Nunca o marxismo, na sua tendência grouchista, foi tão pertinente. No registo do pensamento marxista-grouchista há, recordar-se-ão, aquele célebre telegrama enviado à direcção do exclusivíssimo Friar's Club de Beverly Hills, em que Groucho Marx pede a demissão porque, justificava ele, "não quero pertencer a um clube que me aceita como membro."
O ministro das finanças alemão diz-se contra o que ele chama de "apoio ilimitado" aos países afectados pela crise da dívida soberana. Diz-se também contra as chamadas eurobonds. A França ajuda à missa. Em contraponto, parecem existir sectores do governo alemão que admitem as eurobonds. A Itália aperta o cinto. A Espanha tenta acertar na fivela. Em Inglaterra surgem vozes preocupadas. Os efeitos da propagação da crise da dívida irão certamente repercurtir-se seriamente neste país. As reformas operadas em Inglaterra, mesmo com esta fora da zona euro, correm o sério risco de esbarrar contra a evolução da crise da moeda única. A Inglaterra está, por tabela, em risco de ter de calçar os motins e deslizar por aí fora.
O desafio para a Europa não está na forma de lidar com a dívida dos Estados Unidos, mas na inabilidade da Europa "Desunida" para resolver a sua própria crise. Ninguém parece estar a salvo, o perigo de desagregação é iminente. Mesmo assim, ninguém parece conseguir entender-se. A imagem que fica é a de uma Europa totalmente à deriva. Entretanto, George Soros e outras vozes sugerem que a Grécia e Portugal deviam sair da zona euro.
A Europa aceitou Portugal, Grécia e Irlanda como membros dos seu Friar's Club. Está porventura na hora de levar a tese marxista-grouchista mais longe: estes países não deveriam permanecer num clube que os aceitou como membros. Sair agora seria, para nós, um acto de higiene elementar. Uma espécie de triunfo dos "pigs".
A saída provocaria, estou certo, um debate sério, externo e interno, em claro contraste com a falta de debate sobre a entrada e sobre o pecado original da falta de democracia do projecto europeu. A saída permitiria ouvir os europeus sobre o que pensam sobre a Europa, sobre o euro, sobre os alargamentos passados e futuros (se é que pensam alguma coisa), sobre a sua noção de "comunidade". A saída levaria, estou certo, a reflectir sobre o modo como vai sobreviver a Desunião Europeia, agora que o poder mora lá longe, agora que é mais claro o modo como a Europa alicerçou a sua riqueza, agora que a América tem mais com que se preocupar, agora que a vantagem cultural europeia se esvaiu.
2 comentários:
Por este andar, o Soros ainda é capaz de comprar a dívida portuguesa. Deviam tê-la vendido ao Ramos Maçon Horta, que não sabe o que há-de fazer ao dinheiro do petróleo de Timor...
A Europa toda é que tem que andar a... Soros!
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