2011/10/20

Ruptura, precisa-se!

 Para quem tem dúvidas sobre o tipo de regime que é imposto aos Portugueses —o regime que nos conduziu até ao actual estado de coisas—, basta atentar na reacção dos partidos com assento na AR ao OE2012.
Numa altura em que até gente que conheço, simpatizante fiel do CDS, demonstra sinais de enorme descontentamento, desconforto e apreensão, numa altura em que ocorrem manifestações por todo o país, se anuncia uma greve geral, organizada pelas duas centrais sindicais, e há uma agitação latente e indisfarçável, o que vemos nós?
Uma direita arrogante, a tentar naturalmente explicar aos portugueses o inexplicável —sem grande sucesso diga-se—, perdida, sem consenso, dissonante, exaurida, a direita do foste-tu!, que mete nojo. Sempre meteu, mas agora mete mais... 
Mas, também, uma esquerda estúpida, encolhida, acomodada, amorfa, sem criativiadade, sem coragem para se impôr pelas suas ideias. Uma esquerda que demonstra um indesculpável "medo de exisitir".
Do lado do PS, uma espécie de esquerda-direita-op-dois, incapaz de colocar fim à política do uma no cravo e outra na ferradura, sempre à procura da via, terceira, quarta, que só pega de marcha atrás. O OE2012 é a morte do País? Contem connosco para o viabilizar, grita Seguro. Nisto estão todos de acordo: a morte do País merece consenso entre os partidos do "arco do poder". O PS finge que é oposição, mas esparrama-se diante da direita como uma ninfomaníaca, cobarde, incapaz de aproveitar a ocasião para se diferenciar finalmente dessa direita, comprometido que está com os tabus e as catacumbas deste regime. Não há qualquer esperança de ver um PS diferente. 
Mais à esquerda, encostados às tábuas, vemos um BE light e um PCP ensosso. Esquerdas que não se percebe bem o que andam a fazer, acomodadas, subjugadas ao dízimo que o regime lhes proporciona, inexplicavelmente agarradas às liturgias do sistema, formais, alinhadinhas, penteadinhas, totalmente incapazes de aproveitar o descontentamento generalizado e de captar para a sua causa importantes sectores da sociedade portuguesa, vítimas objectivas das tropelias do poder, que finalmente perceberam que não são, nem nunca foram classe dominante e que a Classe A também se abate. Uma esquerda que elegeu a falta de gravata como único sinal visível e material do seu "inconformismo". De resto, zero! 
A incapacidade da esquerda para segurar o momento e ser motor desta ruptura necessária é confrangedora.
Numa altura em que ruptura é a única resposta possível à "crise" a que nos condenam as forças mais obscuras da sociedade, numa altura em que é preciso reunir todas as forças para combater esta política  escandalosa que empurra o povo português para a quase barbárie, em que as circunstâncias estão maduras, como jamais estiveram, para produzir as mudanças profundas e necessárias, os partidos que se auto-proclamam de esquerda mostram-se sem iniciativa, quando muito reactivos, acomodados, amorfos, impreparados, sem criatividade. 
A narrativa de esquerda está de tal forma carcomida pelo bicho que até o CDS e alguns dos seus militantes aparecem por vezes com o discurso mais progressista que se ouve hoje em Portugal. Algo está profunda e preocupantemente mal quando assim acontece. A narrativa de esquerda está de tal forma de rastos que até um personagem sinistro como Cavaco Silva se atreve a pegar em valores de esquerda, apropriar-se deles e pregá-los desavergonhadamente, como se estivesse a jogar em casa! É inaudito!
O exemplo da Madeira é particularmente chocante e ilustra bem o que se passa à esquerda da vida institucional portuguesa. Derrotada em toda a linha, por via de uma actuação política verdadeiramente dasastrosa e vergonhosa, derrotada por um personagem que não devia existir, que em qualquer sociedade civilizada teria já sido declarado interdito, a esquerda, as esquerdas da Madeira deviam simplesmente fazer seppuku. A sua derrota humilhante diz bem da "superioridade moral" de que esta esquerda impotente e serôdia se reclama... 
É necessária ruptura, mas faltam políticos para a produzir. À esquerda, nas esquerdas, está faltando gente com tomates!

3 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

A ruptura...

MariahR disse...

Subscrevo inteiramente esta sua análise. e acrescento: estamos feitos!!

Carlos A. Augusto disse...

Numa coisa alguns comentadores têm razão: a crise é internacional e é mais uma crise de anatomia...