2009/06/05

Cidadania (4)

No próximo dia 7 de Junho não irei votar para as Eleições Europeias.
Após 13 anos sem exercer o direito de voto, e quando me preparava para gozar do direito a que o novo Cartão de Cidadão "obriga", foi-me dito que o recenseamento encerrou a 8 de Abril, o que impediu a actualização da morada em tempo útil. Castigo de Santo Sócrates que deve ter adivinhado que eu me preparava para votar contra o seu partido. Ficará para Setembro, só que aí o meu voto não contará por dois. É pena, mas quem esperou 13 anos pode esperar três meses...

2009/06/02

Give the fucking money back!

A televisão portuguesa está, desde esta manhã, a transmitir em directo a ocupação do BPP por um grupo de clientes, portugueses e estrangeiros, que se dizem lesados pela administração do banco. Devem ter razão. A avaliar pelas declarações de alguns dos intervenientes, advogado incluido, há mais de seis meses que esperam por uma resposta da administração e do Banco de Portugal sobre as poupanças que ainda não foram devolvidas. O BPP teria oferecido uma solução faseada (em quatro pagamentos) mas os depositantes querem o dinheiro já. Como bem expressou um emigrante português de chapéu à "cowboy": "I want my fucking money, back!". Nem mais. Eu, no lugar dele, diria o mesmo. Ainda não chegámos ao Texas!

2009/05/30

A verdadeira diferença entre o bestial e a besta está nos pequenos actos

Uma notícia de ontem dava conta que o executor (um dos...) de Victor Jara, um tal José Adolfo Marquez, tinha sido localizado e detido no Chile. O homem tem hoje 54 anos e teria à data 18. Obedecia, dizia ele, a ordens de Manuel Contreras, comandante da sua unidade e mais tarde fundador da DINA, a polícia política de Pinochet.

O que terá levado um rapaz de 18 anos, soldado --que confessou o crime, mas agora exige que peçam também contas aos altos comandos-- a disparar sobre o corpo de um cantor, indefeso, que nem sequer a sua guitarra podia tocar, um corpo coberto de sangue, uma massa de ossos partidos?

Num texto admirável sobre os ecos do golpe de Pinochet chamado "Between the Silence and the Screams" (*), Peter Read e Marivic Wyndham, descrevem os momentos finais de Jara. Foi levado da Universidade Tecnica del Estado, juntamente com centenas de outros que aí se reuniram enquanto decorria a tomada do Palácio de La Moneda, para o então chamado Stadium Chile. Juntaram-se-lhes depois os operários das chamadas "cinturas industriais" do Chile. No total estariam detidos no estádio uns 5 000 prisioneiros. Reconhecido por um dos tropas durante a detenção, uma criatura a quem chamavam "Príncipe" (um camarada de armas do Marquez, "alto, louro e simpático"), foi antes levado para um balneário do estádio, agora transformado em câmara de tortura. O "Príncipe" terá "reservado" Jara para si. Quando foi levado finalmente para o relvado do estádio, já mal se podia manter em pé, sangrava e tinha ossos partidos.

"Foi nessa altura", escrevem Read e Wyndham, "que Jara pediu aos seus amigos que lhe arranjassem uma caneta e papel e começou a escrever a sua última canção.

Há cinco mil de nós
Nesta pequena parte da cidade
Há cinco mil de nós
Quantos haverá no total?
Nas cidades e no resto do país...
Só aqui, há dez mil mãos que plantam sementes
E fazem trabalhar as fábricas


Ninguém sabe se ele terminou a canção, mas as suas últimas palavras foram:

O que eu vi, nunca tinha visto
O que senti e sinto
Dará origem ao momento..
.

Jara conseguiu passar o papel aos amigos antes que os guardas o viessem buscar para um último encontro com o "Príncipe" durante o qual foi de novo provocado e espancado. "Canta agora se conseguires filho da puta!" Uma provocação a que Jara respondeu, cantando um verso da canção Venceremos, o hino do Partido de Unidade Popular de Allende. O seu extraordinário acto de temeridade, ouvido por muitos no estádio, provocou ainda mais represálias de grande crueldade. Terá sido nessa altura que o "Príncipe" lhe fracturou os pulsos."

Foi também nessa altura que um oficial jogou roleta russa com Jara e que este Marquez e os outros crivaram o corpo do poeta e cantor com 44 balas. Foi já no relvado para onde foi arrastado, provavelmente antes do crepúsculo, no dia 16 de Setembro, que morreu.

A linha que divide a barbárie da civilização é ténue, mais ténue do que se pensa. A besta revela-se no "príncipe" mais encantado. Lembro-me de, na altura do golpe, ter sentido uma enorme revolta e de ter experimentado uma angustiante sensação de impotência. Hoje, pergunto-me como foi possível algo como o que se passou no Chile ter acontecido. Pergunto-me como é que, depois deste horror, a ocorrência, noutras partes do mundo, de actos bárbaros semelhantes a este tem sido de novo possível. Mas pergunto, acima de tudo, em que pequenos actos, feitos de cobardia, desleixo ou ignorância, deixamos medrar esses actos maiores. O Marquez pode estar em nós próprios...


(*) Hearing Places, Sound Place, Time, Culture - Ed. Ros Bandt, Michelle Duffy e Dolly MacKinnon; foto de Victor e Joan Jara do Freedom Archives.

