2011/03/06

Incertezas e desafios

Há dias, o dr. Jorge Sampaio declarou numa conferência que teve lugar no Porto: "Portugal está em apuros". Não sei a que "Portugal" o ex-Presidente da República se referia. Não sei se falava do "meu" Portugal, que está efectivamente à rasca e não sabe para onde se há-de virar, ou se de um outro "Portugal", o dos banqueiros, gestores milionários, oportunistas e especuladores, a quem a crise, misteriosamente, poupa ou trata com grande suavidade. Não sei se falava do "meu" Portugal que se vai queixando para dentro, ou se de um outro, o dos média controlados pelos banqueiros, gestores milionários, oportunistas e especuladores, que transformam os seus interesses de forma despudorada em doutrina do Estado, arrebanhando os megafones todos para nos fazer crer que o fazem em nome do nosso interesse, em nome do interesse do "meu" Portugal. Não sei se se referia ao "meu" Portugal sem voz, ou o dos desavergonhados que, a soldo de banqueiros, gestores milionários, oportunistas e especuladores, a toda a hora emitem grande soma de opiniões, mais doutas certamente que as minhas porque, a eles, os microfones e as câmaras os procuram constantemente e com grande sofreguidão para  colher essas opiniões que depois se transformam na coisa. Não sei se o "Portugal" do dr. Sampaio é o dos banqueiros, gestores milionários, oportunistas e especuladores, cujo estatuto resulta também da total impunidade e regabofe que grassa no exercício da justiça, ou se é o daqueles que são vítimas de tudo isso. Não sei se o "Portugal" que o dr. Sampaio classifica "em apuros" é o Portugal dos banqueiros, gestores milionários, oportunistas e especuladores, malandrins que cometem as mais inconfessáveis malfeitorias públicas ou o outro, o "meu" Portugal que as acaba sempre por pagar e que por isso... está em apuros. Não sei se o "Portugal em apuros" será o daqueles que têm um iate de 24 m e agora têm de tomar a grave decisão de reduzir para um de 17 m, certamente um momento de verdadeiro apuro para eles...
Não querendo perturbar a bonomia do dr. Sampaio, nem a languidez do seu retiro, deixava-lhe contudo um desafio para, quando achar conveniente, precisar melhor a que raio de Portugal se referiu ele na sua arenga.

1 comentário:

Rui Mota disse...

Sampaio é um eunuco que se limita a constatar o óbvio, como de resto sempre o fez quando esteve em lugares de decisão política. Os seus mandatos presidenciais foram marcados pela indecisão e pelo medo, como ficou bem patente na nomeação do patético Santana Lopes. Um fraco, que sempre pactuou com as forças poderosas deste país, às quais pertence, disfarçando a sua impotência com discursos redondos que ninguém entende.