2013/07/07

O dia em que Paulo Portas chegou a 1º ministro

Caso o Presidente da República aceite a solução de governo proposta por Passos Coelho – e tudo indica que o faça – teremos esta semana a continuação da coligação governamental actual, com uma pequena, mas importante alteração: Paulo Portas, o ministro cuja demissão era irrevogável há dias atrás, tornar-se-á, de facto, o governante com mais poder no actual governo. De acordo com o organigrama ontem apresentado por Passos, Portas acumulará o actual pasta dos Negócios Estrangeiros, com a coordenação da Economia, do QREN, das Finanças e das relações com a TROIKA, tendo ainda conseguido o almejado ministério da Economia, que será entregue a Pires de Lima, do seu partido. Ou seja, o CDS, um partido com 12% de votos, terá 4 ministros no novo governo, entre os quais um super-ministro que acumula os dossiers mais importantes da governação. É obra!
Como é isto possível? Bom, de Portas já não nos admiramos de nada e acreditamos que seja capaz de vender a sua própria mãe (de resto, a única pessoa que ainda deve acreditar nele). Do Presidente, há muito que deixámos de acreditar e ficaríamos espantados se, depois de tudo o que se passou, tivesse a coragem (coisa que não lhe conhecemos) para demitir esta cambada de vira-casacas e vende pátrias que nos governam. Finalmente, Passos, um líder fraco e sem ideias, que tendo chegado ao poder em condições excepcionais, só sobreviveu à custa de muletas (Relvas, primeiro e Gaspar, depois) os verdadeiros ideólogos nestes dois anos que já leva a coligação. Restava, pois, Portas, um politico desleal, mas suficientemente hábil para levar o programa de austeridade a bom porto, mesmo que este programa tenha falhado redondamente como a própria carta de Gaspar o denunciava.
“Last but not least”, perante a eventualidade de eleições antecipadas (a única saída verdadeiramente democrática para este drama shakespeariano) os mercados deram sinal de nervosismo (aumento de juros a médio e longo prazo) e a Troika logo avisou que novas eleições dariam origem a um segundo “resgate” e um regresso mais tardio aos mercados. Chantagem pura, pois.
Resta a oposição, ou o que dela resta: Do PS, e para além dos formais discursos de discordância, nada podemos esperar o que faz algum sentido, pois não é de admitir que Seguro queira ir para o governo já, agora que a crise está no seu auge. Provavelmente, a sua estratégia será a de aguardar até 2015, altura em que, espera ele, o governo estará tão desgastado que o poder lhe cairá nas mãos. Do PCP, Bloco e Verdes, a exigência de eleições antecipadas, ainda que correcta, é insuficiente para mudar a situação criada.
Estamos nisto e isto é mau demais para acreditar. O que faltará ainda acontecer?

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