2010/07/22

Com este PSD assim vamos continuar a ter de gramar o PS...

Antes de mais nada há que perguntar por que raio vem toda esta histeria com a pretensa revisão constitucional?! É uma pergunta que deixo à imaginação dos leitores do Face. Ocorrem-me várias explicações, umas mais delirantes do que outras, mas deixemos por agora o assunto.
O que fica de tudo isto? O PSD quer liberalizar ainda mais os despedimentos. Ponto, parágrafo. É este o fim último da "estratégia" de revisão proposta. Como diz Carvalho da Silva "a Constituição é clara nesta matéria" e o que o PSD quer é, com cambalhotas de retórica capciosa, mas saloia, subverter simplesmente o princípio constitucional. Para quê, pergunta-se? Remeto para o primeiro parágrafo...
Sugerir, contudo, numa altura em que os trabalhadores e a população em geral vivem sobre as brasas da precariedade, numa altura em que diariamente fecham empresas e se anunciam constantemente novos despedimentos (ontem foi a Charles a anunciar o fecho das suas lojas e o despedimento de mais duzentos e tal trabalhadores), que seja possível despedir por "razões atendíveis", só pode ser equívoco, provocação ou piada de mau gosto... 
Já é possível despedir por "razões atendíveis", como é fácil constantar pelos números do desemprego. O PSD acha que não e  justifica a proposta... com o desemprego existente. Cuja causa atribui à dificuldade em despedir! É uma coisa absolutamente delirante, nunca se viu nada assim. 
À falta de um desígnio para o país (o primeiro ministro não se cansa de repetir esta ideia e, neste capítulo, convenhamos, tem razão...) , o que o PSD vem propôr é a captação de investimento para pagar os desmandos da república à custa de um regabofe ainda maior em matéria de despedimentos. Pior do que o que se passa agora, estão a ver?
Transformar o mercado de trabalho português numa espécie de enorme Feira de Carcavelos do Laboral, onde qualquer mafioso possa, simplesmente, vir explorar a mão de obra para canhão que temos, oferecendo condições ainda mais precárias de trabalho, sem estratégia, sem horizonte, sem valor acrescentado. Eis o grande desígnio do PSD para o País. PSD que, certamente empolgado com estas habilidades, faz soar alto as trombetas todas e cerra fileiras como se estivesse prestes a investir contra o turco! 
Deu contudo o PSD um valente tiro no pé. Conseguiu fazer o PS aparecer como um partido de esquerda, defensor dos valores do regime nascido em Abril de 74... Aparecer não como o partido culpado que é pelo estado a que chegámos, mas como defensor das vítimas que ele próprio fez. Dá vontade de rir ver o PS, a atacar com indignação as propostas do PSD. O mesmo PS que tem feito tudo para tudo mudar, sem precisar de rever a constituição e sempre com o acordo tácito do PSD. É patético! 
A sofreguidão com que o PS aproveitou esta escorregadela brutal de Passos Coelho, reagindo às propostas do PSD com enorme rapidez e metendo os seus pesos pesados todos a atacar a proposta social-democrata nos telejornais, ao vivo e em simultâneo, diz bem como a agência de agitprop do PS funciona. O PS sabe que o tempo não joga a seu favor e agiu rápido. A fogosidade de Passos Coelho traiu-o e fê-lo dar um trambolhão. Dentro de algum tempo os que agora aplaudem estas propostas vão receber a factura desta operação desastrada e a guerra dentro do PSD vai voltar a estalar. Tanto que o jovem prometia... O PS e o PSD devem estar agora a perceber os supreendentes elogios do dr. Soares ao novel cunico-presidente.
No meio disto tudo, os partidos da esquerda parlamentar parecem, pela reacção pífia que tiveram em relação a tudo isto, ter ido já de férias e o CDS lá se vai safando, marcando pontos preciosos ao fazer o discurso desta esquerda em aparente vilegiatura. O dr. Passos Coelho devia aprender umas lições de estratégia com o dr. Portas.

2 comentários:

Rui Mota disse...

Completamente de acordo. No entanto, deve haver algo mais por detrás desta proposta.
A proposta de revisão constitucional abrange 150 (cento e cinquenta!) artigos, para além do famigerado preâmbulo, que data de 1976. É muita alteração. Não são só os "despedimentos", são a liberalização e a privatização de serviços básicos, como a saúde e a educação, enfim é o "estado social" (ou o que dele resta) que está em causa!
Passos Coelho pode ser um cretino (não engana ninguém), mas não deixa de ser uma "criação" de assessores de peso, como Paulo Teixeira Pinto, Angelo Correia ou Nogueira Leite, entre outros...será que eles não sabem o que fazem?
Quer me parecer que se trata de uma reconstituição da célebre fórmula de Sá Carneiro (uma constituição, um presidente, uma maioria) com vista a controlar o "rectângulo" por mais umas legislaturas. E isso faz sentido. Cavaco deve ser reeleito, haverá eleições antecipadas e o PSD pode atingir a maioria absoluta. Só falta a Constituição. Alguém tem dúvidas?
Sobre o PS, este pode ter sido o "balão de oxigénio" que o governo necessitava. Provavelmente, iremos assistir a mais uma campanha de "voto útil", o que só terá vantagens para o PS, ou seja, para o "bloco central de interesses". O futuro, dirá...

MRJ disse...

Não deixa de ser curioso que Passos Coelho e António Costa tenham usado o mesmo argumento de que com esta proposta de revisão se vê que PS e PSD não são uma e a mesma porcaria...
Não deixa de ser curioso que o PS e o PSD, depois do alarido inicial, já se disponham a discutir alterações à Consituição depois das presidenciais...
Mais do que uma alteração de Constituição, urge colocar estes dois partidos fora do "arco do poder", como eles se gostam de auto-considerar.