2011/05/26

Os abortos

O país, já se sabe, está como está. Todos o sentimos e todos nos interrogamos como é possível tudo isto acontecer e todos nos angustiamos com isso. Os alertas sobre o que se está a passar são constantes, vêm de dentro e de fora. Os dados são arrasadores. Enquanto isso, fenómeno peculiar, a caravana eleitoral ladra.
Uma artigo de Manuel M. Carrilho faz o elenco dos temas ausentes desta "campanha". São muitos. Um outro artigo de Álvaro S. Pereira desenha as ilustrações da crise. Acompanha bem a leitura do artigo de Carrilho. Mas, vendo a campanha eleitoral, somos levados a concluir que não se passa nada. Os problemas verdadeiros do país estão totalmente ausentes. Há uma angústia generalizada, há um país real que sofre e se interroga, e há um outro, feito desta minoria de imbecis que gere a política do país, que passa ao lado de todo este sofrimento. As instituições políticas vivem de costas totalmente voltadas para o povo. Já nem sequer disfarçam, perderam a vergonha e o pudor. A política faz-se, perigosamente, muito já do lado de fora dessas instituições.
Quem esteja minimamente (minimamente!) atento não pode deixar de se sentir nauseado com tudo o que vê à sua volta.
Como se tudo isto não bastasse, do menu proposto para resolver os problemas em que estamos neste momento envolvidos, constam tão somente dois pratos: um de "peste" e outro de "cólera", para citar uma ideia do dito artigo do M. M. Carrilho. O Rui Tavares colocou o problema que enfrentamos neste momento de uma forma, quanto a mim, notável neste seu artigo de ontem do Público. Estamos de facto perante duas catástrofes.
E, neste clima de tornados e terramotos, vem o tsunami: Passos Coelho volta à carga com mais um daqueles temas de campanha de que só ele e a sua entourage se haviam de lembrar: a lei do aborto! Que, não-sei-quê, temos de rever a lei, que admite um novo referendo, que talvez tenhamos ido longe demais, rebéubéu-treco-lareco... Um tema que vai certamente mobilizar entusiasticamente os mais de 700 000 desempregados, os milhares de velhos que levaram mais uma dentada nas suas pensões já trincadas ou o exército de jovens que, em busca das suas portas do sol, anda a ver como há-de dar o salto daqui para fora. O salto de novo.
O aborto é um tema que mostra bem o que valem os problemas do país para o seu autor e as ideias que tem para os resolver. E é um tema que mostra também, pela resposta mais ou menos séria que mereceu das restantes forças políticas, o que toda esta gente pensa de nós e do papel que julgam caber-lhes na condução da política do país.
Mas, eu também tenho opinião sobre eles. Acho que a lei do aborto peca por defeito ao não prever a eliminação sem apelo nem agravo, gratuita e universal, de uns quantos abortos vivos e satisfeitos com esta sua condição, que por desgraça nos caíram no prato da sopa.

3 comentários:

Rui Mota disse...

A direita atávica e retrógada não tem emenda! Como não bastasse já o alarve do "professor pintelho", vem agora o "africanista de Massamá" lembrar a lei da liberalização do aborto. Ele há cada um! Mas, em que país vivem estas iluminárias?
Entretanto, ninguém discute a questão da Grécia, a um passo da bancarrota por incumprimento das exigências do FMI, um mais que provável cenário para Portugal.
Esta gente não se enxerga.

Rini Luyks disse...

Viva a luta nas ruas da Grécia!
A Espanha também não está mal.
Agora será a vez de Portugal!?

Carlos A. Augusto disse...

É verdade, viva a luta! apesar dos espanhois dizerem que a manif de 12M foi a inspiração, tarda uma resposta mais firme aqui na Tugaland. mas isto aquece, aquece...