2009/05/29

Obrigado ERC

A decisão da ERC relativa ao Jornal da Noite da TVI parece aquela história do "pato com laranja" de que alguns se lembrarão. É chocante (profundamente chocante!) a decisão, são chocantes as justificações e os processos da ERC e constituem um verdadeiro escândalo as cínicas declarações de Arons de Carvalho sobre este assunto. A imaginação corre à solta quando se pensa nesta figura a "regular" a pasta da comunicação em tempos anteriores...
Tudo isto cheira a mafia e a trampolinice, e revela claramente os tiques autoritários e fascitóides desta governação "socialista", para além de revelar o grau de "isenção" dessa "entidade reguladora da comunicação" (só o título causa logo um calafrio!).
Ninguém me ensina a ver um telejornal, ninguém me diz o que eu posso ou não posso ver, já tenho um pai que chegue! E digo-vos mesmo mais: nunca fui fã da Manuela Moura Guedes, mas vou passar a ver e ouvir o dito Jornal da Noite religiosamente todos os dias... Pode ser que aprenda com a informação da TVI aquilo que o "rigor" e a "independência" de outros serviços informativos me impedem de conhecer.
Obrigado ERC.

2009/05/26

Da problemática do Ego

Nesta longa e desconcertante saga em que se transformou o caso BPN e a respectiva comissão parlamentar de inquérito, o dia de hoje ficará certamente para a história como o momento "zen" desta investigação. Como não bastassem as amnésias de Dias Loureiro ou os desmentidos de António Marta, surge agora Oliveira e Costa a "pôr a boca no trombone" e a acusar tudo e todos: Victor Constâncio do Banco de Portugal, os "dez accionistas" do BPN, Dias Loureiro (um ego problemático) e, calcule-se, Miguel Cadilhe o qual, de acordo com as declarações do ex-director, ganharia "só" duas vezes e meia mais do que Costa em dez anos (!?). Tudo gente de egos desmedidos. Do dinheiro desaparecido, não se falou. Para onde foram os mais de mil milhões que, entretanto, voaram e levaram o BPN à maior falência fraudulenta da história bancária portuguesa? Essa devia ser, de facto, a questão central.
Tudo indica que as acusações pessoais não acabarão por aqui. Agora que a "caixa" de Pandora foi aberta, é dificil não imaginar uma reacção dos visados à mortal acusação de Costa. Temos de reconhecer: os banqueiros vivem dias dificeis. Com tantos "egos" em disputa, só mesmo uma cura de divã. Um bom negócio para psicanalistas.

