2010/11/20

Há mais vida para além da NATO

Preparada com meses de antecedência, a Cimeira da NATO encerra em Lisboa um ciclo iniciado em 1949. Criada em plena "Guerra Fria", com o objectivo de defender os interesses aliados, a NATO funcionou sempre como elemento dissuador do poderio militar soviético organizado em redor do Pacto de Varsóvia. Com a implosão do Bloco de Leste, e consequente derrota do modelo socialista russo, a organização levou tempo a posicionar-se num Mundo que deixara de ser bipolar para tornar-se multipolar. Durante mais de uma década os militaristas americanos pensaram que eram donos do Mundo. O "11 de Setembro" e as guerras longínquas que se seguiram - Afeganistão e Iraque - obrigaram a organização que, supostamente, fora criada para defender os países do eixo Norte Atlântico, a deslocar-se para regiões que não controlava. Os resultados estão longe de satisfazer os estrategas do Pentágono e os tradicionais aliados europeus têm cada vez mais dificuldade em acompanhar as aventuras expansionistas americanas, vítimas da sua própria ignorância. Há muito que o inimigo principal deixou de ser a Russia e os inimigos actuais não estão organizados em pactos militares apoiados em exércitos tradicionais. Como constatam os politólogos de sofá, o inimigo é hoje "transversal" (está em todos os continentes e em nossa casa) e não pode ser apenas combatido com bombardeamentos massivos ou divisões militares blindadas. Os fiascos do Iraque e do Afeganistão, comprovaram uma lição que a História já nos tinha ensinado. Mais cedo, ou mais tarde, um exército tradicional estrangeiro, por mais bem preparado que esteja, perde sempre contra uma guerrilha nacionalista bem organizada. Foi assim na Coreia, na Indochina, na Argélia, no Vietnam, nas colónias portuguesas de África ou, mais recentemente, no Iraque e, tudo indica, no Afeganistão.
Perante a evidência dos factos, restava à NATO acabar ou mudar. À falta de melhor alternativa (os EUA não abdicam do apoio dos aliados e a Europa não dispõe de exército próprio) restava a mudança. É esta nova era que agora se inicia em Lisboa. Resta saber se a "guerra psicológica" e conquista da opinião das populações afegãs, que a NATO se propõe fazer, dará alguns frutos. Com o histórico conhecido (nove anos de lutas infrutíferas e o apoio a líderes corruptos como Karzai) não é de esperar mudanças significativas naquela região.
Uma coisa é certa: Lisboa voltará, amanhã, a ser uma cidade mais livre e sem a paranóia securitária que caracterizou este fim-de-semana. Os seus cidadãos poderão concentrar-se nos verdadeiros problemas que afligem a sociedade portuguesa; esses, sim, preocupantes para o nosso futuro imediato. Porque há mais vida depois da cimeira...

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

Patético tudo isto, patética esta cimeira num país de baixo, patéticos este governo e este presidente, tudo patético. Viva o dr. Jardim, a única voz lúcida dad vida portuguesa (o que diz bem o que é a vida portuguesa...)! Pena não ter voltado a criticar o sr. Sousa e o sr. Silva mais claramente...