2008/12/08

A Galiza, aqui ao lado...

Convidado para participar num painel sobre parcerias musicais no âmbito da Lusofonia, passei três dias na vizinha Galiza, mais exactamente na Coruña, onde decorreu a Segunda Edição da "Cultur.Gal", a Feira Galega das Industrias Culturais.
Tinha estado na Coruña pela primeira e última vez, em Agosto de 1990, aquando de uma viagem entre Amsterdão e Lisboa pensada a partir do trajecto de automóvel pelo "Caminho de Santiago". Da "peregrinação" de então, guardava a melhor das memórias, mas de La Coruña, não mais do que uma vaga ideia...
Foi, pois, com alguma reserva mental que me fiz à "estrada", desta vez de avião, um bimotor a hélice que em menos de hora e meia me transportou à capital industrial da Galiza.
Desde logo, a surpresa pelo desenvolvimento verificado, numa região que passa por ser a menos desenvolvida da vizinha Espanha. O agrado, seria no dia seguinte confirmado pelo novo Centro de Congressos Palexco, recentemente construído e que já ganhou o prémio do melhor do género em toda a Espanha. Um CCB à escala local, onde durante quatro dias, cerca de 80 organismos culturais galegos marcaram encontro naquela que é a maior Mostra Cultural da região. Dos editores e livreiros regionais, aos tradutores e à literatura infantil (um verdadeiro mundo!), das agências de produção artística e bandas musicais ao mundo do cinema (sim, o cinema galego existe) o "Palexco" encheu-se durante o fim-de-semana de um público ávido que procurava a informação disponível nas dezenas de "stands", conferências e "showcases" possíveis de acompanhar em todo o edifício.
O nosso painel, organizado pela Associação Galega de Empresas Musicais (AGEM), contou com a moderação de Xabier Alonso e a participação de Vitor de Miranda (Contato) e Makely Gomes (Comum), dois brasileiros de Minas Gerais, com quem partilhámos ideias e projectos futuros a organizar no quadro da cooperação e intercâmbio lusófono. Para já a música, mas o espaço de cooperação pode estender-se a outras áreas, como a literatura ou o cinema. Deste interesse comum, nasceu a primeira proposta concreta, a realizar em Belo Horizonte no próximo mês de Setembro e que incidirá sobre a Cultura galega. Depois da Galiza, que nos acolheu, e do Brasil, que nos acolherá, restará a Portugal fechar o primeiro ciclo de cooperação lusófono que promete animar as próximas discussões deste fórum transatlântico.
Não será fácil, no entanto. As conversas que fomos mantendo com os nossos anfitriões deram para entender que nem os galegos, que gostam de nós, compreendem o desencanto deste lado da fronteira. Todos, sem excepção, lamentavam a fraca cooperação e a burocracia mascarada de silêncios evasivos que recebem os seus pedidos. Como aquele produtor de filmes que tenta há anos, ingloriamente, fazer uma Mostra de Cine Galego em Portugal, para a qual dispõe de 400.000 euros do seu governo regional. Pesem as promessas do parceiro lusitano, nada acontece em Portugal. A desculpa do parceiro português é sempre o nosso Ministério (da Cultura) que estará a analisar o pedido. Como, entretanto, a ministra que iniciou o processo foi exonerada e há outro ministro no seu lugar, o pedido voltou à "estaca zero". O Galego desespera e olha para mim desesperado: "que se passa com vocês, portugueses, que nem às minhas cartas respondem?". Por um momento, sinto-me o "culpado" de todos os males que afligem a nação lusa. Também eu sou um estrangeirado e, como ele, não percebo esta mentalidade tacanha que nos castra há séculos.
Na viagem de regresso, constato que sou o único passageiro do bimotor português. De facto, quem quer viajar para este lado da fronteira? Penso nos últimos dias passados em terras de fraternidade e em Xabier, casado com uma portuguesa, que me confidencia ser em Portugal que tem o seu retiro espiritual. Sempre que está "em baixo", faz uma cura portuguesa. Proponho-me trocar com ele. Quem sabe, podíamos resolver desta forma a nossa inquietação.
À noite, no nosso CCB, enquanto Amélia Muge canta "Eu levo una pena" de Rosalia de Castro, confirmo que a língua continua a ser a nossa pátria comum. Por momentos, "volto" à Galiza. Se calhar, nunca de lá saí...

2 comentários:

Refúgio disse...

Olá Rui, como vai a vida na península? Estamos nos organizando para ir a Portugal em meados de junho. Você estará por aí?
Abraços

Rui Mota disse...

Olá Makely,

Sim, vou estar por aqui. Telefone ou escreva, quando vier.
Abraços,

RM