Há muitas conclusões a tirar dos acontecimentos dos últimos dias. Deixem-me referir um acontecimento em particular -a entrevista de Manuela Ferreira Leite- e duas ou três conclusões que dela se podem tirar. Haveria muito mais, seguramente, a referir, mas as minhas limitações de acesso à net neste momento obrigam-me a ser económico.
Desde há tempos que se ouve muita gente sugerir que apenas um acontecimento excepcional poderia tirar os portugueses deste estado letárgico em que se encontram, com Coelho, Portas, Gaspar & Troika Lda. a desferir golpe atrás de golpe, sem que se perceba uma reacção, sem um sinal vital a manifestar-se.
Pois bem, o acontecimento excepcional aí está: Manuela Ferreira Leite abriu o livro e Coelho ficou de repente a ver os dias contados.
Não disse nada de novo nem apontou saídas, é certo. Usou argumentos que há anos os mais atentos vêm repetindo sem cessar. Foi a voz do senso comum. Usou argumentos a que as oposições poderiam ter já há muito dado conveniente expressão política. Argumentos que as oposições têm usado, quando as usam, sem um milionésimo da eficiência. Leu tão bem o momento que até quase se situou na cabeça da manif de 15/9.
O certo é que depois do que disse Ferreira Leite, Coelho e o seu gang podem começar a fazer as malas. A porta da rua desencravou-se. É uma questão de tempo.
A intervenção de M. F. Leite mostra ainda outra coisa: a janela de consenso político em Portugal é afinal mais ampla do que se supõe. Haja democratas! Se calhar é mesmo esse o problema...
O que impede esse consenso é matéria de reflexão para todos nós. Temos todos culpas no cartório, mas o preço que estamos a ter de pagar para perceber tudo isto era escusado.
A solução dos problemas que afligem o País não vem nem virá das palavras de M. F. Leite. Mas não deixa de me parecer irónico que tenha sido a criatura que queria enterrar os velhos mais cedo e admitia a suspensão da democracia que talvez tenha tido um inesperado papel na sua salvação.
Passos Coelho, entretanto, se precisares de alguém para te ajudar a fechar a mala, escreve aqui para o Face.
1 comentário:
Também penso que chegámos a um ponto de não retorno. O problema é que a Manela fala em sintonia com o Cavaco que perdeu o pio, depois das argoladas que tem metido e nas quais está metido...
Ou seja, a ala conservadora (mas não liberal) do PSD está a ver a vida a andar para trás e, depois de perder o partido para os jovens turcos, corre o risco de perder o controlo sobre o país. É isso que eles não querem.
Resta saber se há um plano B do Cavaco com vista a constituir um governo de inspiração presidencial e dessa forma atar o PS ao compromisso com a Troika. Rudo é possível.
Sobre a oposição, em graus de incapacidade diferentes, a sua inépcia é total. Assim, não vamos lá.
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