2009/05/24

Desenrascanço

Mãos amigas (como sói dizer-se...) fizeram-me chegar a referência de um site cuja leitura atenta parece revelar mais do que a curiosidade, divertida e anódina, poderia indiciar.
Dez palavras, diz o site, que fazem falta na língua inglesa. Por ordem de importância. E a palavra que, segundo os autores do site, mais falta faz na língua inglesa é, imaginem, desenrascanço! Assim mesmo, em português.
Uma qualidade que, sem dúvida, os portugueses sobrevalorizam, mas também subvalorizam.
Foi com base no desenrascanço --mais do que na cartografia, tenho quase a certeza...-- que os portugueses foram levados a desbravar novos territórios. Outras nações, à época mais ricas, com mais gente, maiores recursos, nem sequer o tentaram. Mas, os portugueses, na altura já certamente mestres na arte do desenrascanço, lá foram por aí fora. Não foi a cultura do conhecimento, da reflexão filosófica, a capacidade invulgar de organização ou a queda para o planeamento rigoroso que nos levaram a partir por aí. Foi este desenrascanço que nos conduziu mais longe porque, face ao desconhecido e à ausência de receita para o enfrentar, a capacidade de improviso era certamente a única resposta possível, era mesmo a resposta adequada.
Os portugueses são desenrascados por natureza, vá-se lá saber porquê. Não serão certamente os únicos, mas foram e são aqueles que, em determinado momento, melhor souberam usar essa capacidade.
O desenrascanço terá sido o factor chave que nos fez partir e foi, sobretudo, o método de eleição usado na resolução dos nossos desafios expansionistas. O feito foi inequívoco, mas os resultados finais do esforço ficaram-se pelo medíocre. O desenrascanço serviu-nos para atingir a costa do Malabar e sugar ao infiel os recursos abundantes, enquanto era fácil fazê-lo e o resto da malta andava ainda distraída. Quando se perdeu o efeito surpresa e o empreendimento se tornou mais complexo, exigindo mais organização e planeamento, outros tomaram conta das operações.
O exemplo da cortiça é também eloquente. Não é por acaso que o maior produtor e exportador do mundo de cortiça não tem um único centro de investigação sobre o produto e que o assunto raramente merece as atenções dos académicos. Não é por acaso que os produtos de grande valor acrescentado baseados na cortiça são raros. O ataque dos vedantes sintéticos deixou a indústria corticeira portuguesa com as suas debilidades totalmente à mostra... Enquanto se trata de desenrascar a extracção da cortiça e de produzir umas simples rolhas a coisa ainda vai. Quando o grau de rigor aperta e exige mais organização e menos desenrascanço, a indústria baqueia completamente. Numa área sem concorrência significativa, esta indústria não conseguiu passar da fase do desenrascanço.
É que os portugueses, e sobretudo os seus dirigentes, demonstram ao longo da história gloriosa um horror patológico ao planeamento e à organização. E o desenrascanço é uma espécie de desporto nacional e solução única para todos os nossos problemas. Os portugueses teimam em recorrer a uma solução, o desenrascanço, que serve nalgumas ocasiões, mas parece uma qualidade inútil (ou mesmo contraproducente) noutras.
Neste sentido, esta qualidade é manifestamente sobreavaliada por nós.
Mas, por outro lado, paradoxalmente o "génio" português não parece levar este assunto suficientemente a sério. Não soube nunca tirar partido duradouro deste seu talento e não conseguiu criar um "produto" que incorpore esta qualidade e se distinga pela presença implícita desta qualidade.
O MacGyver devia ser português!
Outros povos sabem valorizar as qualidades que os distinguem. Os alemães são frios pensadores e sabem organizar-se como ninguém. Os suiços são rigorosos e precisos. Os italianos têm um sentido estético sublime. Os espanhóis distinguem-se pela sua bravura e destemor. Os japoneses são exímios na extracção da essência das coisas. Souberam todos transformar essas qualidades em mais valias para a sua vida, souberam exportá-las ou acrescentar esse valor aos produtos por eles criados. Souberam inventar produtos que incorporam essas suas características. Um automóvel alemão ou um relógio suiço não são só parafusos e porcas. Um sapato italiano não é simples couro cosido. Um walkman não é só chips de silício.
Os alemães não são os únicos pensadores, os italianos não são os únicos estetas e os espanhóis não são os únicos bravos. Mas, todos eles conseguem reflectir na sua economia as suas qualidades únicas, que são tão estimáveis como o nosso desenrascanço.
Os portugueses esgotam-se na efemeridade do improviso, e o produto do seu labor desfaz-se antes dessa, digamos, marca de água deixar o seu cunho nos bens tangíveis por si produzidos. Não deixam lastro. Têm uma qualidade única que se perde no seu próprio exercício. Tocam uma espécie de jazz sem escola...
Nesse sentido subavaliam o impacto deste desporto do desenrascanço que tão bem cultivam.
O desafio tem, pois, de ser outro! Estará na altura de apostar na institucionalização a sério do desenrascanço. Está na hora de criar mais valia e enriquecer o país com esta qualidade. Esqueçam as perfeitas patetices que são o Allgarve ou o Portugal: West Coast da Europa, ou a aposta nas "novas tecnologias" como panaceia para os nossos males.
O que precisamos é saber aplicar correctamente a capacidade de desenrascanço portuguesa, institucionalizá-la e transformá-la numa prática sustentada e erudita. Nem que para isso os portugueses tenham que chamar alguém mais organizado para teorizar sobre o desenrascanço e ajudar a estruturar e planear a exploração dessa qualidade sui generis... Saibamos criar uma economia em volta desta nossa qualidade inata, em vez de impôr a criação de qualidades de que não fomos dotados, para servir conceitos económicos lambidos à pressa entre passagens administrativas, como agora se tenta fazer.
Desenrasquemo-nos! Mas, a sério...
Que diabo, até a Cracked Entertainement, editora de publicações de humor e proprietária do site Cracked.com, sendo uma empresa que se leva a sério, reconhece e valoriza perante os seus leitores esta qualidade e lamenta a falta do conceito na língua inglesa... Isto vale ouro meus amigos!

