Lady Chaterley, o filme, trata da história do nascimento de um desejo e do modo como ele se vai desenvolvendo. O desejo é mútuo, no caso, mas desenvolve-se irregularmente. Só à terceira vez os amantes conseguem harmonia; nas duas primeiras ela fica longe de atingir o clímax. Apesar de tudo gosta, porque o tipo a atrai; e persiste, regressando ao "local do crime". O filme é belo e consegue descrever a descoberta que cada um dos amantes vai fazendo do corpo e do prazer do outro. Como vão ganhando intimidade. E fá-lo dum modo muito explícito, mas conseguindo não cair no lugar comum ou roçar a ordinarice. O que não é nada fácil nos tempos que correm, em que a pornografia se "democratizou". Lembrava-me, da minha leitura do livro, da cena em que Lady Chaterley pede ao guarda de caça que se vire, pois quer vê-lo de frente; o que ele faz em obediência a esse ritual de reconhecimento dos corpos a que eles se entregam, embora envergonhado por causa da erecção. Mostrar isto em cinema não é nada fácil, mas o filme fá-lo bem, com credibilidade e até candura.
Candura à medida do ambiente muito verde em que a relação, sexual primeiro e amorosa depois, se desenvolve.
Procurei em ti algo que me fazia falta, arriscando-me a que não corresse bem. Penso muito sobre se faço ou não bem em arriscar, dado que posso comprometer uma vida conjugal harmoniosa e gratificante em muitos domínios. Sei que o fiz por vontade de manter alguma juventude e capacidade de transgressão. Ou, quem sabe, por vontade de reaver uma juventude que eu já dava por perdida. Tenho pena de não ter podido dar a adequada sequência ao teu desejo, explícito de um modo tão frontal quanto corajoso; o qual foi uma das coisas que me deu vontade de avançar. Isso e o teu corpo, cheirando às folhas das árvores e a homem, que, pensei, me havia de satisfazer. Não posso deixar de voltar. Porque quero também eu sentir o prazer de que ando arredada e me faz falta.
(Tentando ler os pensamentos de Lady Chaterley).
2 comentários:
Os criticos dizem que é a melhor adaptação do romance ao cinema. Para mim, que sempre imaginei a história em inglês, esta versão em francês padece do mal da "língua". Mas, claro, tudo isto é sempre muito subjectivo. Um bom filme e isso é que importa.
é um filme feito por uma mulher. isso nota-se de uma maneira muito subtil. por exemplo na aproximação ao desejo e ao amor.mas não é só isso: o risco da disponibilidade, a não total clareza, esse ir no desejo, não é de todas as mulheres.
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