foto Valter Abrucez |
Não, o que me intrigou foi ouvir aquele "meus caros portugueses" (ora leia aqui), com que pontuou a sua homilia de ontem. Quando o ouvi dizer aquilo pensei: "meu?" Eu sou "dele"? "Caro?" Como poderei ser "dele," como poderei eu ser-lhe "caro" e, ao mesmo tempo, como pode ele fazer-me, fazer-nos, uma desfeita destas? Aquilo soava-me estranho.
Depois percebi. Momentos antes, em tom de "tem que ser, sou eu que mando" o doutor Coelho tinha feito uma dessas pontuações com um formal, autoritário e assertivo "Portugueses." Momentos mais tarde, muda o registo, hesita e parece tentar amenizar o discurso, introduzindo nele um tom mais tu-cá-tu-lá. Caros, meus!?
Uma interpretação possível é a do português Coelho se comportar como um qualquer dignitário estrangeiro, de visita, a tentar defender os seus interesses. O premier chinês ou o presidente angolano, de visita a Portugal para inspeccionar a colónia, usariam porventura a fórmula "meus caros portugueses"... Do PM português perceberia "meus caros concidadãos," admito o institucional "Portugueses," mas, "meus caros portugueses"? Por que se permite este safardana tais familiaridades?
Seja como for, nem quando pretende soar assertivo e institucional nem quando pretende fazer o número do buddy-buddy, Coelho convence. O que me intriga em tudo isto é ouvir, como ouvimos ontem, no meio de muita gente irada, é certo, gente que ainda defende esta política e culpa o anterior governo pela situação actual.
Esta gente esquece que o primeiro ministro disse, ele próprio, que não se iria escudar nesses argumentos. Esquece que o problema a resolver é a situação do país, não as culpas do actual anterior governo. Esquece que a situação do país está pior do que estava antes.
São eles o sustentáculo destes miseráveis, é a esses vermes, que cada vez mais me incomodam, que devemos, nesta altura, pedir contas.
3 comentários:
De Sábado, Setembro 08, 2012, foto de Valter Abrucez
Aparece uma fotografia com a imagem de uma jovem rapariga sustentando um cartaz que exibe as seguintes palavras: “UM POVO QUE ELEGE CORRUPTOS NÃO É VÍTIMA, É CÚMPLICE”.
Ora, Ora!... Já não sei muito bem se a menina jovem é ela própria cúmplice, mesmo que inconsciente, ou apenas distraída. Neste caso mais vale que se distraia a arremendar as peúgas dos membros de sua família. É que essa mesma ideia nem é nova e pretende apenas educar e fazer incutir no espírito de todos aqueles mais distraídos sobre o princípio da desresponsabilização dos políticos, justamente aqueles actores que cometerem o acto do incumprimento de todas ou de alguma das suas promessas eleitorais, porque sabemos nós muito bem, que nenhum desses senhores confessa ou divulga por antecipado, em plena Campanha Eleitoral, algo daquilo que os eleitores não gostariam de ver implementado. Por outro lado o Povo, ou seja, os eleitores, só poderão votar, por contingência política do próprio Sufrágio Universal implementado e inerente ao Regime Democrático vigente, nos partidos existentes e naqueles que os representam. Mas acreditam ou procuram acreditar, fundamentalmente, naquilo que, em períodos de campanha eleitoral, lhes é dado acreditar; Não se tratam, afinal, de pessoas de bem, eles, os políticos?
Como pode então vir alguém à Praça Pública proferir tamanha parvoíce por seu próprio pé e que se vem repetindo desde já à muito tempo a esta parte?
Está a sugerir então que os políticos declarem os actos corruptos em que estão envolvidos quando se candidatam, ou que a gente esqueça que políticos comprovadamente corruptos são tantas vezes premiados com novo mandato mesmo depois de se conhecerem as suas habilidades? Confesso que não percebo.
Como também não percebo esta do comentário anónimo. Asseguro que é o último...
Esclarecimento.
Referi-me simplesmente, de forma crítica, à tentativa sistemática de culpabilizar o eleitorado dos males que os governantes têm vindo a acometer ao tecido social, passando-se assim dessa forma, implicitamente, a desresponsabilizá-los. O problema aqui alarga-se ao próprio sistema judicial que de há muito todos sabemos quase não funcionar em Portugal. Os acusados dizem ser vítimas de alguma cabala e a população já não sabe em que acreditar, acabando finalmente por receber a bênção da propaganda...
Quanto ao comentário anónimo, faça o que quiser; É apenas uma das opções disponíveis que sempre poderá retirar.
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