2009/05/20

Viver de pé atrás

Hoje, a propósito do tema da qualidade e do preço dos combustíveis, ouvi alguém comentar que há um problema de confiança dos consumidores nas gasolineiras. Concertação de preços --ninguém acredita nela, mas deve ser como as bruxas...--, aditivos desconhecidos --não existe nenhuma certificação independente neste domínio--, é tudo "guerra comercial", proclama com leveza o secretário de Estado da tutela. A esta desconfiança nas gasolineiras, acrescentava o comentador, junta-se a desconfiança nas empresas do sector financeiro, bancos e outras, envolvidas nos tempos que correm em casos que deslustram totalmente o seu objecto social. Em quem podemos nós acreditar?
A somar a tudo isto, acrescento eu, existe uma total desconfiança dos cidadãos nas instituições do Estado. Desconfiamos das polícias, das finanças, da justiça, da saúde, da educação, das autarquias, dos serviços municipalizados, etc, etc, etc. Ninguém escapa! Desconfiamos do Estado porque colocamos nas suas mãos uma parte significativa dos nossos proventos, fora o que nos é sacado à sorrelfa, e em troca somos brindados com a sua ineficácia e com o seu total e absoluto desprezo por nós. E desconfiamos do Estado porque, quando tudo aponta para que seja o Estado o alvo de todas as desconfianças, somos nós que somos por ele tratados com desconfiança...!
A própria imprensa, veículo através do qual nos vão chegando, timidamente, alguns ecos das pequenas e grandes traições da confiança, não merece grande confiança, ela própria, conhecendo-se o seu enquadramento institucional e a sua própria lógica de funcionamento, totalmente distorcida, que fere de morte qualquer sombra de confiança que nela pudéssemos originalmente depositar.
A elementar prudência leva a que vivamos, pois, hoje mais do que nunca, de modo generalizado e permanente, de pé atrás.
Bem podem as marcas, as empresas e outras instituições, particulares ou oficiais, invocar pretensos inquéritos que nos tentam fazer acreditar que elas são dignas de toda a confiança. Volta não volta lá ouvimos a empresa A a gabar-se que foi distinguida com o galardão de merecedora da maior confiança dos Portugueses, ou a marca B a dizer que estes a distinguem entre todas as outras. Para acreditar em tudo isto era necessário que os próprios inquiridores, as empresas de sondagens, de auditorias, etc nos merecessem confiança. Mas, não merecem. A discrepância entre o mundo real e o mundo por eles fabricado é total. E sabemos todos que é possível produzir resultados bastante lisonjeiros "martelando" as componentes dos inquéritos e das análises e introduzindo factores de amortecimento de eventuais apreciações negativas ou aldrabando pura e simplesmente os resultados por interesses corporativos. O mesmo se passa no caso da defesa do consumidor. Quem nos defende dos defensores?
As instituições vão sobrevivendo, no meio da generalizada desconfiança que delas os cidadãos hoje têm. E sobrevivem muito à custa de toques e retoques de imagem. O culto da boa imagem é fundamental. O universo institucional vive para a e da imagem. Muito legítimo e importante trabalho académico acabou como mero lastro das técnicas de produção de imagem. O que gera desconfiança sobre os produtores de imagem --que buscam "legitimidade científica" para a venda a retalho-- e sobre a academia --que não parece servir para muito mais do que inspirar os retalhistas. Enquanto a boa imagem passar, o mundo de faz de conta das empresas, organismos oficiais e outras instituições vai-se aguentando. Mas nós sabemos que as imagens são efémeras e o Photoshop uma grande ferramenta.
É uma verdadeira espiral de desconfiança esta em que nos encontramos mergulhados. O conto do vigário é hoje o primeiro e único mandamento desta nova religião.
Religião? Eu falei em religião?! Bem, o melhor é não me alongar mais...

2009/05/17

Viver da crise

Naquela linguagem hiperbólica que os sacerdotes adoram cultivar, o Cardeal Patriarca perguntava recentemente se "queremos resolver a 'crise' ou queremos também 'escutar' a crise?" O advérbio atrapalha, mas a antinomia é clara e parece-me infeliz e gratuita. Resolver e escutar são faces da mesma moeda.
Não sei, no entanto, se a pergunta, com subtis ressonâncias críticas, não terá sido feita para dentro da confraria. Mas sei que esta anda há séculos a fazer ouvidos moucos a esta e a todas as outras crises. Diria mesmo que vive da surdez, vive da crise.
As interrogações do prelado trazem, por sua vez, outras interrogações ao espírito. Quando diz que é necessária uma nova consciência, está implícita uma crítica à velha. Mas, lembro-me do fortíssimo contributo da confraria para velha consciência e, nesse, sentido, não posso deixar de pensar numa co-autoria da crise.
Olhando a nova ordem social que está em marcha, olhando os fenómenos globais que hoje se manifestam por todo o mundo, olhando as posições da confraria sobre as inúmeras e mais ou menos visíveis emanações de tudo isto, olhando ainda as suas ancilosadas posições sobre o percursos que o mundo hoje tenta percorrer, interrogo-me sobre a sua capacidade para "escutar" a crise e, em decorrência, sobre o verdadeiro sentido do alerta.
Esta, como outras confrarias, vive das crises e sobrevive nas crises. Por outro lado, conhecemos bem o destino que as novas consciências têm tido na história da confraria. Que sentido fará pois o apelo para escutar esta crise?

2009/05/14

Turista Acidental

Na visita que, por estes dias, Cavaco Silva faz por terras turcas, todos os dias há discursos e declarações avulso. Por exemplo: "A Turquia faz falta à Europa, como a Europa é necessária à Turquia", ou "Portugal teve de esperar sete anos para entrar para a Europa", ou esta, a lembrar o inesquecível Tomaz, "É a segunda vez que aqui estou. Estive aqui, neste mesmo lugar, há seis anos. Da outra vez não tirei fotografias, agora vou fixar o momento". A mais citada, do guia explicando porque é que as mulheres têm de ficar atrás dos homens nas orações, também é boa: "As mulheres à frente, como têm de pôr a cabeça no chão, podiam atrapalhar os homens" (?!). Claro que não há discriminação das mulheres na Turquia moderna, apressa-se a esclarecer o tradutor. Cavaco e a esposa acenam afirmativamente.
Sabemos todos que este tipo de visitas, acompanhadas de dezenas de empresários portugueses (sempre os mesmos) não se destinam a discutir nada de essencial, para além dos negócios e do óbvio.
Pesem as boas intenções e troca de gentilezas - A Turquia deve entrar na Europa - não ocorreu a Cavaco que algumas das razões pelas quais a Turquia ainda não entrou na UE (e já está à espera há mais de sete anos) tem exactamente a ver com coisas tão óbvias como: pertencer à Ásia, a maioria da população ser muçulmana, não respeitar os direitos das minorias curdas, manter ocupada parte da ilha de Chipre, ser uma democracia musculada onde o exército tem a última palavra e, dada a religião dominante (o Islão), ainda manter as mulheres em segunda fila, nas mesquitas e não só...
Porque Portugal está num extremo da Europa e não tem problemas fronteiriços ou outros (imigração, por exemplo) com a Turquia, não custa nada fazer declarações inóquas. Não é esta a opinião de Merkel e Sarkozy que já declararam alto e bom som que não querem a Turquia na União Europeia. Como são eles quem (ainda) manda nesta Europa, bem pode o nosso presidente continuar a tirar fotografias ao Bósforo.

