está no facto de ser mais difícil criar alternativas à bandalheira do que ir gerindo a bandalheira.
Nas sucessivas campanhas eleitorais em que temos estado envolvidos ultimamente, o que distingue a esquerda da direita? Nada. Os mesmos cartazes, as mesmas "arruadas", as mesmas caravanas insuportavelmente ruidosas, as mesmas bandeirinhas ridículas, o mesmo espetáculo mediático, a mesma retórica, o mesmo previsível futuro institucional, contentinho, venerador e obrigado, os mesmos dirigentes, com os mesmos tiques, indistinguíveis no seu pensamento poluído e nos seus desígnios espertalhaços.
Só a esquerda poderá criar a alternativa necessária, a alternativa do combate à bandalheira que foi criada pela direita.
Quando se despir de preconceitos e assumir inteligentemente o seu desígnio, a esquerda será a alternativa. Até lá, hoje na Presidência, no governo, na AR, e amanhã nas autarquias teremos mais do mesmo: nada.

11 comentários:

Anónimo disse...

Uma visão extremamente lúcida. A palavra às esquerdas...
O título é óptimo.

Anónimo disse...

A Exma. D. Fernanda Cancio deverá ser, porventura, a voz mais reaccionária, mais retrógada e mais tradicionalista de toda a blogosfera portuguesa. E digo isto, V. Excia. o permita, pelo seguinte: não há nenhuma senhora ou cavalheiro, aqui e além mar, nem mesmo na Opus dei, que defenda de forma tão persistente e tão ortodoxa o sacramento do casamento (entre gajos ou entre gajas, diga-se), a continuação da padralhada (com gajos que gostam de gajos, diga-se) e, agora, de forma ainda mais dura e belo-fascizante o serviço militar, os comandos da amadora, os rangers, os fuzileiros navais, as tropas de elite, o tiroteio, pum! pum! pum!, pum!, desde que esta gajada que mata outros (normalmente inocentes) em nome de deus, de alá ou dos usa, seja gajada que goste de outra gajada. Basta ler os seus posts no blogue Jugular. Basta ler...
E esta, hem?

Carlos A. Augusto disse...

Quando ouço certas figuras, a quem chamam "comentadores", a opinar sobre as eleições, os partidos, os dirigentes e as trivialidades da vida política em geral, como se a matéria sobre a qual opinam não tivesse também o seu cunho e o seu discurso não fosse mais um contributo para a tal bandalheira de que falo no post, vou logo a correr tomar um daqueles comprimidos para as náuseas e os vómitos. É a única maneira de me poder ir aguentando...

Rui Mota disse...

Carlos,
A Câncio não é mais uma comentadora. Ela é "a" comentadora do regime. Nem com comprimidos lá vai...

Carlos A. Augusto disse...

O meu comentário anterior não era comentário ao comentário do anónimo, que não me merecia especial atenção.
Mea culpa porque assim soou...
O meu comentário referia-se a gente com responsabilidades, que quando opina apaga e quando fala inebria, como se só a virtude morasse consigo.
Ai de nós se nos centrarmos na Fernanda Câncio...!

Anónimo disse...

Ó Carlos Augusto, tá bem, mas convenhamos: esta ideia absurda politicamente correcta da total igualdade de géneros leva a estas ridiculas situações: lá por ser gay, também pode e deve ir matar (ou morrer...) uns iraquianos, ou os os heterosexuais é que só têm esse previlégio (escreve a D. Câncio). Brilhante. Porque não defender um MBSG (Movimento de Bombistas Suicidas Gays)? Também têm direito...e o problema é que o que a D. Câncio escreve e pensa não é assim tão irrelevante para a nção...

Carlos A. Augusto disse...

Anónimo: a Fernanda Câncio não interessa a ninguém! Não vale a pena perder tempo.
Mas, há "comentadores" que não são tão anódinos assim...
E a propósio de igualdade, quando é que você sai do armário...?

Anónimo disse...

Ó pá, a Câncio não interessa a ninguém, não é bem assim: o nosso Primeiro curte-a bué!
E ouve-a bué.
Ó pá, deixe-me lá ser anónimo, eu gosto, pelo menso aqui, já no que resto, já estou cansado de quase diariamente aparecer nos jornais e nas TVs. Um pouco de descanso e anonimato faz bem à saúde. E você tem que compreender isso...farto de não ser anónimo estou eu!

Carlos A. Augusto disse...

Anónimo: nesta altura estou completamente baralhado...! Desisto! Viva o anonimato

Anónimo disse...

Carlos Augusto: obrigado por aceitar, finalmente, o meu anonimato. De facto, se lhe dissesse quem era, a surpresa poderia ser tão grande que você nunca mais escrevia em qualquer blogue. Repito-lhe aquilo que já escrevi: cansado de andar, diariamente, nos jornais e na TV, descanso muito neste anonimato. É melhor ficarmos por aqui...

Carlos A. Augusto disse...

Pois...