Se alguma surpresa houve no discurso de ontem de Cavaco Silva, só pode ter sido a tónica posta na crise da juventude e o seu apelo ao "sobressalto cívico", que poderá ser interpretado como uma adesão à manifestação da geração de desempregados, agendada para sábado. Algo de surpreendente num presidente conservador e cauteloso nas palavras.
Alguns comentadores de serviço (António Barreto, Miguel Sousa Tavares) logo se apressaram a catalogar este apelo como uma tentativa do presidente em "cavalgar a onda" da contestação ao governo. Pode ser que sim. Cavaco tem, certamente, uma agenda política e - a acreditar nos "tudólogos" - tudo fará para tornar a vida mais difícil a Sócrates. Até aqui, isto faz algum sentido.
O que não parece fazer tanto sentido é a "avalanche" de críticas, veladas ou explícitas, de figuras gradas do regime, como Soares ou Sampaio, para já não falar nos inúmeros artigos e "blogs" afectos ao governo (Jugular, Aspirinab, Câmara Corporativa) que não perdem nenhuma ocasião para menosprezarem a geração dos "Deolindos". Como se a banda pop tivesse alguma culpa da popularidade atingida pela sua canção.
Tavares, uma das pitonisas de serviço, chegou mesmo a afirmar que o "manifesto", que convoca a manifestação, é dúbio e anti-partidos, não se sabendo bem quem a convoca (uma "nublosa" nas suas palavras). Ou seja, um terreno propício para a demagogia. Daí ao aparecimento de figuras populistas e ao fascismo é um passo...
Quem diria que um simples protesto divulgado pela Net (certamente inspirado pela "rua" árabe) viria a constituir motivo de discussões acaloradas e longos editoriais de tanta gente responsável (que sempre criticou o descalabro da política sem norte e autista do governo) e agora se mostra chocada com um protesto contra uma situação que sempre denunciou?
Não sei o que se vai passar no sábado, mas uma coisa parece certa: poucas vezes um apelo (aparentemente sem "dono") causou tanta irritação a tanta gente. É isto uma coisa má? Não necessariamente. Como não é má, nem boa, a moção de hoje, apresentada pelo BE, ou a vitória dos "Homens da Luta" na Festival da Eurovisão. São apenas sinais de que alguma coisa está mal na sociedade e que a população anónima começa a estar farta desta classe política. Anda, de facto, alguma coisa no ar...
1 comentário:
Entretanto, "the show must go on"... "Portugueses retiram mais 200 milhões de euros dos fundos" diz o Económico... Ou, os cães ladram e a caravana passa... Ou dá Deus as nozes a quem tem telhados de vidro desdentados... Whatever!
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