2009/05/13

A diferença

Paul Krugman, o Nobel da economia, diz que a recessão que vivemos não é como as outras e que as medidas que têm estado a ser implementadas pelos governos e investidores são desadequadas. De facto, ou é do meu ouvido, ou aquilo que mais se ouve hoje para os lados do poder, é um enorme coro de assobios para o lado. A crise existe e manifesta-se diariamente, assumindo as formas mais variadas e violentas. Afecta tudo e todos, mas o que observamos no meio do drama social real que vivemos é um empenho de plástico para disfarçar a indiferença. No fundo, os velhos hábitos, as velhas taxonomias sociais, a arrogância e o exercício pecaminoso da hipocrisia continuam a prevalecer. E as crises, sabemo-lo bem, até dão jeito.
O que é que originará então a diferença notada agora por Krueger nesta recessão?
No Brave New World, a personagem Lenina lembra-se de ter um dia acordado subitamente e de ter dado conta do murmúrio constante que condicionava todo os seus sonos. Recordava a voz suave que repetia incessantemente "Todos trabalham para todos os outros! Não sobrevivemos sem os outros! Até os Épsilons são úteis! Não sobreviveríamos sem os Épsilons!" E o tom calmante dessa voz conduzia-a de novo ao sono.
"Suponho que os Épsilons não se sentem verdadeiramente mal por serem Épsilons?" perguntava então Lenina a Henry. "Claro que não!" retorquia Henry. "Como seria isso possível? Eles não sabem o que é ser outra coisa."
A diferença talvez resida no facto de agora, depois de ter tido que pagar os desmandos dos Alfas e dos Betas e de ter perdido o seu emprego, agora até o Épsilon mais Épsilon sabe.

2009/05/12

A miopia

A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) alerta para a possibilidade de o Magalhães poder vir a fazer disparar os casos de miopia. O tamanho do portátil e o das letras obrigam as crianças a uma leitura "muito próxima", alegam os especialistas.
A leitura mais próxima que podemos fazer é a de que está enganada a SPO. A miopia já era um verdadeiro problema de saúde pública em Portugal, antes do Magalhães entrar em cena. O próprio Magalhães é a prova disso.
Tremo agora só de pensar o que pode vir a ser a "geração magalhães" daqui a vinte ou trinta anos. Imaginem uma versão míope da "geração rasca", prima afastada da "geração dos 500", filha dos pais do Magalhães...

A Europa deles

De acordo com as mais recentes sondagens, 60% dos portugueses não pensa votar nas próximas eleições europeias de Junho. Interrogados sobre a razão da sua abstenção, 37% responderam que as eleições europeias não têm interesse. Na Europa, propriamente dita, a percentagem de abstenções não difere muito da portuguesa e esse é um motivo que devia preocupar os eurocratas que nos representam. Lamenta-se, mas percebe-se.
Quem ontem viu o "debate televisivo a 13", onde pela primeira vez puderam estar presentes todos os candidatos partidários registados, pode perceber a razão deste desinteresse. Para os partidos maioritários (PS e PSD) a Europa é uma questão tão "evidente" que já não merece discussão. Para quê referendar o Tratado de Lisboa se o "povo" não o entende? Para quê referendos, se Portugal nunca referendou nenhuma Constituição ou Tratado na história da União?...
Moreira, o vital pavão socrático, chegou ao ridículo de dizer que os portugueses nunca foram chamados a referendar nenhum dos grandes momentos da sua história; desde o 25 de Abril (!?) à Independência...Estaria ele a referir-se a 1143? Porquê, esta obsessão com o referendo, agora? Não ocorreu ao constitucionalista de Coimbra que a Constituição Portuguesa foi modificada de forma a permitir tal referendo e, mais importante ainda, que este foi uma promessa eleitoral do partido que Vital representa na Europa? A arrogância e o desplante dos "partidos do centro" (em Portugal, como no hemiciclo europeu) face às exigências e direitos democráticos das populações que supostamente representam e são frequentemente silenciadas, não têm limites. Quando, algum dos países membros não respeita o "guião" do politicamente correcto - caso da Holanda e da França em 2005 e da Irlanda em 2007 - aqui d'el rei que a União está em perigo! Nessa altura não se poupam esforços para trazer a "ovelha tresmalhada" para o rebanho. A Irlanda votará quantas vezes for necessária até que o "sim" à Europa seja obtido. Bonita democracia, esta!
Se alguma coisa o debate de ontem provou, pesem os esforços manipuladores da apresentadora mais interessada em dar a palavra aos grandes partidos, foi a recusa dos restantes onze candidatos em participar na farsa europeia proposta pelo PS e pelo PSD. A Europa que os grandes partidos querem não é, de certeza, a dos cidadãos. Resta, agora, aguardar o dia da votação para confirmar se a penalização do "bloco central" é uma mera especulação, ou se confirma o desencanto geral.

