Os bombardeamentos, iniciados este fim-de-semana contra as tropas de Kadhafi, com o fim de criar o que, eufemisticamente, alguns apelidam de "no fly zone", começa a apresentar semelhanças preocupantes com a guerra do "Golfo" de 1991.
Se é verdade que Kadhafi, há muito tempo um pária na cena internacional, não respeitou o cessar-fogo acordado com a ONU e continuou a bombardear a população civil, exponde-se assim a sanções militares, também é verdade que o "Ocidente" esperou um mês para "ver" e, só agora, resolveu intervir.
Diversas leituras, sobre esta guerra, são possíveis. A primeira, é a falta de unânimidade no Conselho de Segurança, sobre as medidas a tomar. Como é sabido, a China e a Russia opõem-se a qualquer tipo de intervenção. A segunda, é a posição dos EUA, fragilizado com duas guerras em curso (Iraque e Afeganistão) e a falta de apoio interna para novas aventuras militares. Finalmente, os interesses da UE na região, uma vez que grande parte do petróleo líbio é consumido pelos europeus. Provavelmente, as potências ocidentais preferiram esperar que Kadhafi caísse como os seus homólogos da Tunísia e do Egipto para, depois, poderem negociar com novos governantes.
A justificação apresentada pela coligação "aliada" para a criação de uma "no fly zone" - motivo humanitário - é parcialmente verdadeira, mas não totalmente transparente, se olharmos com atenção para o que se passa na zona em conflito. Enquanto as manifestações populares contra os regimes ditatoriais do Ièmen e do Barhein são btutalmente reprimidos pelos autocratas locais, estes mesmos governantes apoiam as sanções contra Kadhafi. Basta pensar na Arábia Saudita, o maior aliado dos EUA na região e apoiante dos "aliados", que invadiu o Barhein e o Iémen a semana passada em apoio dos sultões locais, para reprimir as populações revoltadas. Ou seja, mais do que a tão publicitada ajuda humanitária, a coligação "aliada" está preocupada com as revoltas no mundo árabe que podem atingir à Arábia Saudita (o maior produtor mundial de petróleo) e o Barhein (onde está fundeada a V esquadra morte-americana). Não deixa de ser irónico que, duas das maiores ditaduras da região, integrem as forças "aliadas" que actualmente bombardeiam outro ditador. Ou não serão todos ditadores?
É esta falta de coerência nas forças da coligação que lhes tira qualquer razão moral para actuarem de forma diferente em situações idênticas. Uma farsa, em suma.
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