2012/01/13

Nomeações, indigitações e outros vilões

A actual polémica sobre as "nomeações" (as quais, eufemisticamente, Telmo Correia apelidou de "indigitações") para cargos directivos da EDP e das Águas de Portugal, é pertinente, mas não deve causar surpresa. Pesem as promessas feitas durante as campanhas eleitorais, todos os líderes partidários, sem excepção, fazem exactamente o contrário, mal chegam ao governo. Como, em 37 anos de democracia, o poder foi partilhado por 3 partidos apenas (PS/PSD/CDS) é fácil perceber quem nomeou quem nas últimas décadas. Desta forma, a "casta" governante reproduz-se geracionalmente, seja através das estruturas partidárias ("jotas", distritais ou conselhos directivos de variada ordem) seja através da "cunha" e das "famílias" que, desde sempre, governaram o país. Mais do que a competência ou a meritocracia, importa a fidelidade (de preferência "canina") ao chefe e ao cartão partidário, quando não às "irmandades" de duvidosas práticas.
Podia ser diferente? Podia, mas seria sempre difícil, num país onde o nepotismo e o clientelismo há muito fazem parte da cultura dominante (o que de resto é comum à maior parte das sociedades mediterrânicas, patriacais e católicas, onde o patrocinato é um modo de vida). Por alguma razão, o "crime organizado" (o verdadeiro, o da Bayer) nasceu num país a Sul e não na Escandinávia, ainda que haja patrocinato em todas as sociedades sem excepção. O seu grau é que varia, na razão inversa do desenvolvimento social e económico das respectivas sociedades. Por isso, Portugal, um dos países com mais baixos níveis de instrução e maiores desigualdade sociais na Europa, tem vindo a subir nos "rankings" internacionais da corrupção. Porque, para haver corrupção é necessário um corrupto e um corruptor, percebe-se melhor a situação de total dependência a que chegou a maior parte dos portugueses. Uma vez criada a "dependência" da população (agora, através do empobrecimento acelerado de parte significativa desta) mais fácil é amendrontá-la e pressioná-la a aceitar esta situação de total impunidade para os poderosos. Para não ser excluído, o português aceita a "protecção" e a "fidelidade", sendo a melhor forma a adesão a um partido, ou seita, que lhe garantam algum bem estar e sossego. Dá o voto ao "chefe" e, caso este seja eleito, poderá receber algumas migalhas do bolo do poder em troca. Em caso de dúvidas, ou litígios judiciais, estão lá os tribunais para manterem o "sistema" a funcionar. Para quem não aceita a situação, a alternativa é emigrar, como quer o outro...
Por isso, não devemos estranhar que (ex)dirigentes passem alegremente das cúpulas partidárias para o governo e deste para as empresas, primeiro do estado e, depois, como no caso da EDP, para as privadas. O "sistema" reproduz-se assim, ainda que para isso seja necessário a conivência e aceitação da maioria silenciosa que continua a votar nos mesmos partidos e, dessa forma, a perpetuar o seu poder. Um círculo vicioso.

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