2009/05/08

Lealdade e apoio

Basílio Horta, o circunspecto e respeitável presidente da API e o homem a cujos calcanhares Paulo Rangel não chega --a não ser que se deixe seduzir pela campanha de promoção do produto que a Maizena entendeu aproveitar para fazer-- já veio agradecer a "lealdade e o apoio" dados pelo ministro Pinho.
A Maizena, segundo se diz, pensa já lançar dois novos produtos no mercado: a Maizena Lealdade, para crianças difíceis, e a Maizena Apoio para crianças carenciadas...
Entretanto, a famosa marca Dr. Scholl's vai lançar uma linha de produtos para calcanhares, em complemento dos conhecidos produtos para o cuidado dos pés... Aguarda-se com ansiedade um produto desta nova linha, feito a partir de chá mexido com colher de prata...
É o regresso do comércio tradicional & dos produtos da nossa infância!

2009/05/07

A CIP quer-se fazer ouvir

O presidente da CIP defende uma coligação. É uma das "medidas" preconizadas para vencer a "crise" e faz parte de um conjunto que consta de um documento apresentado publicamente hoje que vai ser posteriormente entregue ao governo.
Para justificar a coligação, Van Zeller diz estarmos perante uma posição de "abuso de posição dominante" por parte do governo da maioria. Bloco central, ou outra qualquer solução, apressa-se a esclarecer, para dissipar dúvidas osbre se está ou não a fazer política. Porque a CIP, alerta, não é um orgão político... Sabendo que defendeu recentemente uma solução de bloco central e tendo em conta que, como ele diz, "talvez uma coligação transmitisse melhor as nossas preocupações e talvez nos fizéssemos ouvir melhor", é fácil perceber que tipo de coligação o presidente da CIP tem em mente.
Não está certamente a defender uma coligação PS-Verdes...
Ou seja, contra uma solução governativa a solo, prepotente, a CIP vê com bons olhos uma outra solução governativa baseada na mesma maioria abusadora, que agora nos governa, retocada por uma minoria totalmente incompetente, inoperante, que falhou totalmente o simples exercício do seu papel como oposição.
Aqui está o melhor que os capitães da indústria portuguesa conseguem produzir para melhor se fazerem ouvir. É aliás um belo enquadramento para o resto das sessenta propostas da CIP e revela a sua visão e noção de responsabilidade social.
E a avaliar pelo ar solene e pomposo da apresentação, pretendem ser levados a sério...

2009/05/06

Duas Cruzes

Dias Loureiro, esse grande amnésico compulsivo, acaba de acrescentar mais uma metáfora ao seu discurso hiperbólico. Já era dele o célebre "pai, sou ministro!"; mas recentemente tornou-se célebre por ter declarado que "não se lembrava do que assinava". Ontem, acrescentou que assinava de "cruz" os negócios do BPN. Lê-se e não se acredita!
Com tantas "one-liners" arrrisca-se mesmo a tornar-se um clássico e, pior do que isso, criar jurisprudência: a partir de agora, todo o alegado criminoso (independentemente da cor do colarinho) pode dizer que não se lembra. Quem é que vai condenar um amnésico?
Quando o oiço falar lembra-me sempre uma história que me contaram em Itália: certo dia um siciliano dirige-se ao notário para fazer uma escritura e, quando chega a hora de assinar, declara que não sabe escrever. O notário sossega-o e diz-lhe para fazer uma "cruz", que é suficiente. O homem concorda e faz duas "cruzes". Mas, porquê duas, pergunta o notário? O homem sorri e diz: "dottore!...".

2009/05/05

Chá, Maizena e calcanhares

Alguém deveria explicar ao dr. Manuel Pinho que não fica bem a um Ministro da República dizer de um deputado da Assembleia da República que este tem de comer "muita papa Maizena" para chegar aos calcanhares de um alto funcionário do Estado Português. A papa Maizena não será bitola apropriada para ser usada em comparações entre figuras de Estado, por uma outra alta figura do Estado.
O chá sim! O chá é um instrumento legítimo para estabelecer comparações. É perfeitamente possível, por exemplo, detectar a presença ou ausência desta substância numa tentativa de escalada rumo ao cume do calcanhar alheio.
No caso vertente verifica-se que, em matéria de chá, os calcanhares do ministro Pinho são de Aquiles...

