2007/06/23

A raiz quadrada da Polónia

As declarações do PM da Polónia Jaroslaw Kaczynski, no âmbito da recente cimeira da UE, não podem deixar de chocar. Disse o senhor Kaczynski que "se a Polónia não tivesse tido que viver a época de 1939-45, teríamos hoje um país com uma população de 66 milhões." Não contente com isto, remata ainda perante os anfitriões alemães, que foram estes "que inflingiram golpes inimagináveis e causaram uma terrível dor à Polónia."
Chocam estas declarações, desde logo, pela sua total arbitrariedade, pelo tom revanchista e pela extemporaneidade.
Chocam também pela falta de rigor científico e pela falta de rigor político. Vinda do responsável político de um país que se pretende civilizado, esta falta de rigor assusta.
Alguém deveria ter explicado ao senhor Kaczynski que os tempos são outros, que ninguém obrigou a Polónia a entrar para a UE e que quem ouve uma declaração destas não pode deixar de se sentir intranquilo. Por temer que a população da Polónia atinja os 66 milhões e que com a ajuda da tal raiz quadrada fique alguma vez em posição de, democraticamente, ter qualquer influência decisiva numa votação.
De quem é que este Kaczynski será afinal gémeo?

3 comentários:

Rui Mota disse...

O que ele disse é, de facto, verdadeiro (não tivesse havido a guerra e havia mais polacos). O pior é que os (católicos) polacos também contribuiram a para a redução da população (judia) polaca. Penso que, da mesma maneira que os piores comunistas vieram do catolicismo, o contrário também é verdadeiro: os piores democratas chegam-nos do (ex) bloco socialista. Ele, há vícios difíceis de extirpar: a intolerância é um dos maiores que conheço.
Claro que há aqui outra questão que nos deve preocupar: que "tratado" andam os eurocratas a preparar e qual o grau de participação das populações (vulgo "povo") nas decisões de Bruxelas? Ou, será que querem aprovar o "mini" tratado sem referendos? Capazes disso, são eles!

Carlos A. Augusto disse...

"O que ele disse é, de facto, verdadeiro (não tivesse havido a guerra e havia mais polacos)."
... Mas tambem tinha havido mais alemães! E mais franceses! E mais russos! E mais ingleses! Ou, se calhar menos... Ou, se calhar, mais! E vice-versa. O contrário também é, claro, verdadeiro!!
Os gémeos não contam a dobrar.
Mais portugueses é que não. Não sei que raiz aplicar no nosso caso. Com a raiz quadrada a gente se safa...

Rui Mota disse...

Penso que, nem mesmo com a "raiz quadrada", nos safamos...Os (governos) portugueses andaram estes anos todos sempre a "apanhar bonés" nas questões da Europa e percebe-se bem porquê: o que interessa a um povo ignorante e oportunista como o nosso, é aproveitar os "fundos". Se, para isso, é preciso aceitar os "diktats" de Bruxelas, não preocupa ninguém. Os gémeos polacos são uns católicos reaccionários que defendem os seus interesses nacionalistas. Por isso, eles incomodam. Como incomoda a Espanha, que partiu do mesmo nível de desenvolvimento de Portugal e hoje já é a 5ª potência europeia.
Para os eurocratas (Durão Barroso e quejandos) o que interessa é o "consenso mole", mesmo se os povos não são ouvidos. Por alguma razão nunca foi feito um referendo em Portugal sobre questões europeias, como a adesão à CEE, ao Tratado de Maastricht, a adesão ao Euro ou ao Tratado de Nice. Eles lá sabem porquê...
Aconselho a ler o excelente artigo do Pacheco Pereira, publicado no "Público" de ontem (e que já está no seu Blogue), onde ele analisa estas coisas. Pessoalmente estou muito mais preocupado com a apatia portuguesa e a manipulação que o PS (e no passado o PSD) fazem desta questão, do que com a teimosia (a) histórica dos polacos.