A cada dia que passa Portugal está mais parecido com a Grécia.
As novas medidas de austeridade, ontem divulgadas por vários órgãos de comunicação e discutidas no Parlamento, prenunciam a maior crise económica e social de que há memória no Portugal democrático. Um verdadeiro “assalto”, para usar a expressão do “barão” do PSD e conselheiro de estado, Marques Mendes.
De facto, as “soluções” encontradas para substituir a famigerada taxa TSU, entre as quais o novo escalonamento do IRS, os cortes nas reformas, nos subsídios e na saúde (para referir apenas três áreas de vital importância na qualidade de vida dos portugueses) são tão brutais que as consequências para a economia portuguesa só podem ser devastadoras. Desde logo, pela contracção da despesa familiar, para equilibrar um orçamento muitas vezes deficitário e onde, para grande parte das pessoas, se tornou vital escolher entre uma refeição e a medicação. Depois, o corte em serviços tão essenciais como a saúde, onde as taxas moderadoras e a diminuição de meios fez disparar o tempo das listas de espera ou o tratamento de doentes em estado terminal. Finalmente, a redução de consumo generalizado, que irá afectar sectores essenciais para a economia, como o pequeno comércio e a restauração, onde a taxa máxima do IVA levará à falência milhares de pequenos e médios empresários. Desnecessário será dizer que outros tantos milhares de trabalhadores irão juntar-se ao exército de desempregados (1.3 milhões) no próximo ano e que, por essa altura, muitos dos que hoje ainda auferem um subsídio, já não receberão nada!
Um verdadeiro cenário de horror, há muito anunciado na “cartilha” neo-liberal que nos governa e que, por esse Mundo fora, vem impondo uma receita com o fim último de devastar as economias mais débeis e, dessa forma, poder impor um novo contrato social e salários mais baixos. A primeira parte do programa em curso está, portanto, a resultar: o Choque.
Perante tal cenário, previsto por especialistas dos mais variados quadrantes em Portugal e no estrangeiro, as pessoas começam a perceber que, não só a sua vida vai piorar drasticamente nos próximos anos, como não há fim à vista para a austeridade e (o que é pior) os sacrifícios que lhes pediram não serviu para nada!
É esta consciência civil, acelerada nos últimos meses pelas medidas fundamentalistas de um governo “à nora” que nem com sacrifícios da população consegue cumprir as metas a que se propôs, que está a provocar uma onda de indignação em todo o pais.
Prevendo o pior e sem soluções para uma crise, também ela provocada pelos partidos da coligação que nos governa, Passos Coelho e os seus “spin doctors” espalhados pelos mais diversos meios de comunicação, tentam convencer-nos diariamente da inevitabilidade da austeridade. Não há alternativa a estas medidas, dizem, porque a alternativa seria sempre muito pior. A segunda parte do programa está, portanto, a resultar: o Pavor.
Mas, nem tudo são rosas e o - aparentemente calmo - povo português começa a rebelar-se. Primeiro nas redes sociais, depois nas manifestações mais ou menos espontâneas e, agora, com uma cobertura que atinge dezenas de cidades portuguesas em simultâneo. Nunca, como hoje, a consciência civil foi tão grande. Também na rua, porque a democracia não se esgota na representatividade do parlamento. Muito menos, num parlamento completamente tolhido pelos “lobbies” e interesses da partidocracia reinante.
É neste quadro que a Igreja, ontem pela voz do Cardeal Policarpo e hoje pela voz do padre e teólogo Carreira das Neves, vem alertar para a “ditadura da rua” que não pode governar num regime democrático, onde o parlamento é o único lugar para o debate politico...
Não são inocentes estas palavras. Com a Igreja em crise, a crise actual da sociedade portuguesa pode ser uma “benesse” para os espíritos cristãos, sempre tão solícitos a acudir aos pobrezinhos e apavorados da vida. O Banco da Jonet que o diga! Por alguma razão, a Igreja não paga impostos e as suas fundações não foram abrangidas nos recentes cortes que atingiram muitas dessas instituições.
Como se não bastasse o governo, e a sua politica de “choque e pavor”, ainda temos de aturar a Igreja, com a sua politica de resignação.
1 comentário:
Parece de facto haver uma nova consciência. Os portugueses parecem ter amadurecido, como aquelas bananas que vêm verdes e amadurecem rapidamente, de modo forçado, em estufas...
Vamos ver se depois do "efeito de estufa" a coisa muda de vez e os erros das escolhas políticas não se repetem.
Quanto à Igreja, pergunto-me, ouvindo as palavras dos distintos prelados, se eles ouvem, escutam mesmo, os fieis que se deslocam a Fátima e as razões que os levam àquela manifestação de rua do dia 13 passado, e se estas suas palavras têm em atenção os alertas que vêm das instituições de solidarieade tuteladas pela Igreja...
Cá para mim, estão cegos e surdos.
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