O Bloco Central de Interesses

Anda para aí uma grande excitação a propósito das últimas declarações de Jorge Sampaio por este ter sugerido a criação de uma coligação dos partidos do "centro", única forma (segundo ele) de garantir alguma estabilidade governamental e para ver se "saimos disto" - sendo "isto" a situação a que Portugal chegou, depois de anos de desgoverno dos partidos que governaram ao "centro".
A mensagem (subliminar) de Sampaio vem no seguimento de outras opiniões no mesmo sentido (Van Zeller, Belmiro de Azevedo, António Mexia, Mário Soares) e circula entre diversos "capitães da industria" e banqueiros falidos do "sistema".
Curiosamente, ou talvez não, quem de imediato recusou tal coligação (o chamado "bloco central") foram os partidos do "centro", pondo de parte a ideia, remota que fosse, de alianças interpartidárias.
Compreende-se: para o PS, só interessa a maioria absoluta, única forma de continuar a legislatura vigente; para o PSD, só interessa opôr-se ao actual governo, única forma de capitalizar a insatisfação crescente na sociedade portuguesa.
Não será, pois, de esperar qualquer modificação nas estratégias de ambos os partidos até às eleições.
Acontece que entre as estratégias partidárias e a realidade eleitoral, vai uma grande distância. A acreditar nas sondagens que de há um ano a esta parte têm vindo a ser publicadas (nomeadamente as da Universidade Católica, tidas como as mais fiáveis) tudo aponta para uma vitória do PS, mas sem maioria absoluta. Neste cenário, resta ao PS governar em minoria (a exemplo do que fez Guterres entre 1995 e 1999), governar através de acordos pontuais (como tentou Guterres entre 1999 e 2001) ou coligar-se à esquerda (com o BE, por exemplo), cenário que está longe de ser consensual.
Numa situação de maioria relativa do Partido Socialista e uma subida acentuada do PCP e do BE, não faltará quem advoge um governo abrangente de esquerda. Isso seria natural se o PS fosse de esquerda o que, manifestamente com Sócrates, há muito deixou de ser. Não é de excluir a ideia de um afastamento de Sócrates (por iniciativa própria, ou por pressão interna) para facilitar uma maior convergência à esquerda. Mas, o mais natural é - com Sócrates ou sem ele - que o PS seja pressionado pelo Presidente da República a coligar-se à direita. Nessa altura, o parceiro menos natural será o CDS-PP, aparentemente em queda eleitoral. Resta, pois, o PSD, eventualmente com melhor votação do que hoje muitos vaticinam.
É aqui que as declarações de Sampaio, podem ganhar actualidade. Apesar de todos dizerem que não desejam o "bloco central", os interesses do "sistema" acabarão por prevalecer numa sociedade pouca dada a mudanças e conservadora por natureza. É um pouco como a história do lobo: de tanto gritar por ele, quando vier ninguém acreditará...

2009/05/02

Europeus

A pouco mais de um mês das eleições europeias, o interesse pela Europa é preocupante. A acreditar nas primeiras sondagens, entretanto saídas em diversos orgãos de comunicação social, a maioria da população não pensa sequer votar! Paradoxalmente, os cabeças de lista mais conhecidos, são aqueles que têm menos votos em termos partidários. Há aqui uma contradição aparente que não parece muito lógica...
Pior, nos painéis do partido que diz que nós "somos" europeus, uma das mensagens está incorrecta. Mostra Mário Soares a assinar a adesão, à então CEE, a 12 de Junho de 1986. A data certa é 12 de Junho de 1985!
Com "europeus" destes, não vamos a lado nenhum...

2009/05/01

O 1º de Maio

Enquanto a taxa de desemprego ronda os 9% e ameaça, como alguns analistas prevêem, alcançar os dois dígitos; enquanto a percentagem do PIB que representa o trabalho desceu para os ca. 30%, depois de já ter estado nos ca. 60%, o grande tema de conversa deste 1º de Maio foi... Vital Moreira!
Abriu todos os telejornais, confessou ufano que já tem a "sua Marinha Grande" e disse que a sua preocupação é elevar o nível do debate democrático.
Graças a ele, o debate já está nos píncaros...

2009/04/30

Justiça e injustiça

As palavras de D. Januário Torgal Ferreira sobre a questão da justiça em Portugal fazem todo o sentido. A voz do bispo das Forças Armadas é corajosa, diria mesmo demolidora, e reflecte a avaliação que todos fazemos desta área chave da vida do País.
Só um tolo poderá pensar o contrário. Pena é que os vários agentes da justiça não aproveitem o mote dado pelo bispo para fazer uma acto de contrição perante o povo português pela modo, de facto, vergonhoso como este sector da vida nacional funciona.
Estas palavras mereceram reparos. Alguns desses agentes da justiça tentaram retirar-lhes a carga dramática que efectivamente têm, acusando-as de serem demasiado generalistas e declarando, de forma pueril, que não se sentem atingidos por elas. Pudera!
Se algum reparo há a fazer às palavras de D. Januário é o de que elas pecam por defeito. Há, de facto, um problema de justiça em Portugal. Mas, há sobretudo, um problema de injustiça. A sociedade portuguesa é injusta nos seus desequilíbrios e nas suas profundas desigualdades. É injusta na hipocrisia das suas alegações declaradas. É injusta na arrogância da sua indiferença. Velhos problemas que ficaram de fora do novo "mapa judiciário", mas que estão exemplarmente reflectidos no novo código de custas...
Será que, como prelado, D. Januário quis lembrar que, se bem que a justiça dos homens possa estar a falhar, a injustiça tem sempre o recurso supremo para a justiça divina. Que por vezes segue linhas tortuosas, como sabemos...

