2010/07/23

O exemplo alemão

A Alemanha é apontada geralmente como o país austero, das boas contas, da grande exigência e rigor. É também tido como o país do trabalho colectivo, preciso e organizado. Uma máquina, dizem! Os alemães pensam como um grande colectivo, remando aparentemente todos para o mesmo lado.
Instalada a crise internacional, a Alemanha apressa-se logo a marcar terreno impondo a si própria medidas de apertado controlo financeiro e tratando com sobranceria os países em dificuldade (o caso da Grécia, por exemplo), sugerindo medidas aos outros países, receitando sanções e castigos indizíveis diversos a quem não siga o seu exemplo de austeridade e persista na via financeira pecaminosa.
Não é que, vejam lá como as coisa são, a popularidade da senhora Merkl caiu entretanto para os níveis mais baixos de sempre?!
Se calhar, é abusivo ver aqui uma relação de causa-efeito. Se calhar, as medidas até serão consideradas insuficientes. Mas, também é legítimo imaginar que o povo terá ficado desconfiado destes, que agora reclamam tanta austeridade, por terem feito vista grossa ao facto de uma parte do buraco financeiro dos países em dificuldade ter sido comprada pelos austeros bancos alemães... Austeros bancos alemães estes que não quiseram contudo deixar de dar uma perninha no regabofe financeiro internacional, deixando a máquina alemã em pane e a precisar de manutenção. Vamos ver o que dizem os stress tests sobre os bancos alemães.

9 comentários:

Rui Mota disse...

Afinal, os "testes" foram globalmente positivos. Até em Portugal.
O problema da Alemanha já vem de longe. De facto, a Alemanha ainda está a pagar o custo da reunificação e os sacrifícios exigidos à população da parte ocidental. Acresce que o Marco estava sobrevalorizado e a Alemanha aceitou trocá-lo por uma nova moeda, o Euro. Durante uma década não houve aumentos de salários e, porque as exportações continuaram a aumentar (a Alemanha é o segundo país exportador do Mundo), a balança de pagamentos manteve-se estável. Continua a ser o "motor da economia europeia".
Com a recente crise, e porque nunca foi criado um sistema europeu de controlo financeiro, quem mais contribuiu para os cofres do BCE foram os países mais ricos (Alemanha à cabeça). É pois natural que a Merkel se recuse a pagar os desvarios da Grécia e outros países do Sul da Europa que não produzem nada que se veja e gastam mais do que produzem...se eu fosse alemão, também não gostaria, digo eu de que...

Carlos A. Augusto disse...

Pois,pois, mas eu acho estranho que só agora as autoridades alemãs tenham descoberto que os PIGS eram de má raça. Deixram que a banca alemã se enterrasse a comprar dívida dos PIGS e saiu-lhes mal o eisbein...
Fundar um economia na base exportação, incluir os PIGS na clientela e comprar-lhes dívida pública para eles poderem comprar Mercedes é uma maneira estranha de sobreviver...
Se calhar é com isso que os alemães estão descontentes.

Rui Mota disse...

Claro, os alemães não querem perder poder de compra. Ainda há pouco tempo o Cavaco Silva, em entrevista à SICN, dizia que o acordo de Maastrich (moeda única) nunca previu uma entidade financeira supervisora do Euro, o que conduziu à situação actual. É muito diferente exigir disciplina financeira a um país rico e com as contas em ordem (como a Alemanha ou a Holanda) do que a um país pobre, (como a Grécia ou Portugal). É por isso que os 3%, como limite máximo do défice, não pode ser cumprido por todos os países da mesma maneira e, muito menos, em tempo de crise. Como dizia o outro "há mais vida para além do défice". Mas, agora é tarde...ou saimos do Euro ou deixamos cá entrar o FMI.

Carlos A. Augusto disse...

Para além de tudo isto, acresce o facto de os alemães, depois de se terem "tentado" a comprar a dívida pública dos "mandriões" dos PIGS dos gregos, terem ocultado aos "mercados" que estavam envolvidos com as desastrosas finanças gregas... Bem prega Frei Tomás!

Rui Mota disse...

A actual crise só veio evidenciar o que já era notório. Existem "duas Europas", ou o que no jargão europeu é designado por uma "Europa a 2 velocidades": países mais ricos (norte da Europa) versus países mais pobres (sul da Europa). Até ao Tratado de Lisboa, esta dictomia era menos visível (mas já existia!) devido ao consenso exigido aos países membros (1 país = 1 voto), o que favorecia os "países pequenos". Depois do Tratado de Lisboa foi criado um "directório" e agora as decisões passaram a ser aprovadas por maioria aritmética (bastam 2/3 dos votos dos maiores países em termos de população...). É por isso que os votos de países como a Alemanha, a França, a Polónia, ou a Itália (que têm mais habitantes) contam mais do que os votos dos países pequenos...
Portugal e a Grécia (que são países médios) não têm qualquer hipótese nesta aritmética. Mas quem aprovou este Tratado foram os portugueses, pois preferem receber "fundos" a ganharem posições políticas. Não é de admirar: nunca tivemos uma política internacional afirmativa, mas sempre tivemos uma posição de "pedintes". Os governos portugueses sempre trocaram princípios por apoios monetários. Por isso, estamos tão dependentes do estrangeiro. Que culpa têm os alemães da nossa incapacidade e incompetência?...

Carlos A. Augusto disse...

O que quero aqui enfatizar é apenas que os alemães adoptaram uma postura "moralista" e de "super-homem" relativamente a tudo isto, mas no fundo, no fundo, somos todos (incluindo os alemães!) humanos.
Ora vejam lá...
http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1627189

Rui Mota disse...

De acordo. Desde que não me obriguem a comer só "eisbein"...(bem bom, com uma "Beck's" a acompanhar!)

Rini Luyks disse...

Eisbein mit Sauerkraut, Weisswürstl mit Breezn, viel Bier und ein Blasorchester dabei.
Saudades de Munique...

Carlos A. Augusto disse...

Vielen Danke und viel Bier!!