2012/01/18

Voando sobre um ninho de cacos

Ia alta a madrugada, diz-se, quando foi assinado o acordo de des-concertação social. Os obnóxios do costume, certamente já meio a dormir, deram a mão aos representantes dos subsídio-dependentes, parasitas, patrões do comércio e da indústria e deram a mão ao governo. Ficaram todos contentes. De mãos dadas. No fim sorriram certamente para a objectiva de algum fotógrafo noctívago ou para o telemóvel do Catroga de serviço, exibindo as olheiras da noite mal dormida.
Em tempo de reacções, uns sublinharam o falso problema que está em jogo neste acordo, lembrando que os custos com o trabalho não são a componente principal do défice da nossa economia e que mesmo que se mude a legislação laboral todos os anos nada se alterará enquanto não existir um novo modelo de desenvolvimento económico, enquanto outros se congratularam com o acordo alcançado, cantando loas à "coragem" do ministro e da tendência sindical da vergonha. Lembraram ainda outros que este acordo dá uma imagem boa para os mercados.
Este parece ser o dilema em Portugal: governar a sério, com novo rumo, enfrentando os verdadeiros problemas do país com verdadeira coragem e elevando a voz na Europa, ou governar para a imagem, navegando na velha rota, com o mesmo navio e a tripulação de piratas do costume, escaqueirando ainda mais as condições de vida dos trabalhadores portugueses.
O governo, os patrões e os seus serventuários escolheram.
Resta-nos tudo fazer para lhes escaqueirar a vida deles também.

6 comentários:

Carlos A. Augusto disse...

"UGT bateu o pé e conseguiu segurar o feriado do 5 de Outubro"
Uma indesmentível demonstração de coragem! Viva a República! Assim-se vê-a força da UGT!!

Rui Mota disse...

O Proença passará à história (se lá chegar) como o sindicalista mais "amarelo" do pós-25 de Abril. Uma vergonha, o homem!

Royal Lisbon Hostel disse...

Parece que os novos reacionários são aqueles que já foram progressistas; agora são os novos “reaças”. É pena.
Sobre os custos do trabalho: é evidente que os custos do trabalho são a componente mais significativa numa economia de alto valor acrescentado, não perceber isto é não perceber nada de economia.

Carlos A. Augusto disse...

Não percebo bem a parte inicial do comentário. Quem é que são os progressistas de antanho e os novos reaças?
Quanto à questão dos custos do trabalho, o comentário do Luís Bento, que pode ser ouvido na TSF na íntegra, é claro: no âmbito do aumento da produtividade, os custos do trabalho são os que menos pesam no contexto dos problemas que as empresas enfrentam. Pior é a situação relativa aos custos da energia, logística, etc. Estamos a falar da situação actual do País. Nessa perspectiva não sei onde é que pode caber a noção de "economia de alto valor acrescentado". Se estivéssemos nesse patamar em Portugal não estaríamos certamente a ter esta discussão. Parece-me legítimo aceitar que os custos do trabalho são os que menos pesam hoje em Portugal porque hoje temos uma economia de baixo valor acrescentado.
Também não percebo por que razão não se aproveita este momento de crise e de reformas para apostar decidida e fortemente na requalificação da mão de obra portuguesa preparando-a para o desafio de uma alteração do modelo de desenvolvimento económico. Qualquer ordenado do Catroga na EDP dava para formar um grupo de operários altamente especializados e qualificados, creio eu...
O que espanta é que não se esteja a trabalhar no sentido de transformar a economia portuguesa e se continue a atamancar em vez de construir de raiz. Espanta-me que, como parece, se esteja à espera que a crise e o desespero nos empurrem a todos para soluções mais radicais. Espanta-me que não haja um entendimento profundo, leal e sem preconceitos bacocos entre trabalhadores e empresários no sentido de fazerem inverter este estado de coisas. Este País merecia mais do que o que os situacionistas de hoje lhe estão a oferecer.
Haverá dúvidas sobre quem é que impede que este estado de coisas se altere?

Rui Mota disse...

Pensar que a redução dos salários e aumento das horas laborais é a panaceia para todos os males da economia portuguesa, é um completo disparate. A economia portuguesa não cresce, porque a productividade (valor acrescentado) é baixa. Isso deve-se à baixa formação dos trabalhadores e dos empresários portugueses, por um lado; e à deslocação do capital para as economias de mão-de-obra barata, por outro. Portugal não pode competir com a qualidade alemã, nem com os baixos salários da China. Isso foi possível até há vinte anos atrás, quando tinhamos uma moeda que podiamos desvalorizar e não estávamos na UE. Neste momento, fazemos parte da mesma moeda, mas as economias são desiguais: Enquanto Portugal exporta 40% do seu produto, a Alemanha (o nosso segundo maior parceiro) exporta 80%. Porque a economia não cresce, temos de pedir dinheiro emprestado aos alemães, para comprar os seus produtos. As medidas anunciadas ontem, não vão mudar a desigualdade destas relações. Continuar a bater na tecla dos (altos) salários que supostamente impedem a competividade de Portugal, ou que os portugueses vivem acima das suas possibilidades (quando já temos os salários mais baixos da zona euro) é não perceber nada de economia...

Rui Mota disse...
Este comentário foi removido pelo autor.