2010/12/13

Quem tem medo da Wikileaks?

Era inevitável. Mais cedo ou mais tarde, as revelações da Wikileaks teriam de "chegar" a Portugal. Foi hoje e faz manchete nos principais orgãos de informação. Nada que nos deva surpreender. Todos os países e governantes têm "telhados de vidro" e o sigilo das chancelarias é, na maior parte das vezes, um eufemismo para a hipocrisia diplomática. Curiosos não são os adjectivos usados pelos serviços da embaixada que descrevem Sócrates como "carismático", Cavaco como "vingativo", ou Alegre como "dinossáurio de esquerda". Curiosas, mesmo, são as notícias que revelam a dupla faceta do presidente do BCP (Carlos Santos Ferreira) e do papel do banco português no conflito Irão-EUA, ou (mas isso já suspeitávamos) as dúbias afirmações de José Sócrates, a propósito da passagem de prisioneiros da CIA pela base das Lajes.
Não faltarão as habituais reacções - de apoio e condenação - às últimas revelações da agência de Julian Assange. Desta vez não são os EUA os visados, ainda que, indirectamente, a política americana esteja, mais uma vez, implicada.
Trata-se de algo mais grave: a ingerência de um banco português na política de um país estrangeiro; e as mentiras do primeiro-ministro no famigerado caso de voos para Guantánamo.
São estas notícias verdadeiras? Tudo indica que sim. Trata-se de textos, extraídos de e-mails, enviados da embaixada americana em Lisboa. Porque haveria de ser mentira?
São estas revelações de interesse público? Certamente que sim.
Devem ser tais textos publicados? Se os textos são verdadeiros e foram validados por jornais de referência (neste caso, o "El Pais") é porque são de interesse jornalístico.
A liberdade de informação é um direito adquirido das democracias avançadas e constitui um pilar essencial - quiçá o mais importante - da liberdade de opinião. Pesem algumas críticas que possam ser feitas aos conteúdos e ao "timing" das revelações, entretanto vindas a lume, é sempre preferível saber de mais do que saber de menos. Aos cidadãos, em geral, de extrair as suas conclusões e agirem em consequência. Contra a difamação e os infractores existem sempre os tribunais. Estas devem ser as regras do jogo.
É preferível uma sociedade onde possam existir "wikileaks" do que uma sociedade que os proíba. Esta é a minha convicção mais profunda e bater-me-ei por ela. E você?

1 comentário:

Carlos A. Augusto disse...

Sem dúvida Rui! Também concordo com a importância de coisas como o Wikileaks. Afinal o problema reside apenas no facto de o poder, os poderes não se terem apercebido que é extremamente fácil denunciar estas coisas.
Um "wiki" é isso mesmo: um faça-você-mesmo (sem grande aparato tecnológico, nem conhecimentos especiais de "novas tecnologias") o que quer que seja. Temos wikis de tudo (técnicos, enciclopédicos, etc, etc), porque não um denunciando as malfeitorias dos poderes? Não percebo por que razão a célebre questão da corrupção em Portugal, por exemplo, não foi já objecto de um wiki. Aqui fica uma sugestão...
Quanto ao BCP, já se começa a perceber mais um pouco do fio da meada. Veja-se aqui. É como as bruxas!!!