É fatal, como o destino. Todos os anos, por esta altura, as histórias mais inverosímeis enchem os orgãos de comunicação social. Com a classe política "a banhos" e o país "a ferro e fogo", os jornalistas necessitam de "casos" que ajudem a vender o seu produto.
Nos países anglo-saxónicos chamam-lhe "silly season", nos germânicos "komkommertijd" (época dos pepinos) e nós? Talvez, "pepineiras".
O que, aparentemente, começou por ser um caso de financiamento governamental para um projecto de painéis solares em Abrantes, ameaça transformar-se num argumento digna de Le Carré, mestre do romance de espionagem.
A história conta-se em poucas palavras: Alexandre Alves, o famigerado "barão vermelho" (a cognome é todo um programa) foi acusado pelo ministério da economia de ter recebido uma avultada quantia do estado para iniciar um projecto de painéis solares. Dado que o projecto, por falta de verbas, não avançou em tempo útil, o governo quer o dinheiro de volta. Questionado por todas as estações televisivas em "prime time", Alves negou ter recebido qualquer verba do governo (o que foi corroborado pelo, então, presidente do Aicep) e apelidou de mentirosos os ministros que faziam tal calúnia. Foi assim na RTP, na TVI e na SIC. Faltava a SICN, onde Crespo, o "rei da pepineira", resolveu tirar da cartola, o trunfo das grandes revelações: Zita Seabra, personagem digna de um romance tantas são as histórias que deve ter para contar...
E o que disse a Zita, instada pelo Mário sobre o "verdadeiro papel" da FNAC (não confundir com a cadeia francesa de produtos culturais), uma empresa de ar condicionado da qual Alexandre Alves foi presidente executivo nos anos oitenta? Que a "Fábrica Nacional de Ar Condicionado", a exemplo de tantas outras (jornal "O Diário", Editora "Caminho") era uma empresa do PCP, apoiada pela RDA (Alemanha de Leste), que teria um especial interesse em vender "ar condicionado" ao estado português...
"Deixe cá ver se percebi bem", salivava o Crespo, antevendo a resposta à sua pergunta retórica: "A senhora está a dizer que a RDA queria vender aparelhos de ar condicionado aos ministérios, para poder pôr lá dentro microfones de espionagem? Em plena "guerra fria"?
E Zita, rindo de matreira: "Bem, não posso afirmar que havia lá microfones, porque nunca os vi, mas que a RDA tinha um especial interesse em promover esses aparelhos, isso era claro"...
Porque o jornalismo também é feito de contraditório, o Crespo lá convidou o Alexandre Alves para rebater a tese. Este explicou, de forma muito clara, o que estava a contecer e reafirmou que nunca recebeu qualquer dinheiro do governo, pela simples razão que o projecto nunca arrancou. Tornou a chamar mentirosos aos nossos governantes e desvalorizou as afirmações da Zita, de quem disse que "anda a viver à custa do anti-comunismo há mais de vinte anos".
O Crespo, que não acreditava no que ouvia, não resistiu à última provocação: "Não o incomoda ser apelidado de "Barão Vermelho"? Ao que Alves responderia que era público que ele tinha sido militante do PCP há vinte anos e que, para além disso, era do Benfica...
Hoje o DN notícia, em primeira página, que o Procurador Geral da República resolveu abrir um inquérito sobre as alegadas espionagens do PCP, no seguimento das acusações de Zita Seabra no programa da "Pepineira". A coisa promete. Resta-me uma dúvida metódica: Será que os aparelhos da FNAC, vendidos ao Sporting, tinham microfones do Benfica instalados?
1 comentário:
Propunha "jornalismo de 1º de Abril" em vez de "pepineira", um termo talvez demasiado brando.
A vantagem do "jornalismo de 1º de Abril" é que assim toda a gente está alertada e à espera da peta.
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