Portugal está numa encruzilhada e, tão cedo, não sairá dela.
É
uma verdade de “La Palisse”, mas é necessário pensar depressa, porque a
realidade não se compadece com análises macro económicas e, muito menos,
com as projecções de Victor Gaspar que, ontem mesmo no parlamento,
admitiu o erro crasso que cometeu. Resta saber se por incúria,
incompetência, estratégia, ou todas estas coisas ao mesmo tempo...
Já
não são necessárias estatísticas do INE, da OCDE ou do EUROSTAT, para
os portugueses perceberem o que lhes está a acontecer. A simples
observação empírica da realidade que nos rodeia, é um bom barómetro da
situação. Basta andar pelas ruas, ver o número de pedintes a cada
esquina, ou os sem-abrigo que se amontoam nas arcadas das lojas de luxo
da Avenida da Liberdade, dos ministérios no Terreiro de Paço e nas
estações do Cais do Sodré e de Santa Apolónia, para confirmá-lo. O
número de lojas com promoções acima dos 60%, ou anunciando saldos por
encerramento, aumenta de forma exponencial. A restauração (depois do
aumento do IVA de 13% para 23%) enfrenta a sua pior crise dos últimos 40
anos e, com o fecho do comércio de retalho, os fornecedores a montante
têm cada vez mais dificuldade em sobreviver. A economia há muito que
deixou de crescer a níveis mínimos de sustentabilidade (2%) que permitam
criar emprego duradouro e impulsionador do consumo para dinamizar a
dita. Um círculo vicioso. Chama-se recessão e, como dura há mais de 18
meses, tornou-se estrutural, de tal forma que até o insuspeito
economista Cavaco Silva já lhe chamou “espiral recessiva”.
Perante
tal calamidade, que está a levar à indigência social e económica
milhares de portugueses, que faz o governo? Refugia-se em discursos
hiperbólicos, argumentando que a culpa foi de quem deixou o pais neste
estado, como se o PSD (em alternância com o PS) não tivesse governado o
país nos últimos 37 anos! Pior: os seus governantes mais odiosos e
odiados, mantêm-se em exercício de funções, mesmo quando contra eles
pendem acusações tão graves como o das “viagens fantasma” no
parlamento, as pressões censórias sobre jornalistas como Pedro Rosa
Mendes na TSF ou uma jornalista do “Público”, de recente memória. Isto,
para já não falar do escândalo da Ongoing e do papel da loja maçónica da
Mozart à qual pertencerá o referido ministro, ou da licenciatura
“turbo” feita em 20 meses, uma afronta para todos aqueles que estudam e
pagam do seu bolso uma formação de 5 anos!
Não é, pois, de admirar,
que nos últimos dias, as manifestações de desagrado e indignação tenham
subido de tom, normalmente ao som da “Grândola” de boa memória. Foi no
parlamento com Passos Coelho, no Porto e posteriormente em Lisboa com
Miguel Relvas e, ontem, com Paulo Macedo, no Porto. Não nos devemos
admirar que mais manifestações se repitam por estes dias. A democracia
não se esgota na representatividade parlamentar: há muitas formas de
protesto e a indignação, como, de resto, a desobediência civil, são
apenas duas delas. Ainda não estamos na Grécia, onde a violência campeia
nas ruas, mas estamos muito perto e não se podem culpar as pessoas por
isso. São as actuais medidas de austeridade que sufocam a maioria da
população e que não lhes deixam alternativas. Até porque, este governo
foi eleito com promessas que nunca cumpriu e por isso quebrou o
contrato social pelo qual foi eleito. Perdeu, por isso, qualquer
legitimidade democrática.
1 comentário:
O que me espanta é que depois de toda a evidência apontar para a falha total deste governo (não há nada que saia bem! Não há uma previsão certa, uma medida que resulte de acordo com o que foi planeado, não há uma proposta, nem sequer o que foi acordado com a famigerada troika, que funcione. Nada!!!
Eis o milagre do láparo...
Que segredos esconderá a teimosia em manter este executivo em funções? Que segredos esconderá este executivo? Que segredos esconderá esta oposição (aparentemente) amorfa? O que se esconde por detrás deste aparente caos, que permite que este bando de facínoras e vigaristas continue a assinar os nosso s cheques e a roçar o cu pelas cadeiras do poder que lhe delegámos?
Que estranho torpor é este em que os portugueses se deixaram mergulhar que permite que tudo isto continue neste estado? O que é que se passa??!
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