2012/08/06
Um Cineasta Olímpico
Quem, por norma, assista às cerimónias de abertura e de encerramento dos Jogos Olímpicos, lembra-se, certamente, de Pequim. De todas as que vi, as cerimónias de 2008 foram as que mais me impressionaram. O principal responsável por esse evento foi Zhang Yimou.
Zhang Yimou (1951) é o maior cineasta chinês da actualidade. Nascido numa época conturbada - a revolução maoista estava a dar os seus primeiros passos - cedo teve de interromper os estudos e, devido às suas origens "burguesas", obrigado a trabalhar no campo e numa tinturaria. Mais tarde, estudou fotografia. Estas experiências, com a realidade camponesa e com as cores, viriam a marcar toda a sua obra de cineasta. Terminada a "revolução cultural" e os seus desvarios, Yimou candidatou-se à Academia de Cinema, que o recusaria por não ter qualificações e mais de 27 anos, considerada a idade limite para admissão. Graças à reabilitação artística da época, acabaria por ser admitido e graduou-se em 1982. Do mesmo curso, sairiam alguns dos nomes mais sonantes do cinema chinês actual, como Chen Kaige, Tian Zhuangzhuang e Zhang Junzhao, também conhecidos como a "5ª geração".
Data de 1987 a sua primeira longa-metragem, "Red Sorghum" (o campo de milho vermelho)
que, no ano seguinte, conquistaria o Urso de Ouro do Festival de Berlim. Seguem-se cerca de 20 títulos, dos quais os mais famosos - "Ju Dou" (1990), "Raise the red lantern" (1991), "The story of Dou Ju" (1992), "To Live" (1994), "Shanghai Triad" (1995), "Not one less" (1999), "Hero" (2002), "House of Flying Daggers" (2004) - ganharam todos os grandes festivais (Berlim, Cannes e Veneza) e os óscares para o melhor filme estrangeiro (duas vezes) em Hollywood. Nem todos foram distribuidos em Portugal, mas os mais populares foram editados em DVD. Se tiverem de ver um, escolham "Raise the red lantern" (Esposas e Concubinas), provavelmente a sua obra-prima.
Acontece que, depois de reabilitado, Yimou passou a ser idolatrado. No Ocidente e não só. Daí, o convite do governo chinês para dirigir a coreografia da delegação chinesa em Atenas (2004) e, quatro anos mais tarde, as cerimónias de Pequim. Sobre o evento escreveria Steve Spielberg, o famoso realizador americano: "no centro da cerimónia olímpica de Zhang, esteve a idéia que o conflito do homem profetiza o desejo de paz interior. Este é o tema que ele explora e aperfeiçoa nos seus filmes, sobre a vida de humildes camponeses e da exagerada realeza".
Com tantos créditos a seu favor, não é difícil a Zhang conseguir apoios para os seus filmes. O último, "The Flowers of War", actualmente a passar nas salas portuguesas, teria custado mais de 90 milhões de dólares. Com tanto dinheiro à disposição, mal seria se alguma coisa falhasse. Mas, falhou. Não que o filme não se veja. Os ingredientes de uma boa história estão todos lá, Há ainda a "mise-en-scene" e direcção de actores, as cores e a fotografia, tudo de uma excelência ímpar. Mas não chega. Perpassa por todo o filme um moralismo e heroísmo de pacotilha, aliado ao nacionalismo bacoco, expresso no maniqueísmo do Bem (China) contra o Mal (Japão), típico dos filmes americanos do pós-guerra. Algumas das cenas (combates entre o soldado chinês e o destacamento japonês) e a personagem do herói, interpretada por Nolan, recordam-nos "O soldado Ryan" e "Indiana Jones" de Spielberg. Não tardará muito e Yimou será convidado a filmar nos Estados Unidos...
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