2011/03/23

Ditadura de pantufas (1)

Ninguém com um mínimo de senso imagina que a crise que nos bate agora é resultado de algo que aconteceu há meia dúzia de dias. A dívida e a estagnação da economia, tal como Roma e Pavia, não foram feitas num dia.
Na falta de acesso directo aos números, às estatísticas e às inúmeras análises sérias produzidas ao longo dos tempos, todos puderam, pelo menos, suspeitar que a linha do endividamento se ia empinando perigosamente e de que, tendo em conta a inexistência de medidas sérias para combater a estagnação e falta de competitividade da economia, a coisa iria acabar mal. As fúrias do Medina Carreira tiveram, pelo menos, essa virtude de permitir ver muitos gráficos onde se podia ler claramente a crise.
Repito: deixámos com a nossa atitude indiferente e leviana que o recurso à dívida se tornasse a regra de ouro da economia portuguesa e tolerámos todos esta economia de subsistência em versão delux em que temos vivido até agora.
Quando vejo o modo como muitos exultam tão facilmente com a demissão do primeiro ministro nestas condições, receio que estes (quantos?) se estejam a esquecer de que o que se passou hoje não nasceu ontem. A memória é curta e a arte da retórica tem palavras com asas...
O país está assim dependente do maior ou menor grau de amnésia de uns quantos dos nossos compatriotas. Só poderemos exultar de facto com eleições quando tivermos a certeza que os nossos compatriotas esqueceram a amnésia...

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