Olhando para o cacos que se começavam lentamente a juntar e para a reacção extremamente nervosa de gente que considero, inequivocamente, inimiga do povo português, pensei para com os meus botões que haveria certamente algo mais a dizer sobre tudo isto. Algo mais do que as primeiras impressões que se vão ouvindo.
Hoje o Público traz uma análise de São José Almeida, sob o título "A alternativa de César", que aconselho todos vivamente a ler e que, na minha opinião, resume esta ideia de que a iniciativa de Carlos César é virtuosa, ao contrário da crítica feita por uns de forma quiçá apressada, ou, por outros, à esquerda e à direita, já conscientes do estrago que ela causou e das consequências sérias que vai ter no futuro político do País.
"Afinal, há alternativa e Carlos César provou-o. O presidente do Governo Regional dos Açores mostrou como é possível encontrar soluções para a crise económica que não passam exclusivamente pelo sacrifício das pessoas e do seu nível de vida. Como é possível encontrar saídas sem que isso ponha em causa os pressupostos políticos e ideológicos que devem mover a esquerda. Como é possível fazer um Orçamento mais parco sem pôr em causa princípios ético-políticos que devem mover os partidos socialistas, nomeadamente o princípio de que primeiro está o bem-estar das pessoas e o respeito pela dignidade humana."
Não posso estar mais de acordo com o que São José Almeida escreveu. Acrescentaria talvez apenas três pequenas notas.
Em primeiro lugar, para sublinhar a ideia de que se o OE2011 é mau, não pelas razões apontadas pela generalidade dos seus críticos, mas porque revela ter sido feito em cima do joelho, para acudir a problemas conjunturais. Havia e há alternativas possíveis à leviandade. "Trata-se de uma questão de opções e prioridades," como sublinhou Carlos César a propósito da iniciativa açoreana. Está provado!
Em primeiro lugar, para sublinhar a ideia de que se o OE2011 é mau, não pelas razões apontadas pela generalidade dos seus críticos, mas porque revela ter sido feito em cima do joelho, para acudir a problemas conjunturais. Havia e há alternativas possíveis à leviandade. "Trata-se de uma questão de opções e prioridades," como sublinhou Carlos César a propósito da iniciativa açoreana. Está provado!
Em segundo lugar, o PSD que apoiou este OE por dever patriótico e que colhe por isso dividendos políticos, na prática, mais não fez do que dar luz verde a um instrumento leviano e mal feito. Ao deixar passar o OE o PSD revelou que, nas mesmas condições, faria exactamente as mesmas opções levianas, que este governo fez. O PSD (para quem imagina que poderia ser alternativa política a este PS) aprendeu na mesma cartilha e dele não se poderia esperar uma política diferente. Tem de pagar a factura política!
Como nota de rodapé, vai um aplauso para a reacção de Carlos César à crítica de Alberto João Jardim. É digno de registo ouvi-lo dizer, com todas as letras, que o presidente do Governo Regional da Madeira "não tem vergonha nenhuma!" É que não tem mesmo, mas ninguém lhe diz. Talvez Jardim venha a ter de meter a viola no saco mais cedo do que pensa...
2 comentários:
Não li (ainda) o artigo em questão, mas seja qual fôr o ponto de vista, a decisão de César é indefensável. Trata-se de uma lei de excepção (provavelmente constitucional) que visa favorecer uma parte da população portuguesa em detrimento de outra. Pior, divide os próprios funcionários públicos, pois passam a existir duas classes de funcionários (os do continente e os das ilhas). Se é assim, porque é que os deputados açoreanos votaram a favor do OE 2011, que penaliza todos os funcionários portugueses por igual?
O César é um biltre, como de resto o Jardim, e representa o mais desprezível da política portuguesa: o cacique regional que compra votos (clientelas) com benefícios que dá aos seus votantes. É por estas e por outras que a sociedade portuguesa - enfeudada em ordens e corporações - não avança. É ver o número crescente de funcionários públicos que todos os anos vão engrossar o aparelho de estado. São estas clientelas (a maior parte delas nomeadas) que vão dar apoio aos partidos do poder, em troca de um emprego para a vida. Chama-se a isto, no jargão antropológico, "patronage relationships". Está tudo estudado e já existe na Sicília (que por acaso também é uma ilha) desde 1860.
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