2009/04/29

A gripe da economia

Não tenho nada contra nenhum economista ou gestor em particular, mas tenho tudo contra os economistas e gestores em geral. Quando os ouço a fazer previsões, então, dá-me logo vontade de puxar do revólver!
Ouvi-los debitar diariamente banalidade atrás de banalidade, com aquele ar irritante de quem sabe algo que a gente não sabe é coisa que me deixa doente.
Já estou como o outro, read my lips: as "previsões", interpretações e explicações para a "crise" que se vão descobrindo por aí têm um denominador comum, o da sua total falta de credibilidade! Bem podem os gestores, doutos economistas e "analistas" da economia exibir estatísticas, mostrar-nos muitos gráfico, citar prémios Nobel. O mundo está como está por vossa causa, por causa do falhanço total da vossa "ciência" e por causa da vossa ganância.
E não vai melhorar com os vossos exercícios miseráveis de hipocrisia...
As previsões que fazem e os cenários que pintam agora são tão credíveis como os cenários que terão sido traçados antes, que conduziram à actual situação de catástrofe mundial.
Imagino o que seria do mundo se os médicos epidemiologistas falhassem nas previsões e nas medidas para controlo da gripe dos porcos como os economistas e gestores falharam e falham em relação à epidemia da economia.
Arrisco mesmo dizer que sei muito bem em que porcos é que se desenvolveu a estirpe de vírus que provocou esta pandemia fulminante, esta gripe da economia mundial, de que todos estamos a padecer, aguardando com impaciência crescente por ver a vacina ao fundo do túnel...

2009/04/26

Ao largo!

Afinal os valores de tolerância democrática que Abril gerou prevalecem. Santa Comba ficou orgulhosamente só neste seu desafio. O largo com o nome do ditador foi inaugurado, sem incidentes, ao que parece, apesar da declarada intenção provocatória.
Para os registos fica uma acção caricata, ligada a um largo caricato, com um nome anacrónico, e da satisfação de uma população caricata, cuja autarquia tem à sua frente um presidente de câmara caricato, de um concelho fantasma, com poucos atributos, de entre os quais sobressai o de ser um deserto, habitado por zumbis, a única ambição dos quais é serem governados por um zumbi. Pelos vistos, no que toca ao governo da autarquia, já têm a sua ambição satisfeita.
Santa Comba Dão é localidade para passar ao largo...

2009/04/24

Jonathan Vale

João Vale e Azevedo - para quem não saiba, ex-presidente do Benfica - não pára de surpreender. De Inglaterra, chega-nos a notícia que um tribunal inglês declarou falida a empresa V&A Capital Limited, gerida pelo advogado português. A notícia não teria em si nada de especial, não fosse um pequeno pormenor digno do melhor Madoff. A empresa em questão é descrita no seu "site"como "uma sociedade de investimentos de capitais privados com interesses na indústria do açúcar, adoçantes de cereais e amidos e em especial na produção e comercialização do etanol como uma nova fonte de energia não poluente". O pedido de insolvência teria sido accionado pela Finurba Corporate Finance, subsidiária do grupo português Finurba, para além de diversos credores de uma dívida calculada em 4 milhões de euros. Abigail Wright, um dos credores, diz ter acreditado em Jonathan Vale (nome que Vale e Azevedo usava nas suas relações comerciais) quando este lhe garantiu um retorno garantido de 50% ao fim de 120 dias, podendo o ganho chegar até aos 117%. Convencido da bondade da proposta, Wright investiu 50 mil libras em troca de 50 mil acções da V&A. O mesmo já tinha acontecido ao presidente do partido político Unita, Isaías Samakuva que, a troco de uma promessa de investimento em Angola, pagou 1 milhão de dólares à V&A.
Num país com o historial de Inglaterra, nomes como Robin Hood, Dick Turpin, Jack The Ripper ou Ronnie Biggs, pertencem há muito à galeria dos famosos. Um apelido como Azevedo passaria completamente despercebido. Jonathan Vale (pronunciar Veile) tem outro "pedigree". Desta forma, será certamente mais fácil frequentar os corredores palacianos. À cautela, a rainha já mandou instalar câmaras de vigilância e guardas ao redor de Buckingham Palace. Vale e Azevedo, aliás Jonathan Vale, vive em Londres...

2009/04/23

Cidadania (3)

Ontem recebi, finalmente, o meu Cartão de Cidadão. Após dois meses e meio de um processo e episódios que são dignos de uma verdadeira "República da Pera Rocha". Chegada a minha vez, e após quase três horas de espera (que aproveitei para ler Coetzee), a funcionária informa-me que o cartão tem 4 códigos (quatro!) diferentes: um para a identidade, um para a morada, um para a assinatura e outro para cancelamento do dito cartão. Imaginei-me a ter de decorar mais quatro "pincodes" diferentes, mas certamente adivinhando os meus pensamentos a simpática senhora sugeriu-me alterar os códigos para um só, fácil de memorar. Claro, respondi aliviado. Infelizmente para mim e apesar da sua boa vontade, o "servidor" estava a 10% e não processava os dados...
Hoje mesmo, recebi uma carta da Loja do Cidadão, em resposta à minha queixa sobre a lentidão e ineficiência dos serviços. Muito bem, pensei, pelo menos são rápidos a responder. Acontece que a carta estava cheia de imprecisões o que me levou a corrigir os erros e a enviar outra carta a repôr a verdade. Uma questão de rigor.
Voltei à Junta de Frequesia, para confirmar o recenseamento. Sim, estou recenseado...na Holanda! Na Holanda? Mas eu não vivo na Holanda há anos e já pedi o cartão há mais de dois meses...respondo a medo. Não há problema, dizem-me: dentro de 1 mês (um!) já estará recenseado em Portugal...
Quero acreditar que no dia 7 de Junho posso votar, mas começo a duvidar. O "sistema" foi tão aperfeiçoado que, independentemente de chamar-se "simplex", não funciona. Desta forma, não posso prometer que não voltarei ao tema. Uma "saga". De incompetência e "chocos" tecnológicos.